ELEIÇÕES SÃO SINÓNIMO DE DEMOCRACIA?
No actual contexto político angolano, dominado há 42 anos pelo mesmo partido, o MPLA, eleições formais não significam a existência de uma democracia. Não faltam exemplos de ditaduras que realizam eleições para assim adquirir o epíteto de democracias. “A democracia só existe se brotar de cada um de nós e for cultivada cuidadosamente no quotidiano em todos os nossos gestos. Esse é o ponto de partida. E no regime democrático nunca há ponto de chegada, porque os regimes políticos exigem um aperfeiçoamento permanente. Nada é dado como adquirido, o pluralismo de ideias impõe-se às certezas absolutas e sucessivas gerações têm pontos de vista e soluções diferentes para os mesmos problemas. Quem cultiva em si a democracia é tolerante, sabe perder, sabe ganhar e, sobretudo, é capaz de reconhecer o valor das ideias dos outros. Na democracia não há inimigos, apenas adversários. E todos são importantes na construção das condições que suportam a liberdade: trabalho para todos, habitação, saúde e educação. Por isso, o regime democrático começa em nossa casa, mesmo que não haja na mesa muito pão. Em democracia todos podem ralhar e todos têm razão. Mas no dia em que na nossa casa houver oprimidos e as suas vozes forem silenciadas, a democracia fica reduzida a boas intenções. Não é com palavras mais ou menos bem intencionadas que se constrói ou se defende a democracia. Casa onde não há democracia, não existe legitimidade para discutir ideias ou apresentar alternativas. Cada um de nós tem de cultivar em si a democracia. Cada casa d tem de viver num clima democrático e os seus membros têm o direito indeclinável de fazer ouvir a sua voz. Só assim a democracia progride e se enraíza cada vez mais no nosso país. Enganam-se os que pensam que o regime democrático se institucionaliza por decreto ou que bastam jogos de palavras para contribuir para o aprofundamento da democracia. Angola abraçou o multipartidarismo e a economia de mercado há muitos anos. Nesse momento foram livremente aceites pelos angolanos os mais importantes pressupostos da democracia. Como resultado dessa opção política, José Eduardo dos Santos passou a ser o primeiro defensor do regime democrático. A História recente demonstra que José Eduardo dos Santos tem honrado os compromissos assumidos. Nem mesmo a guerra o fez mudar de posição. Numa altura em que a autoridade do Estado foi posta em crise, José Eduardo dos Santos apostou na democracia e não foi pelo caminho que as circunstâncias apontavam, quer seria a declaração do estado de sítio. A sua fidelidade aos princípios democráticos permitiu que hoje os angolanos vivam em paz e liberdade num inegável clima de reconciliação nacional. José Eduardo dos Santos é um democrata convicto. Na sua casa, há democracia e liberdade de opinião. Ninguém pode apontar no seio do seu governo casos de dirigentes punidos só porque pensam de forma diferente do líder. Cada um assume publicamente as suas ideias sem medo de castigos, de expulsões ou de ameaças. Por isso, o eleitorado lhe deu a maioria dos votos nas últimas eleições e sufragou a política seguida por José Eduardo dos Santos. Alguém disse que “a di- tadura em Angola é refinada mas é ditadura”. A grandeza da democracia está neste simples facto: os democratas são capazes de arriscar a vida e a liberdade para que o líder do MPLA tenha direito a exprimir livremente as suas opiniões. Mas esse alguém não tem razão. Os angolanos deram à democracia em África e no mundo uma dimensão nunca alcançada.” Nota. A segundo parte deste artigo, que começa em “A democracia só existe se brotar…”, foi escrita pelo porta-voz de Muammar Kadafi, Musa Ibrahim, e estava pronto para ser publicado após a vitória que o ditador dava como certa. Tal não aconteceu. Assim, onde se lê José Eduardo dos Santos deve ler-se Muammar Kadafi, onde se lê Angola deve ler-se Líbia.