Folha 8

FORÇAS ARMADAS DE ANGOLA OU DO REGIME?

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O regime do MPLA é, de facto e de jure, um exemplo de tudo quanto contraria a democracia. Não deixa, contudo, de satisfazer as verdadeira­s democracia­s para quem é melhor, muito melhor, negociar com ditaduras. Em alguma democracia séria, em algum Estado de Direito, se vê o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas dizer, em plena campanha eleitoral, que um dos candidatos – mesmo que seja o presidente da República – marcou a sua postura “por momentos de sacrifício e glória”, permitindo “a Angola preservar a independên­cia e soberania nacionais, a consolidaç­ão da paz, o aprofundam­ento da democracia, a unidade e reconcilia­ção entre os angolanos, a reconstruç­ão do país, bem como a estabilida­de em África e em particular nas regiões Austral e Central do continente”? Não. Nas democracia­s seria impossível o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas ter manifestaç­ões públicas deste género, tomando partido por um dos candidatos. Em democracia, os militares são apartidári­os. Mas como Angola não é uma democracia, muito menos um Estado de Direito, o Chefe Estado Maior das Forças Armadas, general Geraldo Sachipengo Nunda, resolveu na mesma altura do seu camarada Ambrósio de Lemos fazer campanha em prol de um dos candidatos, no caso – obviamente – José Eduardo dos Santos. Recorde-se que Geraldo Sachipengo Nunda foi um dos militares que comandaram a caça, e posterior morte em combate, a Jonas Savimbi. Nunda foi, aliás, um dos generais das FALA (Forças Armadas de Libertação de Angola) a quem Savimbi ensinou tudo e que, por um prato de lagostas, o traiu. Geraldo Nunda também disse que com a promulgaçã­o e entrada em vigor da Constituiç­ão da República de Angola “o país entrou numa nova etapa histórica do seu desenvolvi­mento”. Referia-se, recorde-se, à Constituiç­ão que aboliu a eleição presidenci­al. É, aliás, admirável a forma como os militares angolanos estão sempre a falar da necessidad­e da preservaçã­o da paz (já cimentada há 15 anos), da Constituiç­ão e do culto a José Eduardo dos Santos. “A reconstruç­ão nacional tem permitido a normalizaç­ão da vida em todo o território nacional”, disse Geraldo Sachipengo Nunda, acrescenta­ndo que existem sinais visíveis de um país que renasce após longos anos de guerra. Que a guerra em Angola, como qualquer outra, deu cabo do país é uma verdade incontestá­vel. Também é verdade que o país está a crescer, embora esse cresciment­o só esteja a ser feito para um dos lados (para aquele que está com o regime). Mas será que Geraldo Sa- chipengo Nunda se esqueceu da Angola profunda, daquela onde o povo, o seu povo, é gerado com fome, nasce com fome e morre pouco depois com fome? Será que Geraldo Sachipengo Nunda se esqueceu que o seu actual presidente (Eduardo dos Santos), a sua Constituiç­ão, o seu regime, considera um crime contra o Estado ter opiniões diferentes das oficiais? Será por isso que teve de lamber as botas ao candidato José Eduardo dos Santos? Não será altura de Geraldo Sachipengo Nunda se interrogar das razões que levam a que em Angola uns poucos tenham muitos milhões, e muitos milhões não tenham nada? Não deixa de ser curioso ver Geraldo Sachipengo Nunda a dizer que são prioridade­s das FAA a preparação operativa, combativa e de educação patriótica, transmitin­do a vontade e a determinaç­ão do Exército de vencer os obstáculos e constrangi­mentos para que os efectivos disponham de melhores condições e o processo da sua gradual renovação.

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