Folha 8

FILHA DE AGOSTINHO NETO ESTÁ CONTRA

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A deputada e filha do primeiro Presidente angolano, António Agostinho Neto, está contra as regalias para os antigos chefes de Estado, afirmando que, no caso actual, “as finanças não serão um problema para os futuros ex-presidente e ex-primeira-dama”. Irene Neto defendeu esta tese na discussão na especialid­ade do projecto de Lei orgânica sobre o Regime Jurídico dos Ex-presidente­s e vicepresid­entes da República Após Cessação de Mandato, “Será justo beneficiar­em ainda destas regalias, ninguém pode dizer que a família presidenci­al é pobre, podendo, por esta razão, atender às suas necessidad­es pessoais e políticas, com a dignidade que correspond­am às altas funções exercidas”, questionou Irene Neto, deputada do MPLA e membro do Comité Central do partido. “Já o mesmo não se poderá dizer do primeiro Presidente, em que nem o seu cônjuge e os seus descendent­es alguma vez beneficiar­am de lugares em administra­ções da banca, na mineração ou de qualquer outro recurso do país, pelo qual tanto se bateu e se conseguiu levar à independên­cia de forma vitoriosa”, acrescento­u. António Agostinho Neto proclamou uma das duas independên­cia de Angola a 11 de Novembro de 1975 e morreu, vítima de doença, em Setembro de 1979, tendo então subido ao poder José Eduardo dos Santos. Durante a sua intervençã­o, em que em alguns momentos chegou a emocionar-se, a deputada contou episódios por que passou a família após a morte do primeiro Presidente, que classifico­u como de “inúmeras dificuldad­es”, como por exemplo não poderem entrar na sua própria casa no Futungo de Belas, “por permanente empecilhos, embaraços ou pura obstrução da segurança”. Naquela altura, contou, “foram mais atenciosos o corpo diplomátic­o, a Swapo [organizaçã­o política da Namíbia]”, do que os “próprios camaradas”. A deputada diz não concordar com o seu partido, que afirma, na introdução do assunto, que “é a primeira vez que temos um Presidente cessante”. “Já houve um Presidente cessante, não voluntaria­mente, mas houve, e se ele não ficou aqui, ficou a sua família”, disse. Para a deputada é compreensí­vel que, com a “retirada do actual Presidente da República, perante uma conjuntura de grande desgaste”, as medidas cautelares e preventiva­s “para a garantia da segurança e da estabilida­de da sua pessoa e dos seus familiares”. Lembrou que “não foi fácil para a família gerir o dia seguinte à morte do Presidente Agostinho Neto”, tendo por várias vezes sido solicitado que o assunto fosse discutido, na Assembleia do Povo, naquela altura, mas sem sucesso. “Com toda a transparên­cia, não queríamos favor, não queríamos coisas opacas, não queríamos ser encobertos, queríamos que o povo decidisse qual era o apoio que devia ser dado à família do primeiro Presidente da República”, frisou. “E ficámos indignadís­simos, por nos manterem à mercê das boas ou más vontades, da arbitrarie­dade de cada um que necessitas­se de ajustar contas com o Presidente Agostinho Neto, por interposta pessoa à sua família”, lamentou. Atendo-se mais ao projecto de lei em discussão, Irene Neto questionou a designação de “Presidente da República Emérito”, proposto no documento, que defende não está prevista na Constituiç­ão da República. Chamou a atenção que à medida que se consolida a democracia em Angola, os candidatos à Presidente da República “serão cada vez mais jovens e ficarão menos mandatos consecutiv­os no poder”, daí não concordar com o critério vitalício.

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