É GUERRA QUE QUEREM? MILITARES E POVO DO ZANGO 3 SAÍRAM À RUA
Opovo está saturado, com o estado de calamidade social e já não tem medo das balas. E não o tem, mesmo tendo consciência de que as balas das armas da Polícia Nacional e das Forças Armadas matam mesmo. Nos desalojamentos forçados, nos esbulhos violentos, da Boavista à Chicala e da Samba aos Zangos, os exemplos estão à mão de semear. A cada reivindicação legí- tima, assente na Constituição e na lei, mesmo “jessianas” (de José Eduardo dos Santos), a resposta vem com uma violência extrema, na ponta do fuzil, que dispara na inocência do cidadão. E as tropas ditatoriais, indiferentes ao medo apenas disparam. Apenas matam. Assassinam, cobardemente, por medo da voz popular. É um regime que assenta o boom do crescimento, nas vozes que elimina, assassinando ou enclausurando, nas suas fedorentas masmorras. Os populares que estão confinados há cerca de
35 anos, nas tendas no Zango 3, saíram à rua, no dia 20.07, tendo na mente, que morrer não é só estar estatelado no chão, ou na boca de um jacaré, assim sendo, de nada vale a cobardia de continuarem resignados a tudo e todos, vivendo em situações deploráveis. Foi assim que pensou e agiu, numa manifestação espontânea, que levou muitas famílias, algumas partilham uma mesma tenda, a virem para rua solicitar a João Lourenço para deixar de fazer novas promessas e resolver, o seu partido e o governo, as velhas promessas. “Nós desde que saímos da Boavista ainda estamos aqui e na altura das eleições sempre nos prometem que o futuro será melhor, mas afinal, nós estamos a morrer no passado”, disse ao F8, Joaquim, para quem “chega de cinismo e falem a verdade ao povo, pois nós estamos cansados, chegam a viver duas famílias, numa tenda, que estão completamente rasgadas”. As autoridades foram surpreendidas com a manifestação popular que interditou uma das vias principais do Zango, com a queima de pneus, na reivindicação de casas prometidas, por destruição das suas nas zonas das barrocas da Boavista. “Nós não queremos confusão, apenas reclamar o nosso direito e se queimamos pneus é para chamar a atenção do governo, que aqui, nas tendas colocaram pessoas, não animais. Sim, porque os cães do Zé Eduardo, do João Lourenço, do Higino Carneiro e do Kopelipa vivem melhor do que nós, com direito a veterinário, ração importada, viagens internacionais, etc.. Mais não esquecer que os do Kundi Pahiama até têm direito a carne não congelada de primeira que sai do Lubango para Luanda, todas semanas, quando nós não temos sequer dinheiro para alimentar os nossos filhos, levá-los a uma boa escola ou hospital”, reivindicou Eugénio Kamussunda. Obviamente que depois de algumas horas e da presença musculada da Polícia Nacional do MPLA, os populares decidiram recolher-se, mas prometeram não baixar as armas. “Nós não queremos o confronto com as autoridades, mas quando um governo age como criminosos, não merecem o respeito do povo. Agora estão a vir com cervejas, música e promessas, mas nós não vivemos disso. Não queremos esmola, queremos dignidade e respeito”, asseverou Lúcia da Purificação, ao F8.