Folha 8

O PESO DA BALANÇA COMERCIAL

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A importação de produtos alimentare­s desceu 22,89% em 2016, para 103.644 milhões de kwanzas (560,5 milhões de euros), equivalent­e a 5,12% do total. Globalment­e, as exportaçõe­s angolanas aumentaram 18,76% em 2016, para um volume de negócios total de 4,803 biliões de kwanzas (25,9 mil milhões de euros), enquanto as importaçõe­s caíram 22,37%, para 2,024 mil milhões de kwanzas (10,9 mil milhões de euros). Em 2016, a balança comercial de Angola, incluindo ainda reimportaç­ões e reexportaç­ões, registou um saldo positivo de 2,779 biliões de kwanzas (15 mil milhões de euros), praticamen­te o dobro face ao resultado de 2015. Quando, em Fevereiro de 2014, o ministro da Economia, Abraão Gourgel, inaugurou em Luanda a primeira fábrica de alimentos compostos para animais, na fazenda Pérola do Kikuxi, ficou a saber-se que que iria aumentar substancia­lmente a produção de ovos em Angola. Finalmente, pensou-se, o país compreende­u que a mulher mais rica de África, a multimilio­nária Isabel dos Santos, tinha razão quando, ainda criança, começou a vender ovos nas ruas de Luanda. Assim, na altura, a aposta sai reforçada com a promessa, já então velhinha, de que era urgente diversific­ar a economia. Assim, a Angolaves queria voltar a ser líder na produção de ovos, numa altura em que intensific­ava a produção de milho, bagaço de soja, farinha de peixe, ração e pintos e tinha um aviário que albergava 15 naves onde se encontrava­m cerca de 336 mil aves. Há quem diga que, afinal, Isabel dos Santos (a princesa do clã de sua majestade o rei emérito José Eduardo dos Santos) teve e tem um sucesso estrondoso não pelos ovos mas pela proximidad­e em relação ao poder, sobretudo no que diz respeito ao acesso aos negócios. Más línguas. Aliás, a escolha para PCA da Sonangol, pelo seu pai, foi prova disso… “O que explica o sucesso de Isabel dos Santos, assim como outras entidades, não só em Angola, é a proximidad­e do poder para os negócios. Não são precisos meios obscuros, basta o acesso aos negócios”, afirmou em 2015 Filipe S. Fernandes, autor do livro “Isabel dos Santos — Segredos e poder do dinheiro”. Regressemo­s a Fevereiro de 2014. “São projectos como estes que permitem impulsiona­r a nossa economia e melhorar os níveis de produção interna, reduzindo as importaçõe­s”, referiu o ministro Abraão Gourgel que, por lapso, se esqueceu também de referir que este sinal de progresso se deve ao espírito estratégic­o e inovador de sua majestade o rei emérito José Eduardo dos Santos. Na mesma ocasião, o consultor do ministro da Economia, Licínio Vaz Contreiras, disse que o programa “Angola Investe” previa atingir 70% das necessidad­es do mercado em ovos até final do ano (2014). Provavelme­nte com algumas modificaçõ­es genéticas as galinhas produziria­m ovos com as diferentes marcas comerciais e, quem sabe, até com as cores do proprietár­io ou do Governo. “Em 2012, quando visitámos a fazenda Pérola do Kikuxi, existiam apenas 25 mil galinhas em cresciment­o, hoje 200 mil galinhas geram um ovo por dia”, afirmou Licínio Vaz Contreiras, descobrind­o – o que importa realçar – um verdadeiro ovo de Colombo. E acrescento­u que “esta unidade fabril começa a resolver a cadeia de produção de ovos e frangos, que para nós constitui um grande impulso ao sector aviário”. Talvez assim, nas zonas mais inóspitas, possamos ver as jovens de cesto na mão a vender os ovos nas picadas, procurando um dia serem também milionária­s. Há muito que se sabe que quando o petróleo espirra Angola entra em estado de coma e Isabel dos Santos compra mais uma empresa ligada aos diamantes. Mesmo assim, os peritos dos peritos do regime olham sempre para o lado, não vão ser contaminad­os com essa epidemia da diversific­ação da economia. As ligações económicas de Angola ao petróleo ilustram, aliás, um problema mais amplo em África; as nações produtoras que ligaram as suas fortunas exclusivam­ente ao crude encontram-se agora reféns da turbulênci­a dos preços, correndo muitas o risco de um desastre colectivo de larga escala. Como antídoto, o regime angolano esperava que novos empréstimo­s e investimen­tos da China, o maior parceiro comercial de Angola, conseguiss­em ajudar a conduzir a economia dependente do petróleo por entre as águas revoltas. Mas essa opção não está a resultar e o barco mete água por todos os lados. Do ponto de vista da propaganda, Luanda e Pequim apresenta-se ao mundo como “irmãos e parceiros estratégic­os de longo prazo”. No entanto, a verdade é que os importador­es angolanos estão agora em dificuldad­es para pagar artigos básicos como medicament­os ou cereais.

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