PORQUE NÃO TE CALAS?
Asecretária- executiva da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) passou no dia 17.07 a todos os cidadãos lusófonos mais um enorme atestado de matumbez e menoridade intelectual. Não haverá ninguém que cale ou demita Maria do Carmo Silveira? Então não é que Maria do Carmo Silveira teve a lata de fazer um “balanço amplamente positivo” dos 21 anos da organização e defender a aposta na mobilidade, na cooperação multilateral e na actividade económica empresarial dos nove Estados-membros, ou seja tudo aquilo que nunca foi feito e que ela bem sabe que nunca será feito? Já no dia 5 de Junho a senhor secretária-executiva desse elefante branco chamado CPLP considerou “dignificante” e “bom para todos” a eleição da Guiné Equatorial para membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU, acrescentando que aquele país “falará pela CPLP e pelos seus Estados-membros”. Maria do Carmo Silveira bem que poderia, à falta de melhor, ir brincar com os seus antepassados em vez de, num misto de ignorância e orgia canibalesca, teimar em gozar com a nossa chipala. É que a paciência tem limites e até a dos escravos está à beira de estoirar. “Estamos conscientes que 21 anos de existência são insuficientes para uma organização de Estados concretizar na sua plenitude os desígnios que nortearam a sua criação. Mas o saldo da CPLP é amplamente positivo”, conside- rou Maria do Carmo Silveira, numa mensagem de vídeo divulgada na página da Internet dessa coisa que, para além de funcionar como uma agência de tachos, de nada serve e que na segunda-feira celebrou 21 anos. Esta data, acrescentou, é uma “oportunidade para reconhecer o quanto a CPLP, que continua a ser uma comunidade em construção, tem progredido no sentido da consolidação dos seus alicerces, procurando estruturar-se e adaptar-se aos novos desafio da actualidade e a corresponder às expectativas e aspirações dos cidadãos dos Estados-membros”. “O mundo globalizado acarreta facilidades, mas também muitos desafios”, disse, referindo o surgimento de “agentes oportunistas que se têm aproveitado dessas mudanças e dessas facilidades para proliferarem e se fortificarem, pondo em causa a paz, a segurança e consequentemente o almejado desenvolvimento”. Para se adaptar a um “mundo em constante mutação”, a organização desenvolveu uma nova visão estratégica, aprovada pelos líderes políticos dos nove Estados-membros em Novembro passado, cuja execução “é tão importante como urgente para promover a capacitação institucional, reforçar a coesão interna e alavancar a missão da CPLP”. Nesse sentido, a secretária-executiva reforçou a necessidade de “reforçar o capital humano dos Estados-membros, através da formação e da socialização de conhecimentos”, de “assumir a actividade económica empresarial como motor de desenvolvimento e progresso económico” e de “acelerar o desenvolvimento de plataformas de cooperação multilateral, multissectorial, que possam dinamizar, integrar e tornar competitiva a economia da CPLP”. “É fundamental dinamizar a circulação e a mobilidade no espaço da CPLP para uma maior coesão e sentimento de pertença”, além de prestar uma “particular atenção aos sectores estratégicos de cooperação”, como ambiente, mares, energia, segurança alimentar, ciência e tecnologia, educação ou turismo. A CPLP é, destacou ainda, uma comunidade que “pugna pela defesa dos valores democráticos e dos direitos humanos, pela igualdade jurídica dos Estados, pela solução pacífica dos conflitos e pela promoção do desenvolvimento sustentável”. A responsável da organização advertiu que “é importante não perder de vista o objectivo primário da sua criação, que é a consolidação de sociedades democráticas e prósperas, aproveitando todas as sinergias disponíveis”. A Guiné Equatorial e outros quatro países (Peru, Costa do Marfim, Koweit e Polónia) foram eleitos pela Assembleia-geral da ONU para assumir um mandato de dois anos como membros não-permanentes do Conselho de Segurança, posição que assumem a 1 de Janeiro de 2018. A Guiné Equatorial é membro da Comunidade dos Países de Língua Por- tuguesa (CPLP) desde Julho de 2014. “Será bastante importante a CPLP ter um interlocutor a esse nível. Poderá falar pela organização e pelos seus Estados-membros”, disse a máxima responsável da Comunidade de Países de (suposta) Língua Portuguesa. Para Maria do Carmo Silveira, esta é também “uma forma de o português” (que não se fala na Guiné Equatorial) “entrar e estar presente” no mais importante órgão das Nações Unidas. “Só pode ser bom para todos nós”, concluiu a senhora, certamente satisfeita por mostrar ao mundo que não sabe o que diz, ficando por saber se algum dia dirá o que sabe… se é que sabe alguma coisa. É a primeira vez que a Guiné Equatorial entra no Conselho de Segurança – o que aconteceu com o apoio de 185 dos 193 Estados membros da organização. O Presidente do país, Teodoro Obiang Nguema – tomou o poder em 1979, através de um golpe de Estado, mantendo-se desde então em funções, sendo actualmente o ditador mais longevo do continente africano, seguido de perto pelo seu homólogo angolano, José Eduardo dos Santos. A Guiné Equatorial, como deveria saber Maria do Carmo Silveira, está há décadas na mira das organizações internacionais de defesa dos direitos humanos, que acusam o Governo de Obiang de praticar fraudes eleitorais e cometer graves atropelos contra os seus próprios cidadãos. Os crimes de corrupção, violação dos direitos humanos e perseguição política figuram dos relatórios de várias organizações internacionais – que acusam o Presidente Obiang e a
sua família de controlarem a riqueza do país. Com apenas 700.000 habitantes, a antiga colónia espanhola registou nos últimos anos um grande crescimento económico, graças às enormes reservas de gás e petróleo descobertas no seu território, mas continua a ser um dos países do mundo com maior percentagem de pobreza e mortalidade infantil, curiosamente como acontece com Angola. Para melhor se perceber a latrina em que se transformou a CPLP, recorde-se que – é só um dos muitos exemplos possíveis – o Governo da Guiné-bissau anunciou a atribuição da sua principal condecoração nacional, a medalha Amílcar Cabral, ao Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema. “A Guiné-bissau e a Guiné Equatorial têm excelentes relações”, justificou Olívio Pereira, secretário-geral da presidência do Conselho de Ministros. De acordo com aquele (ir) responsável, “Teodoro Obiang tem sido um estadista atento à evolução da situação politica na Guiné-Bissau, tendo manifestado a sua solidariedade com diversos governos e em diversas ocasiões com o povo da Guiné-bissau”. A atribuição da medalha é, assim, “um gesto de reconhecimento que o Governo liderado por Umaro Sissoco Embaló decidiu prestar-lhe”, acrescentou. Mas nem todos gostam de chafurdar na porcaria. O antigo embaixador do Brasil junto da CPLP, Lauro Moreira, considera que a entrada da Guiné Equatorial no bloco lusófono é uma questão que envergonha a organização. “É uma vergonha. Se não fossem suficientes os problemas que nós temos internamente, agora temos um problema que é pavoroso, porque é uma questão que envergonha a CPLP”, afirmou Lauro Moreira, que é presidente do Conselho Directivo do Observatório da Língua Portuguesa (OLP). Para o antigo embaixador brasileiro junto da CPLP (2006-2010), o bloco lusófono já tem, por exemplo, “problemas seríssimos com a Guiné-bissau, que é um país maravilhoso, que ao mesmo tempo tem óptimos quadros superiores, mas que agora está reduzido a um narco-estado”. “Este país (Guiné Equatorial) é pária na comunidade internacional”, sublinhou Lauro Moreira. A pena de morte na Guiné Equatorial está suspensa neste momento, medida que foi tomada para poder entrar no bloco lusófono. Também segundo a ONG Transparency International, é um dos países mais corruptos do mundo. Segundo Lauro Moreira, Teodoro Obiang “reina em absoluto sobre um país que flutua hoje em petróleo e sobre uma população naufragada na maior miséria”. É, de acordo com o diplomata, “um país desconsiderado pela comunidade internacional, isolado pela língua (o único a falar espanhol em toda a África), cuja história, cultura e comportamento nada tem a ver com os ideais que presidiram a criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, em 1996”. Lauro Moreira afirmou que a CPLP ficou desfigu- rada com a estrada da Guiné Equatorial para o bloco lusófono, pois é “um país que nada fez na prática para merecer essa concessão a não ser introduzir às pressas o português como língua oficial, ao lado do espanhol e do francês, e acenar com os seus petrodólares de novo-rico”.