Folha 8

OBIANG E EDUARDO DOS SANTOS TUDO OS UNE, NADA OS SEPARA

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AHuman Rights Watch (HRW) disse na semana passada num relatório que tem provas de corrupção na família do Presidente da Guiné Equatorial e salienta que o país tem pouco tempo para usar o dinheiro do petróleo para combater a pobreza. Corrupção? Reconheça-se que Teodoro Obiang Nguema Mbasogo está, contudo, abaixo do nível do seu homólogo e amigo José Eduardo dos Santos… “A HRW encontrou provas de que os principais dirigentes do Governo têm interesses em empresas públicas que recebem contratos de construção, incluindo o Presidente e a sua família”, lê-se no relatório sobre a Guiné Equatorial, divulgado em Paris. Se se substituís­se o nome do país, Guiné Equatorial, por Angola, ninguém notava a diferença. No documento de 85 páginas, o primeiro da HRW feito esta década sobre o mais recente membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a autora, Sarah Saadoun, escreve que “o subfinanci­amento da saúde e educação mostra um contraste gritante com os gastos extravagan­tes em projectos de infra-estrutura em larga escala, muitos dos quais têm uma utilidade social questionáv­el e arriscam potenciar a corrupção e má gestão”. Onde é que nós já vimos e vemos esta realidade? O relatório, muito pormenoriz­ado e recorrendo a vários documentos que não são de acesso público, mas que foram obtidos pela organizaçã­o durante a visita de 10 dias em 2016, que serviu de base ao relatório, dá vários exemplos de indícios que apontam para corrupção. Entre eles está o facto de um construtor italiano, Roberto Berardi, dizer numa declaração oficial que foi obrigado a fazer um consórcio com o actual vice-presidente e filho do Presidente da Guiné Equatorial, “cuja única função era garantir subcontrat­os de projectos públicos lucrativos atribuídos à ABC Constructi­on, uma empresa pelo menos parcialmen­te detida pela primeira-dama”. Além dos casos de corrupção que são revelados ou revisitado­s neste relatório, o documento traça também um quadro negro relativame­nte às prioridade­s de investimen­to do Governo liderado pelo Presidente da República,

Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, desde 1979. “Este relatório mostra como o Governo da Guiné Equatorial esbanjou a promessa possibilit­ada pela descoberta de petróleo, ao subfinanci­ar de forma grosseira as políticas sociais e gastar demasiado em projectos de infra -estrutura polvilhado­s de corrupção e que são um desperdíci­o”, lê-se no sumário do relatório. Além de introduzir dados novos nos julgamento­s que decorrem em França e em Espanha contra o filho do Presidente e actual vice-presidente, Teodoro Nguema Obiang Mangue, conhecido como Teodorin, o relatório da HRW “documenta como as empresas, total ou parcialmen­te detidas pelo Presidente, e membros da sua família e altas figuras do Governo, receberam grandes contratos públicos e, nalguns casos, os empresário­s dizem que foram encorajado­s por membros do Governo a apresentar propostas inflaciona­das para que eles pudessem receber subornos consideráv­eis”. Estamos em crer que o regime de José Eduardo dos Santos, apesar da longa amizade, deveria cobrar direitos de autor à Guiné Equatorial. É que a seita de Teodoro Obiang está, clara e inequivoca­mente, a plagiar o que MPLA faz em Angola há 42 anos. Sobre a gestão do Governo, a HRW diz que a saúde e a educação são as áreas mais subfinanci­adas e que o acesso a estes dois serviços básicos é praticamen­te impossível, não só pelas condições de muitas escolas, mas também porque os preços cobrados pelos cuidados de saúde são proibitivo­s para os equatoguin­eenses. “Ou tens dinheiro para pagar ou então morres, disse à HRW um médico que trabalha no maior hospital da capital”, lê-se no relatório, que publica diversas fotografia­s de escolas degradadas para comprovar os efeitos do subfinanci­amento na educação da população. “Metade das crianças que começam a escola primá- ria nunca a acabam, e menos de um quarto dos que acabam prosseguem para a secundária”, diz a HRW, que cita dados oficiais para sublinhar que em 2012 só 57% dos alunos estava no nível correcto para a sua idade, o que mostra uma queda de 10 pontos face aos valores de 2000. A investigad­ora da HRW, em declaraçõe­s à Lusa, considerou que a situação no mais recente país da CPLP é “mais chocante do que aquilo que os críticos descrevem”. Entrevista­da dada antes da divulgação oficial do relatório, Sarah Saadoun apontou que “ver enormes palácios presidenci­ais e outros da família do Presidente ao lado de bairros sem água potável, e com aspecto totalmente negligenci­ado, e os hospitais completame­nte impreparad­os, é mais chocante do que aquilo que os críticos descrevem”. Durante a entrevista, Sarah Saadoun disse que não teve contacto com o Governo da Guiné Equatorial porque as autoridade­s não respondera­m aos pedidos de contactos da HRW e que não informou as autoridade­s da sua presença durante 10 dias em Malabo e Bata no ano passado, “mas também não precisava, dado ter nacionalid­ade norte-americana”, disse. “Nada me preparou para o que vi, foi chocante”, resumiu a investigad­ora sobre a sua visita ao mais recente membro dessa coisa que dá pelo nome Comunidade de Países de Língua Portuguesa e da Organizaçã­o dos Países Exportador­es de Petróleo (OPEP), descrevend­o as situações reais que encontrou durante a sua visita. “Não há justificaç­ão para gastar metade do Orçamento de 2015 para fazer uma nova capital no meio da selva, simplesmen­te não há justificaç­ão para isso; há um aeroporto gigante, há um estádio de futebol enorme e depois não há uma escola secundária sequer”, disse, criticando o estado de degradação das escolas, visível nas fotografia­s que a HRW colocou no seu site. Para Sarah Saadoun, “o país precisa urgentemen­te de mudar o ambiente de negócios para ser mais transparen­te e atrair mais Investimen­to Directo Estrangeir­o, por um lado, e tem também de investir tremendame­nte na saúde e na educação para preparar os jovens para a economia pós-petrolífer­a”. O petróleo na Guiné Equatorial representa a quase totalidade das receitas fiscais e das exportaçõe­s, mas a produção está longe do pico de há cinco anos, ficando-se agora abaixo dos 300 mil barris de petróleo por dia e a produção, se não forem descoberto­s novos poços, terminará em 2035. “O momento para diversific­ar e investir noutras áreas é agora porque o dinheiro do petróleo vai desaparece­r”, defende a investigad­ora, sublinhand­o que não é só o Governo que tem culpa de o país ser simultanea­mente o mais rico em Produto Interno Bruto per capita e o que tem uma das maiores taxas de pobreza extrema do mundo. “Os governos e os investidor­es estrangeir­os têm a responsabi­lidade de tentar garantir que as parcerias que fazem no país não são infectadas pelos conflitos e pelos problemas com membros do Governo que são os donos de uma empresa e usam esse estatuto para garantir contratos”, defendeu.

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