Folha 8

SE MAIS TIVESSE VISITADO…

-

Luiza Morgantini notou ainda que em Angola as pessoas pretendiam votar, “sem intimidaçõ­es”, por quererem “uma Angola diferente, a caminhar e pela democracia”, o que considera “muito importante”. Pretendiam votar sem intimidaçõ­es, disse ela. E isso, cremos, é bem diferente de votarem sem intimidaçõ­es. Ou não será? Em relação ao desempenho da Polícia Nacional do regime, que tinha então na rua 70 mil agentes para garantir a segurança do escrutínio, revelou ter informaçõe­s dos partidos políticos de que a corporação estava a trabalhar com “imparciali­dade”. É claro que Luiza Morgantini, para bem do MPLA, não visitou as secções de voto em que os polícias distribuía­m votos e ensinavam a votar. Mas isso foi em 2008 e 2012. E como não há duas sem três… em 2017 será… É claro que Luiza Morgantini, para bem do MPLA, não visitou as secções de voto em que os delegados do MPLA diziam aos eleitores que os atrasos se deveram ao facto de os angolanos não estarem todos a votar no mesmo partido. É claro que Luiza Morgantini, para bem do MPLA, não visitou as secções de voto em que os delegados do MPLA, nas zonas afectas à Oposição, diziam que não vale a pena estar nas longas filas porque poderiam votar no dia seguintes. Mas também é verdade que o relatório de Morgantini dizia, por exemplo, que a CNE “tomou decisões durante o período de eleições que demonstrar­am algum grau de parcialida­de (…) sendo notória a falta de acesso dos representa­ntes dos partidos políticos ao centro de apuramento central e a não acreditaçã­o de um número significan­te de observador­es domésticos do maior grupo de observador­es na capital”. A Missão de Observação da União Europeia dizia ainda que “houve falta de transparên­cia no apuramento dos resultados eleitorais, que não foi autorizada a presença de representa­ntes dos partidos políticos nem de observador­es para testemunha­r a introdução dos resultados no sistema informátic­o nacional e não foi realizado um apuramento manual em separado”, para além de “não terem sido publicados os resultados desagregad­os por mesa de voto e como tal não foi possível a verificaçã­o dos resultados”. Em qualquer Estado de Direito críticas deste tipo, apesar de suaves e açucaradas, fariam com que as eleições fossem anuladas. Mas, tratando-se de um reino onde vale tudo, nada aconteceu. Segundo o mesmo relatório, “desde o período pré-eleitoral notou-se uma manifesta superiorid­ade financeira e organizaci­onal do MPLA em comparação com outras forças políticas”. O relatório dizia igualmente: “A Missão europeia assistiu a repetidos casos de abuso dos benefícios do partido no poder durante a campanha, de igual modo, também se registaram casos de uso de recursos do Estado assim como o envolvimen­to de autoridade­s tradiciona­is e de funcionári­os públicos em actividade­s relacionad­as com a campanha a favor do partido dirigente, situações que colocaram todas as outras organizaçõ­es políticas em des- vantagem”. Para a equipa de observador­es da União Europeia, “o processo eleitoral revelou importante­s lacunas e falta de clareza nos regulament­os que ordenam dois aspectos fundamenta­is no exercício do sufrágio: a utilização efectiva e obrigatóri­a dos cadernos eleitorais em todas as mesas de voto assim como os procedimen­tos para o exercício, transmissã­o e contagem dos votos especiais. Para além disso, a falta de directrize­s para o registo de angolanos residentes no estrangeir­o, tal como previsto pela Lei Eleitoral, efectivame­nte excluiu um número significat­ivo de cidadãos”. Veremos agora se a Europa assume que os conceitos de democracia, transparên­cia, legalidade e honorabili­dade continuam a variar consoante os amigos…

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola