Folha 8

MISÉRIA E RIQUEZA

-

Por seu lado, o psicólogo Josué de Oliveira conta que deixou de adquirir leite para os filhos porque os preços de bens e serviços na cidade de Luanda “dispararam”, lamentando a carência de muitos cidadãos em Luanda. “Mas é muito triste porque há pessoas que passam muito mal para ter pelo menos uma pequena refeição”, observou. Registe-se, entretanto, que o perfil do cliente de elite angolano em Portugal, por exemplo, revela que se trata sobretudo de homens, empresário­s do ramo da construção, ex-generais ou com ligações ao governo. Vestem Hugo Boss ou Ermenegild­o Zegna. Compram relógios de ouro Patek Phillipe e Rolex. Do outro lado estão 70% de angolanos. O seu perfil é: pé descalço, barriga vazia, (sobre)vive nos bairros de lata. Esses angolanos de primeira não olham a preços. Procuram qualidade e peças com o logo visível. É comum uma loja de luxo facturar, numa só venda, entre 150 e 300 mil euros, pagos por transferên­cia bancária ou cartão de crédito. Por outro lado, no país dos angolanos de se- gunda, 45% das crianças sofrem de má nutrição crónica e uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos. Na joalharia de luxo, os angolanos de primeira (todos afectos ao regime) também se destacam, tanto pelo valor dos artigos que compram como pela facilidade com que os pagam. Chaumet, Dior e H. Stern? Sim, pois claro. O preço não é problema. Quanto mais caro melhor. Comprar uma pulseira por 200 mil euros é como comer um pires de tremoços. Refeições dos angolanos de primeira? Que tal trufas pretas, caranguejo­s gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e uma selecção de queijos acompanhad­os de mel e amêndoas carameliza­das, com cinco vinhos diferentes, entre os quais um Château-grillet 2005? Quanto ao Povo, a ementa dessa subespécie é fuba podre, peixe podre, panos ruins, 50 angolares e porrada se refilarem.

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola