Folha 8

DIÁRIO DA CIDADE DOS LEILÕES DE ESCRAVOS

REPÚBLICA DAS TORTURAS, DAS MILÍCIAS E DAS DEMOLIÇÕES

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Ano 2 A.A.A. Após o Apocalipse dos Angolanos. Ano da diversão da economia com corrupção e sem energia eléctrica. Ano em que a oposição, a UNITA, fez manifestaç­ão. Porque até hoje nunca se fez uma manifestaç­ão contra a corrupção?

“NADA IMPORTANTE ACONTECEU HOJE.”

O rei Jorge III foi rei de Inglaterra quando os EUA declararam a independên­cia em 1776. Anotou no seu diário que em 4 de Julho de 1776. “Nada importante aconteceu hoje.” X-files: Os membros da sociedade «Jindungo», Cabinda, foram, na sua origem, agentes secretos do rei do Congo. Recolhiam informaçõe­s, denunciava­m os abusos dos poderosos e faziam abortar qualquer intento de revolta. Cobravam também as dívidas, apresentan­dose mascarados na casa do devedor. (Cultura Tradiciona­l Bantu. Pe. Raul Ruiz de Asúa Altuna. Edições Paulinas) Desgraça, escravidão, miséria e fome, a ementa desta tragédia pronta a servir que nos consome. Mais um sinal da tragédia: o bispo do Caxito, arredores a norte de Luanda, D. António Jaka, deu a entender na Rádio Ecclésia no dia 02/06/17, que a cidade de Caxito está abandonada pelo governo. É uma grande tragédia porque só se fala e ninguém faz nada. Mas porque não se faz manifestaç­ão contra a grande tragédia? Como que vinda do nevoeiro cerrado a grande tragédia aproxima-se. Quando os democratas de fingir forem obrigados a fugir, então Angola terá paz, democracia e desenvolvi­mento social. “Cuidado com os lobos, vão-te devorar.” 28/05/17, um amigo convidou-me para beber uns finos numa esplanada algures no Miramar. Ao sairmos do carro somos abordados por duas crianças com cerca de oito anos. Não têm ar dessas crianças abandonada­s na rua porque apesar de estarem de tronco nu, estão vestidas de calças e chinelos em boas condições. Portanto não estão mal vestidas e o cabelo está penteado, não apresentam ar de abandono. Uma delas fala que a mãe lhes mandou pedir esmola porque não tem dinheiro para lhes comprar comida. Noto que as crianças falam verdade. Queria dar-lhes algum dinheiro mas estava liso, já há sete anos que ando sempre nisso, sem lisura nem transparên­cia. Peço socorro no meu amigo se tem alguma moeda de cem kwanzas mas ele disse-me que não. Entretanto as crianças seguemnos convictas de que conseguirã­o alguma coisa para comer, mas um segurança impede-lhes a caminhada e as coitadas correm em debandada. Depois fiquei a refletir que esta cidade é como um mundo-cão, um campo de concentraç­ão. Só loucos é que se deixam dominar por outros loucos ou loucas. Quem não pensa no dia de amanhã está f.o.d.i.d.o. Aconteceu no Zimbabué: um pastor arrastou os seus fiéis para veremno a caminhar sobre as águas como Jesus. Para isso preparou-se durante uma semana onde orou intensamen­te dia e noite. Na margem do rio onde se preparava para caminhar, alguns crentes advertiram-no que o rio estava cheio de crocodilos. Mas insensível aos apelos dos crentes iniciou a sua caminhada. Logo foi engolido pela água, afogando-se. Três crocodilos atacam-no e pouco depois viam-se na superfície restos das suas roupas interiores e o resto da camisa. Alguns têm dinheiro para comprar relógios de quinhentos mil dólares, outros, milhões, não têm dinheiro para comprar comida. Isto é, nem a fome se pode comprar. Se não parece é, refiro-

me à espécie de extermínio que está em curso porque constantem­ente os vizinhos e outras pessoas falam-me que a irmã, a tia, o irmão e outros familiares faleceram. A última foi de uma amiga que disse que a sua irmã faleceu no Lubango por falta de uma transfusão de sangue. Não parece mas isto está mesmo um morticínio. A corrupção é a bandeira desta nação. A corrupção não manda, comanda. O Robim dos Bosques continua a fazer muita falta porque um vizinho pagou dez mil kwanzas, agora é assim com todos viva a Idade Média, para pagar as taxas do lixo que sustentam a corrupção, de Janeiro a Abril de 2017, sob a ameaça de que se não pagar não aceitam o pagamento da recarga da energia elétrica. Angola atingiu o auge da tragédia porque sem energia eléctrica não se consegue trabalhar. O tecido empresaria­l está descosido, desemprego, não há dinheiro, há-o para alguns, a bancarrota é visível, o caos económico é um facto consumado. Miséria e fome são as palavras de ordem que perseguem o exército de famintos. Isto que está a ser feito é para provocar a instabilid­ade social, tumultos e os inimagináv­eis assaltos. Mas que grande tragédia. A promiscuid­ade é impression­ante, ainda se está muito além. Empresário­s do petróleo que sem ele não são ninguém. Divisa do muangolé: Não te preocupes com a vida, ela é que tem de se preocupar contigo. No dia em que alguém em Angola se preocupar com o intelecto das pessoas, os que trabalham e sabem trabalhar, Angola irá avançar. Até lá é esperar no recuar. Por aqui continua tudo ao contrário: semear para depois colher, não, é colher para depois semear. Dos erros do passado ressurge a violência no futuro. O problema não é as eleições. O problema é o votar no partido político que cumpra o que pro- mete. O viver na actual conjuntura obriga-nos a muitas preocupaçõ­es desnecessá­rias. E isso dános cabo da vida. É uma espécie de terrorismo social. Continuo sem entender porque é que as igrejas intervêm nas eleições. Creio que elas actuam como partidos políticos. Quer dizer que não há separação entre o estado e as igrejas? Como se todos comessem no mesmo prato. Também isto é tragédia. E está perigoso ficar ou andar na rua porque há quem se acompanhe de cães grandes muito perigosos, e as crianças são sempre as vítimas preferenci­ais. Se o peso da lei, coitada ela está cada vez mais leve, não se faz sentir sobre tal gente é porque são membros do comité de especialid­ade dos cães perigosos. Ao renegar o acorde de Paris sobre as alterações climáticas, Donald Trump não vai criar mais empregos, como o reabrir de minas de carvão, não, vai é encher os hospitais de doentes. Criar um mundo de moribundos em nome do dinheiro. Pelo que se depreende das actuais reuniões com os chineses, pretende-se que eles entreguem dinheiro tipo de mão-beijada, façam tudo através das suas empresas e os muangolés, como sempre, não fazem nada? Isto cheira a grande tragédia não é? Tudo se define assim: quem está no poder há mais de quarenta anos, tudo fará para dele não sair, e como é evidente muita violência vai vir. É a isto que se chama também de grande tragédia. Pelo prato do dia que nos é assiduamen­te servido, fico com o pressentim­ento de que as eleições não se realizarão. Digo isto devido à confusão diária que se instalou na arena eleitoral. As dúvidas não param, acumulam-se, até agora nenhu- ma se solucionou. E isso é motivo bastante para o descrédito que se sente. É o retorno forçado às eleições de 2012? Se for, então teremos o principal capítulo da grande tragédia. Os partidos políticos da oposição apontam as fraudes, a UNITA já iniciou uma manifestaç­ão contra, diz que fará mais, inclusive uma chuva de manifestaç­ões, nas creio que isso ficará como a última reivindica­ção verificada com a nomeação da mana Isabel para o cargo da presidênci­a da Sonangol. Tantas manifestaç­ões judiciais se fizeram e deu, como esperado, em nada. Os mentores, segundo parece indicar, espero estar errado, cansaramse ou desistiram. Com as manifestaç­ões contra a fraude eleitoral acontecerá o mesmo, se tal acontecer isso é como evocar a grande tragédia. Entretanto já há relatos que as Faa-forças Armadas Angolanas travam combates com as milícias da RDC.

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