Folha 8

“CEM ANOS DE SOLIDÃO” DE GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ COMPLETA 50 ANOS

O livro foi publicado a 30 de Maio de 1967, há 50 anos, e nenhum outro da segunda metade do século XX alargou da mesma forma as possibilid­ades do romance. A obra teve uma tiragem inicial de 5 mil exemplares, que foi logo aumentada para 8 mil. Quinze dias

-

SEm Setembro de 1967, o romance chegou a terceira edição: a desordem era total, o México pedia 20 mil exemplares, a Colômbia 10 mil, outros países pediam 10 mil, 5 mil, 3 mil. Em três anos o romance vendeu 600 mil exemplares e em oito anos, dois milhões. A novela esteve ao alcance dos leitores no dia 5 de Junho de 1967, no mesmo dia que começou a chamada “Guerra dos Seis Dias”, quando Israel enfrentou no campo de batalha uma coalizão de quatro países árabes e impôs uma derrota estrondosa. “Quem ia prestar atenção a algum livro nesse dia? Além disso, havia mais 20 novidade da Editorial Sudamerica­na”, lembra o professor Zuluaga, que tem uma explicação para sinalizar porquê a novela se converteu em um fenômeno editoral, objecto de estudo e elemento de adoração. “Fizeram algo que se faz hoje todos os dias, mas que antes não existia: criaram expectativ­a perante um novo produto que ia ser lançado. Pode ser mui- to prosaico, mas no momento em que ele deixou de ser um manuscrito e se converteu em um livro, virou uma mercadoria e é preciso vendê-la como tal”, explicou Zuluaga. Um ano antes do surgimento da obra, García Márquez tinha publicado um texto do início do livro no jornal “El Espectador” de Bogotá, onde trabalhou como jornalista, somando-se ao rumor incessante entre os escritores e intelectua­is, que destacavam que estava por “aterrissar” na literatura latino-americana uma obra revolucion­ária. Escritores como Julio Cortazar, Carlos Fuentes e Mario Vargas Llosa comentavam ao público sobre o livro, enquanto quatro revistas internacio­nais de temas culturais se ocuparam em falar do texto, mesmo que ele não estivesse nas livrarias. “Não vou discutir se fizeram isso de maneira consciente ou inconscien­te, mas o fizeram com um propósito: se todos estavam de acordo, se montaram uma máquina ou não, isso não importa agora, mas o importante é que criaram uma expectativ­a”, agregou o especialis- ta. Tal foi o interesse por “Cem Anos” que, desde o primeiro dia, as livrarias ficaram lotadas de pessoas para comprar o livro. Incluso nos locais de Bogotá, por exemplo, a Librería Contemporá­nea, onde os leitores precisaram se inscrever em uma lista para conseguir um exemplar, que poderia chegar as suas mãos até um mês e meio depois. “Isso causou uma bola de neve. Todos queriam “Cem Anos de Solidão” e aqui chegou um mês e meio depois, enquanto no México demorou mais, até dois meses. O professor lembrou que a obra é um clássico da literatura universal porque, muitos anos depois de você ler pela última vez, ele tem algo novo para oferecer ao leitor. “Um clássico é um livro que te ensina sempre. Cada vez que se abre, ele tem algo novo para te dizer”, finaliza.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola