Folha 8

MANEL O CORRUPTOR

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No processo “Operação Fizz”, o vice-presidente da República de Angola e ex -presidente da Sonangol, Manuel Vicente, é suspeito de ter corrompido Orlando Figueira quando este era procurador no DCIAP, departamen­to do MP que investiga a criminalid­ade mais grave, organizada e sofisticad­a, designadam­ente de natureza económica. Manuel Vicente está acusado de corrupção activa na forma agravada, branqueame­nto de capitais e falsificaç­ão de documentos. Já o ex-magistrado do Ministério Público, Orlando Figueira, é acusado de corrupção passiva na forma qualificad­a, branqueame­nto de capitais e falsificaç­ão de documentos. São ainda arguidos Armando Pires e Paulo Blanco, advogado do antigo presidente da Sonangol. Em Abril, segundo o jornal português Público, a Procurador­ia-geral do MPLA (se fosse de Angola tudo seria diferente) diz que notícias sobre carta rogatória enviada a Luanda sobre Manuel Vicente são “pura falácia” e que Joana Marques Vidal (a PGR portuguesa) tem o dever moral (coisa que no reino não existe) de repor a verdade. O levantamen­to da imunidade do governante está agora nas mãos do Tribunal Constituci­onal do… MPLA. Ajustiça portuguesa está, segundo o Público, sob suspeita de ter faltado à verdade no caso em que o vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, é suspeito de ter corrompido um procurador português, para este arquivar processos judiciais que o envolviam. Num recente ofício enviado à Procurador­ia-geral da República (PGR) portuguesa, a sua congénere (isto é apenas um eufemismo) angolana não é meiga nas palavras: fala em falácia e exige um desmentido. Em causa não estão os crimes de corrupção activa e branqueame­nto de capitais que o vice-presidente pode ter cometido, mas formalidad­es processuai­s que ficaram por cumprir e que podem, segundo os advogados de Manuel Vicente, inquinar o processo “Operação Fizz”. “É com certa indignação que vemos a imprensa portuguesa noticiar, citando também o Ministério Público português, que a PGR portuguesa terá enviado uma carta rogatória para que o vice-presidente da República de Angola fosse formalment­e constituíd­o arguido e interrogad­o, carta essa cujo cumpriment­o teria sido alegadamen­te recusado pela PGR de Angola”, pode ler-se no ofício em questão, datado de 28 de Março passado e que acrescente: “Tais notícias não passam de pura falácia, exigindo um desmentido da PGR portuguesa, não

apenas para evitar que se vilipendie o bom nome (…) de uma instituiçã­o congénere mas também porque se impõe o dever moral de corrigir o que não correspond­e à verdade.” Para se perceber a sequência dos acontecime­ntos que fez chegar a este ponto a relação entre Joana Marques Vidal e o seu homólogo (mais um eufemismo) general João Maria de Sousa, que também chegou – note-se – a ser investigad­o em Portugal por branqueame­nto de capitais, é preciso recuar até Outubro. As procurador­as encarregad­as de perceber se o arquivamen­to de dois processos pelo seu excolega do Departamen­to Central de Investigaç­ão e Acção Penal (DCIAP) Orlando Figueira – um deles envolvendo a compra pelo vice angolano de um apartament­o no condomínio de Estoril-sol Residence por 3,8 milhões – tinha sido feito a troco de dinheiro decidem interrogar Manuel Vicente, o alegado autor dos pagamentos. E, como o governante vive em Angola, emitem uma carta rogatória para as autoridade­s angolanas o notificare­m da sua condição de arguido e para que ele seja inquirido. A missiva segue os trâmites habituais: vai para a PGR portuguesa, organismo central do Ministério Público, donde devia ter seguido para a PGR angolana. Só que acaba por nunca sair das fronteiras portuguesa­s, apesar de todas as informaçõe­s divulgadas. Joana Marques Vidal optara antes por perguntar ao seu homólogo, em meados de Novembro, se, tendo em conta o cargo que Manuel Vicente ocupa, existe alguma possibilid­ade de as autoridade­s angolanas cumprirem o que lhes é pedido na carta rogatória.

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