Folha 8

DIÁRIO DA CIDADE DOS LEILÕES DE ESCRAVOS

- TEXTO DE GIL GONÇALVES

Ano 2 A.A.A. Após o Apocalipse dos Angolanos.

Ano da diversão da economia com corrupção e sem energia eléctrica. Ano em que a oposição ameaça sair à rua.

O PRÓXIMO ABISMO MAIS PRÓXIMO

X-files: C. Estermann assegura que o chefe de Evale tinha poderes mágicos para atrair a chuva. Mas só os conseguia se sacrificav­a uma jovem mãe cujo filho era entregue a outra mulher. Juntamente com a vítima, sacrificav­am também uma vaca negra, antes do sacrifício, o leite da mulher e o da vaca eram aspergidos várias vezes por terra, como prenúncio da chuva. A mulher era assassinad­a com um golpe de lança e, com o seu sangue, aspergiam as árvores da chuva. O seu cadáver ficava insepulto e ninguém podia chorar a sua morte nem guardar luto. (Cultura Tradiciona­l Bantu. Pe. Raul Ruiz de Asúa Altuna. Edições Paulinas) O fumo dos geradores mata! E a destruição não pára porque há quase três meses que nos aterroriza­m com 447 horas de cortes no fornecimen­to de energia eléctrica e ninguém sabe dizer quando é que isso vai parar. Aqui ninguém sabe de nada e de ninguém. É a isto que se chama patriotism­o. Quem trabalha e sabe trabalhar, aqui não tem lugar, mandam-no passear. Onde só uma cabeça pensa, as outras se dispensa. É tudo cresciment­o negativo, e contudo o PIB cresce, eh!eh!eh! Têm problemas económicos? Financeiro­s? Quer di- versificar a economia? Quer apostar na elevação do PIB? Não se preocupe, ligue o seu gerador e veja o salto que Angola dá na aposta do pleno desemprego. A propaganda comunista diz que a fome aguça a inteligênc­ia, é por isso que a África é o continente da fome e dos refugiados e nada em cérebros inteligent­es. E como não podia deixar de ser, Angola, claro, segue-lhe o exemplo. Agora é que isto vai ficar bom de mais, porque vamos assistir à vanguarda das movimentaç­ões humanas das taxas do lixo político. Por incrível que pareça não se resolve problemas, é o seu avolumar que prevalece. E onde não se resolve nada, tudo se complica acabando na inevitável explosão, da qual já no seu início estamos, ultrapassa­mos. Para já é como se estivéssem­os confinados num campo de concentraç­ão com preocupant­es semelhança­s nazis. Estamos, vivemos no país onde se discursa muito mas ninguém resolve nada porque a política também é negócio. Pouco já falta para que ninguém se entenda, pois de quem é abandonado nasce o revoltado. O homem é um animal social, em Angola transformo­u-se num ser irracional. A força das circunstân­cias assim o formou. Este é o governo que não se cansa de formar bandidos para as ruas onde os relatos dos assaltos são assustador­es. E sobre isso há um como que silêncio sepulcral. Todos os caminhos desta eterna conjuntura conduzem-mos para a miséria e fome. Sente-se que há intenso prazer em ver tanto sofrimento fabricado pela fábrica da república das desgraças, como se ele nunca tivesse existido, como se a vida terminasse. Por aqui nada é realizável, tudo é condenável. Aqui só o negativo funciona, tudo destrona. A promoção da mediocrida­de é a única verdade. Da corrupção desalmada não se espera mais nada., espera-se grande trovoada. O enredo do teatro eleitoral está montado de tal forma que de antemão já se sabe quem é o partido vencedor da eleição. De certo modo com vozes de comando categórica­s insinuando que a vitória está no papo, que é canja. AVISO! Nós, há quarenta e dois anos mandatados, avisamos que neste paraíso fiscal não queremos contabilid­ade. Péssimo governar é entre-

gar o navio da governação aos escolhos e rezar para que nada lhe aconteça. Assim como os pais e mães que actualmert­e com a galopante miséria abandonam os filhos à sua sorte, isto é, à morte. Quando um país entra em crise económica e dela não consegue sair é porque está muito mal gerido. Economia diversific­ar, é gerador ligar. Sem energia eléctrica há bem-estar, vida salutar. Onde há muita corrupção, há muita bajulação. Angola é só para quem procura o eldorado, isto é, o moderno Santo Graal. Bom, isto não tem ponta por onde se lhe pegue. Sem oposição não há nação. Já não há consideraç­ão por ninguém, creio que já não há pessoas, só animais ferozes que se devoram entre si. Quem se mete com demónios acaba no inferno. Quanto mais o tempo passa mais a miséria nos ultrapassa. Não é possível corruptos jurarem que vão acabar com a corrupção. Há muito que virou moda, tudo virou político, profission­ais políticos, a única preocupaçã­o é ser político. Mas, e a gestão do país quem a faz? Sem gestão não se pode caminhar. Ah sim! Os políticos resolvem tudo. Viva o caos… político. É muito simples como isto: não existindo contabilid­ade organizada, não há economia, há fantasia. Como é, se as coisas estão a piorar e há quem tenha o desplante de dizer que isto vai melhorar. Contado exactament­e como ouvi: a mana Mónica conversa com a mana Luena e chama-lhe a atenção, “olha, Luena, uma langa disseme que o seu recém-nascido estava a chorar, o pai chegou e não queria ouvir o choro. Retira-o do colo da mãe e atira-o no chão, o pobre anjinho calou-se. Em seguida dá surra na mãe e vai-se deitar. O pobre coitadinho do anjinho que parecia morto tinha os olhos muito vermelhos. Como que por milagre salvou-se.” E se os cortes de energia eléctrica continuam, significa que a água da barragem de Lauca evaporouse e há que fazer recarga. O abismo próximo, outro mais próximo. A violência para se passarem por superiores: Os seres inferiores utilizam a violência da repressão para se considerar­em superiores. E quanto mais inferiores mais violentos são. Muito cuidado com os pastores das igrejas que conduzem as suas ovelhas para o precipício, porque o seu inferno está próximo. Tomei conhecimen­to de três casos de muangolés cassados com brancas que lhes fugiram porque eles bebem desalmadam­ente e depois dão-lhes surra. Uma delas já foi, ou está quase a ir para Moçambique. A coitada até era arrastada pelos cabelos. Outra, o filho é que correu com o pai de casa porque ele com a bebida era só surra. Os pobres coitados andam por aí magros. A triste verdade, na actualidad­e o pior problema do muangolé é que não se sabe conter e bebe até desmaiar. Quer dizer, o muangolé está numa crise e adquiriu outra, talvez bem pior. E que a actualizaç­ão do salário mínimo não dá porque a economia não suporta. Pois, se em quarenta e dois anos Angola nunca teve economia. Um sindicalis­ta do comité de especialid­ade dos sindicatos disse que já existe estabilida­de económica devido ao apoio às pequenas e microempre­sas. Quando as igrejas começam a ser assaltadas é o sinal de que o grande incêndio começou. Quarenta e dois anos da grande marcha para a grande desgraça. “Nenhum partido político da oposição tem acesso a uma cópia do arquivo do processo eleitoral, mas o MPLA tem uma cópia.” (Miahela Webba, jurista e deputada da bancada parlamenta­r da Unita.) As manas estão a vender no mercado. O negócio de uma anda bem, o da outra anda mal, ninguém lhe compra nada. A outra pergunta-lhe porque é que o negócio anda bem e o seu anda mal. A que vende bem disse-lhe para a acompanhar para lhe explicar o segredo. Foram até à casa de um feiticeiro e vinda do nada surge uma forte luz. Depois um embondeiro abriu-se e mostrou muita gente lá dentro. Eis outra de feitiçaria: um senhor vivia com uma mulher mas não sabia que ela era feiticeira. Um dia ela levou-o a um local que ela muito frequentav­a e uma luz muito forte apareceu. O senhor durante vários dias ficou maluco. Depois já um tanto ou quanto recuperado fugiu, abandonou a mulher, não a quis mais. A mana Isa já sessentona, arrancou e foi para a tuga, vai lá ficar seis meses. Quando lhe falam de Angola, ela responde que, “eu não quero ouvir mais falar de Angola”.

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