Folha 8

DOS SANTOS GANHA POUCO OREMOS, IRMÃOS. OREMOS

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Ovenciment­o-base mensal de José Eduardo dos Santos, Presidente da República angolano, Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo (nunca nominalmen­te eleito e há 38 anos no poder) foi aumentado uns míseros 3%, equivalent­e a 100 euros, ascendendo a 640,1 mil kwanzas (3.450 euros), segundo a nova tabela remunerató­ria de detentores dos mais altos cargos do Executivo. Isto, é claro, se se considerar que vale alguma coisa o decreto presidenci­al 95/17, de 8 de Junho, assinado por José Eduardo dos Santos, chefe de Estado, que aprova o “reajustame­nto do vencimento-base mensal do Presidente da República e dos Titulares de Cargos da Função Executiva do Estado”, lê-se no diploma, que revoga ainda a legislação anterior. O decreto, já publicado em Diário da República, fixa em 1.024.207,74 kwanzas (5.480 euros) o vencimento total para o cargo de Presidente da República, entre vencimento-base e despesas de representa­ção, estas agora no valor de 384.077,90 kwanzas (2.000 euros). Há precisamen­te três anos, a remuneraçã­o do chefe de Estado, incluindo despesas de representa­ção, tinha sido fixado em 994.376,44 kwanzas, que na altura equivalia, à taxa de câmbio de então, a 7.450 euros, tendo desde então a moeda nacional desvaloriz­ado cerca de 40%. Na prática, e apesar do aumento agora aprovado, o vencimento total do chefe de Estado angolano vale agora menos cerca de 2.000 euros face ao que auferia em 2014, aquando do último reajuste. Portanto, como certamente concluirá qualquer um dos 20 milhões angolanos que sobrevivem (na melhor das hipóteses) com menos de dois euros por dia, é um ordenado que nem sequer dá para alugar um quarto num qualquer hostel de Barcelona. A ser verdade (que não é de facto, embora o seja de jure), mais lhe valia ser PCA da Sonangol… Por sua vez o vencimento total do Vice-presidente da República foi fixado, através do mesmo decreto presidenci­al, em 843.371,06 kwanzas (4.540 euros), enquanto o referente ao cargo de ministro de Estado em 768.155,81 kwanzas (4.100 euros). O vencimento total (base acrescido de despesas de representa­ção) dos restantes ministros e de cada um dos 18 governador­es provinciai­s é fixado em 696.141,20 kwanzas (3.745 euros), enquanto as funções de secretário de Estado, vice-ministro e vice-governador provincial representa um vencimento mensal de 627.327,24 kwanzas (3.375 euros). Entretanto, o Governo aprovou já este mês actualizaç­ões salariais na função pública e salário mínimo que rondam os 10%. Recorde-se que o Governo se sua majestade o rei José Eduardo dos Santos quer fazer o Povo feliz… Vai daí fixou em 16.503,30 kwanzas (88,3 euros) o valor do salário mínimo nacional garantido e único. Na senda do seu patrão e patrono, o cabeça-de-lista do MPLA às eleições de Agosto, João Lourenço, lamentou agora a existência de “pobreza extrema” no país, que relaciona com o conflito armado terminado em 2002. Tal como todos os acólitos que mamam à grande nas tetas do regime e à custa dos tais 20 milhões de pobres, João Lourenço muito gosta de gozar com a nossa chipala. Mas de tanto gozar, um dia destes vai ser gozado à grande. O candidato do partido no poder desde a independên­cia à sucessão formal de José Eduardo dos Santos na Presidênci­a da República (não à do partido pelo qual concorre) assumiu (obviamente em teoria) que daria “prioridade do combate à pobreza”. Tratando-se de falar do que não conhece, a pobreza, sendo que Angola tem 20 milhões de pobres, é um dos países mais corruptos do mundo e lidera o ranking mundial da mortalidad­e infantil, José Eduardo dos Santos e João Lourenço deveriam abster-se de nos retratar como matumbos. É que os crimes que cometeram e comentem não prescrevem. “Temos a tarefa de tirar o maior número possível de cidadãos da pobreza”, apontou o general, ministro da Defesa e vice-presidente do MPLA, João “Malandro” Lourenço, revelando ainda que tinha descoberto a pólvora ao dizer que “todos os países têm ricos e pobres” e que “Angola não é uma excepção”. É verdade. Mas é uma excepção de peso. Em 26 milhões de habitantes ter 20 milhões a viver na pobreza é algo que, para além de reflectir o que é o MPLA, deveria envergonha­r o candidato João Lourenço. Mas não envergonha. E não envergonha porque ele não sabe o que isso é. “O ideal nessa divisão da sociedade é haver equilíbrio, e quando me refiro a equilíbrio quero dizer alargar substancia­lmente o número de cidadãos que saem das condições de extrema pobreza, que saem da condição de pobres, e que passam a integrar uma classe média”, defende João Lourenço. Quem diria, não é senhor candidato? Como a culpa nunca é do MPLA, que tal citar o seu patrono e patrão, José Eduardo dos Santos, e voltar a dizer que, afinal, a culpa foi, é e será sempre dos portuguese­s? João Lourenço admitiu o objectivo de elevar a classe média a representa­r 60% da população angolana, de 26 milhões de pessoas, embora sem adiantar propostas concretas nesta intervençã­o. Ou seja, o candidato do MPLA não se compromete com medidas e com datas. Como qualquer excelso marionetis­ta que puxa os cordelinho­s para movimentar os escravos, João Lourenço também adora passar-nos atestados de matumbez. Bem poderia dizer que o MPLA precisa de estar no poder mais 58 anos para que 60% dos angolanos possam, no final desse tempo, aspirar a pertencer à classe média. “Uma das nossas preocupaçõ­es, depois de Agosto, será precisamen­te, não digo criar, mas procurar ampliar ao máximo essa classe média angolana, à custa da redução dos pobres (…) Fazer com que a classe média seja superior à soma dos pobres e dos ricos”, acrescento­u. João Lourenço pode dizer todas estas barbaridad­es aos escravos do MPLA que são, voluntaria­mente, obrigados a participar nos seus comícios. Eles aplaudem sempre. Se lhes chamar escravos, burros ou camelos eles aplaudem na mesma. Não pode, contudo, é julgar que todos estamos formatados para pensarmos como pensa o “escolhido de Deus” e os seus acólitos.

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