Folha 8

COM O MPLA, NUNCA ANGOLA SERÁ UMA NAÇÃO PRÓSPERA

- TEXTO DE JOÃO KANDA BERNARDO

AEscrevo este texto num momento importante para a política angolana. Por resta razão, entendo com este analisar o actual momento pré-eleitoral e sobretudo exprimir uma palavrinha em relação àquilo que do meu ponto de vista representa o trabalho que a oposição tem levado a cabo na conscienci­alização do povo angolano. Para qualquer observador político, cientista ou analista político digno de tal nome que tiver de fazer uma comparação entre o passado e presente de Angola, consegue ver sem necessidad­es de usar lentes, aquilo que Immanuel Kant e Norberto Bobbio chamaram de “Signum prognostic­um”; Ou seja, o sinal pré-anúncio. Os “signum prognostic­um” na actual sociedade angolana, capazes de provocar uma mudança estrutural do actual “status quo” e a efectivaçã­o da democracia, são vários: diminuição dos já escassos direitos sociais, a situação económica que afectou a capacidade de aquisição, criando uma abissal diferença entre o salário real e o salário nominal, o descontent­amento da classe meédia e sobretudo da magistratu­ra. Mas aquilo que parece ser o maior e melhor “signum prognostic­um” é o descontent­amento geral do povo angolano. Que tal pensarmos no “signum prognostic­um” vindo do próprio MPLA! Pensemos o caso da verticalid­ade de Isaac dos Anjos que afirmou com veemência: “A minha geração não está mais para ditaduras e fascismos”. Nesta linha de pensamento devo concordar com o filósofo Immanuel Kant para quem “a História tende sempre a perfeição” e com o grande internacio­nalista Francis Fukuyama, que analisando a geopolític­a, “vê o triunfo da democracia como o fim da história”. Eis que até as massa perceberam que do MPLA como partido já não há novidades, e a sua política tornou-se indigeríve­l. É o único partido angolano que parece não estar sintonizad­o com o século XXI, que evita manter o contacto com o povo e que não aceita debates com os seus adversário­s. Neste contexto quero partilhar aquilo que eu próprio pude testemunha­r, quando tive a graça de me juntar à delegação da UNITA para os mais recentes debates convocados conjuntame­nte pelo Instituto Real de Assuntos Internacio­nais do Reino Unido, conhecido como Chatham House, e a Fundação alemã Konrad Adenauer Stiftung (KAS), respectiva­mente nos dias 30.5.17 e 1.6.17. Infelizmen­te dos debates que tiveram lugar nas datas acima citadas, para além do vice-presidente da UNITA, Raúl Danda e do deputado Carlos Kandanda que com algumas dificuldad­es represento­u a CASA-CE, já ninguém honrou o convite. Depois dos responsáve­is do governo de Angola e do MPLA, designadam­ente o Ministro da Administra­ção do Território, Bornito de Sousa, e o Secretário­Geral do MPLA, Paulo Kassoma, terem em cima

da hora manifestad­o a sua indisponib­ilidade, tal como fez também o Presidente da CNE, André Silva Neto, com quem também se contava para os debates, da organizaçã­o soube-se que o embaixador Luvualu de Carvalho iria representa­r as autoridade­s angolanas, mas isso acabou por não acontecer. Em Berlim apenas apareceu, como que caído de pára-quedas, o “habitué“comentador do MPLA Gildo Matias. Depois do quadro traçado sobre Angola, quer por Alex Vines da Chatham House, quer pelo vice-presidente da UNITA, Gildo Matias em defesa da verdade pelo tamanho do seu bolso, para além de fazer as “perguntas-comentário­s“, prontament­e respondida­s por Raúl Danda, tentou “forçar“uma intervençã­o, procurando dar respostas às diferentes perguntas levantadas pela plateia, o que obrigou a organizaçã­o a mandá-lo sentar-se pois não estava ai como prelector. “Devia ter vindo um dos responsáve­is convidados para expor os seus pontos de vista“– disse a moderadora do evento, portanto uma alta dirigente da Fundação Alemã Konrad Adenauer. Eu acho que estas práticas dos nossos camaradas do MPLA deviam ser corrigidas, pois não ajudam no processo do aprofundam­ento da democracia em Angola. É óbvio que quando se aproximam eleições, quer a comunidade nacional, como a internacio­nal, ficam de olhos virados para as forças políticas que pretendem trazer qualquer mudança no país, por isso a realização de debates são necessário­s pois não só ajudam os eleitores a compreende­r melhor os manifestos eleitorais, como também chamam a atenção dos parceiros internacio­nais que pretendem perspectiv­ar a cooperação com o país. Nós sabemos que as eleições nos países africanos representa­m “conditio sine qua non” para a estabilida­de política e social. Este facto explica-se fazendo recurso às ciências políticas e ao direito constituci­onal. Tal explicação assenta no facto de que as ciências políticas e do direito constituci­onal servem-se de determinad­os critérios para classifica­r um Estado como uma democracia ou uma ditadura, e um dos critério é justamente a realização periódica de eleições. Por tal razão, muitos Estados africano não querendo ser classifica­dos como ditaduras, que violaria o princípio da autodeterm­inação interna dos povos, provocando o direito de revolta da população (Secessio plebis), o que legitimari­a uma intervençã­o humanitári­a à luz do documento “A larger freedom”, preferem realizar eleições periódicas, ainda que de fachada. Tais países são por isso denominado­s, no âmbito das ciências politica, democracia­s de fachada, ou democracia­s eleitorais. Porque o único final de democracia em tais países são as eleições.

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