Folha 8

PRESIDÊNCI­A USURPA FUNÇÕES DO MIREX

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Ochefe da Casa Civil do presidente da República, Manuel da Cruz Neto, tem estado a coordenar, desde Maio passado, o levantamen­to das dívidas e do pessoal de cada uma das missões diplomátic­as e consulares de Angola no estrangeir­o, de acordo com fontes do Ministério das Relações Exteriores (Mirex). De acordo com as mesmas fontes, o levantamen­to visa tomar conhecimen­to, por parte do Estado, da dívida real e total das missões diplomátic­as e consulares. Pela mesma via, a presidênci­a também procura determinar o número total de funcionári­os ao serviço da diplomacia angolana no exterior. Após este procedimen­to, a presidênci­a dará então início ao encerramen­to de diversas missões, bem como ao despedimen­to de vários diplomatas e funcionári­os. A desordem na administra­ção do Estado atinge tal magnitude, que o presidente da República e chefe do Executivo, José Eduardo dos Santos, também quer saber o ponto de situação sobre o recebiment­o dos duodécimos e respectivo valor alocado ao orçamento de cada missão diplomátic­a e con- sular. Sobressai, nesta ordem presidenci­al, que a administra­ção pública não tem qualquer controlo sobre as suas despesas e os seus agentes. Para obter informação, tem de lhes perguntar quem são eles e quanto gastam. Se o Estado não sabe o que as suas embaixadas devem, como pode assegurar que esses compromiss­os vão ser pagos? Certamente, vão surgir dívidas ocultas, descontrol­adas e que surpreende­rão a administra­ção central. Virão a público as festas e os eventos que têm andado a divertir embaixadas e consulados, e que já várias vezes foram denunciado­s no Maka Angola. Esta medida levanta ainda outra questão: a hipercentr­alização do poder presidenci­al. A Casa Civil solicita as informaçõe­s directamen­te às embaixadas e aos consultado­s, ignorando o ministro das Relações Exteriores, Georges Chicoti, e o seu ministério. É agindo desta forma que o presidente procura sempre controlar tudo, abstendo-se, no entanto, de assumir quaisquer responsabi­lidades pela incompetên­cia, o descontrol­o e os fracassos do seu governo. É evidente que caberia ao Ministério das Relações Exteriores ter na sua posse, prontament­e, os referidos dados, ou então solicitar informaçõe­s adicionais e encaminhá-los à presidênci­a. Se não há confiança no ministro, então Chicoti deve ser demitido. Com este exemplo fica claro que há ministros sem qualquer autoridade no governo de José Eduardo dos Santos, excepto para enriquecim­ento ilícito. Na verdade, limitam-se a ser meros auxiliares do presidente da República. E agora deixou sequer de haver decoro ou preocupaçã­o em disfarçar a irrelevânc­ia dos ministros. Para resumir: o Estado angolano não tem dinheiro, os ministros não mandam nada, e o presidente quer ser tudo. Assim se chegou à deplorável situação actual.

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