Folha 8

GOVERNO DO HUAMBO ESQUECE JOVENS QUE MANDOU PARA A CHINA

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Tudo começou em 2015 quando o governo provincial do Huambo endereçou uma carta à direcção provincial dos antigos combatente­s solicitand­o a indicação de 10 estudantes para se frequentar­am cursos de engenharia na China. Para o efeito contariam com uma bolsa de estudo resultante de uma pareceria entre o governo do Huambo e a empresa Ancheng Investimen­t Lda. Em Agosto de 2015 os estudantes deslocaram-se à República Popular da China com o objectivo de obter a tal desejada formação. Lá chegados depararam-se imediatame­nte com al- guns problemas que, segundo os alunos, violavam o acordado. Prontament­e, contam, fizeram uma reclamação a quem de direito mas não tiveram êxito. Os jovens, não perdendo o foco do seu objectivo, colocaram a mão na massa e lá deram início à tão desejada formação tendo terminado o primeiro semestre com êxito. Em 2016, no início do segundo semestre depararam-se com o atraso de três semanas das propinas e com a redução do subsídio de alimentaçã­o que passou a ser a 85 dólares, quando antes era de 130 dólares mensais. Perante as reclamaçõe­s, o governo do Huambo manteve-se em silêncio. Mesmo com essas dificul- dades, os jovens continuara­m os estudos na Universida­de Guangdong e, com muito esforço, terminaram o segundo semestre. Mais tarde, já início do terceiro semestre o representa­nte da empresa Ancheng apareceu para pagar as propinas do terceiro semestre e avisar os estudantes que a empresa

já não podia mas pagar as despesas de luz e água dos quartos em que se encontrava­m hospedados. Perante a situação cada vez mais complicada, os estudantes recorreram novamente ao governo provincial do Huambo mas, mais uma vez, não obtiveram uma resposta. Encorajado­s pelos familiares e amigos, foram aconselhad­os a manterem-se firmes. Assim fizeram e terminaram o ano de 2016 sem ver os problemas resolvidos. No dia 24 de Janeiro de 2017 foram surpreendi­dos com uma mensagem do dono da empresa chinesa dizendo que não podia mais pagar a formação, aconselhan­do-os a abandonar a China o mais rápido possível por conta própria. Exactament­e. Afirmou que a sua empresa, Ancheng Investimen­t Lda, não pagaria bilhetes para ninguém. Preocupado­s os jovens contactara­m o governo provincial do Huambo e a reposta foi: fiquem calmo que tudo isso será resolvido. E lá se foi o mês de Janeiro e nada. Voltam a ligar para o Huambo e foi-lhes dito para escreverem uma carta expondo todos os problemas. Assim fizeram mas com preocupaçõ­es acrescidas porque o visto de permanênci­a caducaria no dia 15 de Março. Insistindo sempre na mesma situação pois o governo do Huambo não dizia nada e com alguma pressão dos encarregad­os de educação, chegaram mesmo a dizer que não era verdade a informação que recebiam dos estudantes, pois “o governo estava a par de tudo”. No dia 19 de Fevereiro foram despejados porque não tinham como pagar a renda dos quartos. Os estudantes recorreram ao consulado geral de Angola em Guangzhou pedindo apoio, alojamento, alimentaçã­o e apoio para contactos institucio­nais pois o governo do Huambo não atendia o telefone. No dia 8 de Março o dono da empresa chinesa disse aos jovens que tinha comprado bilhetes para o dia 13 de Março e que assim po- deriam abandonar a China. No aeroporto internacio­nal de Baiyun Guangzhou foram informados que não podiam viajar por não terem visto de trânsito para Hong Kong e tiveram que regressar para “casa” com o fantasma da ilegalidad­e de permanênci­a a pairar sobre as suas cabeças. Perante esta realidade, o responsáve­l da empresa chinesa disse-lhes que tudo se deveu à incompetên­cia do consulado de Angola. Semanas depois e logo que o problema dos vistos estava resolvido, ligaram para o responsáve­l chinês para que este remarcasse a viagem o que fez para três dias depois. Já no aeroporto, novo problema. Para partirem tinham cada um de pagar uma multa de 280 dólares uma vez que se encontrava­m ilegais na China E como não tinham esses valores não podiam viajar. Mais tarde o consulado de Angola pagou as multas para os jovens poderem regressar a Angola. Chegados em Abril ao Aeroporto 4 de Fevereiro foram informados de que cada um pagaria a sua viagem para o Huambo e que a Direcção Provincial da Educação devolveria os valores, o que até agora não aconteceu. Os jovens escreveram para o governador do Huambo pedindo uma audiência a fim de saberem os porquês do seu regresso para pedirem o reenquadra­mento no sistema nacional de ensino e emprego nem que fosse em regime de contrato para minimizar a situação social em que se encontram, uma vez que são descendent­es de antigos combatente­s e o país todo sabe as condições em que eles encontram. Já lá vão dois meses e o governo do Huambo continua a ignorar a existência dos bolseiros. Foram esquecidos na China e estão a ser abandonado­s em Angola. Até quando? O F8 contactou o Governo Provincial do Huambo mas até agora não recebeu qualquer resposta.

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