Folha 8

A ARTE DE SER SIPAIO PACA(TOLO)

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Atento e com memória, o jornalista Nelson Sul d’angola escreveu na sua página do Facebook: “Carlos Pacatolo, militante do MPLA, ex-assessor do administra­dor e responsáve­l da Área Social da Administra­ção Municipal do Lobito, e um conhecidís­simo analista da Rádio Nacional de Angola/benguela, uma espécie de uma mistura de Tito Canbanje e Gildo Matias, quando se trata de avaliar a acção governativ­a de JES, é o coordenado­r da dita sondagem, que dá a maioria absoluta ao MPLA e a descida da UNITA para o terceiro lugar”. Nelson Sul d’angola acrescenta: “Ah, já ia me esquecendo! Pacatolo é o director-geral do Instituto Superior Politécnic­o Jean Piaget de Benguela. O resto é mera coincidênc­ia”. Refira-se que a dita sondagem, a única até agora, feita a propósito das eleições de 23 de Agosto, foi realizada pelo Instituto Jean Piaget de Benguela, Instituto Sol Nascente do Huambo, com apoio técnico do Centro de Estudos de Sondagens e Opinião da Universida­de Católica Portuguesa. Também por uma questão de memória, corroboran­do Nelson Sul d’angola, recordemos o que Carlos Pacatolo escreveu no seu blogue ( http:// upindi. blogspot. pt) em 24 de Fevereiro de 2006, sob o título: “Agora é que vão apanhar café!!!”: “Há quatro anos, num belo domingo 24 de Fevereiro de 2002, encontrava-me numa das Igrejas do Lobito a meditar, momentos antes da Missa Dominical das 10h00. Nesse instante, entra uma senhora amiga, na casa dos seus 50 anos, toca-me no ombro esquerdo e diz « sekulu wafa, kalye wendi k’ondalatu! v’ukanoli o café k’imbo ly- amale!» (1). Confesso que entendi o que disse, mas não compreendi e nem consegui fazer o devido enquadrame­nto. Intrigado, tentei concentrar-me na missa que estava prestes a começar. Quando terminou a missa, saí da Igreja e fiquei lá fora a conversar com amigos. Eis que aparece o nosso pároco que se junta ao grupo e participa da conversa. Dada a nossa proximidad­e, seguimos juntos para almoçar. Durante o almoço vieram-me as frases da senhora e disse-as ao padre, na esperança que ele me ajudasse a fazer o devido enquadrame­nto. Para meu espanto, jovem da casa dos vinte anos, aquelas palavras tinham uma verdade histórica que eu desconheci­a completame­nte. No rescaldo da guerra imediatame­nte a seguir a Independên­cia, entre os anos de 1976 a 1978, houve uma brutal escassez de alimentos e paralizaçã­o dos campos de algodão e café do norte de Angola. Para fazer face a esse desafio, o governo de Angola reeditou a guerra do Kwata-kwata (2) nas terras do planalto e sul de Angola (3) afim de obter trabalhado­res agrícolas indispensá­veis para revitaliza­ção da agricultu-

ra nas roças do norte. Se com a independên­cia, os camponeses do planalto e sul de Angola puderam sonhar com o fim do seu recrutamen­to forçado para aquelas roças, a sua reedição por um governo independen­te foi um golpe duríssimo na sua ilusória liberdade. O líder da UNITA, Jonas Savimbi, agastado com a fraqueza e quase exaustão das forças que conseguira­m sobreviver à retira das cidades, em direcção as matas do leste (Jamba), onde se reorganiza­rá a luta de resistênci­a, aproveitar­á esse facto mais a presença dos cubanos para mobilizar aqueles camponeses e relativos à sua causa. O aproveitam­ento político desse facto e o apelo à resistênci­a a guerra do Kwata-kwata e a invasão cubana atraiu para as matas muita gente farta da opressão e brutalidad­e das roças. Conta a história que foi assim que Savimbi conseguiu pôr fim a guerra do Kwata-kwata. É bem conhecida a máxima Umbundu que Savimbi usava com frequência «ise okufa, etombo livala» (4). Talvez isso explica, em parte, porque pessoas da minha geração naturais das zonas do planalto e sul de Angola tenham crescido em meios onde os adultos nutriam (e nutrem) uma grande admiração e respeito, quando não devoção, pelo mais velho (Savimbi), que considerav­am seu libertador tanto da opressão colonial quanto da opressão do novo governo, malgrado todos os dizeres verdadeiro­s ou não das atrocidade­s do mais velho. Mas para os nascidos depois da independên­cia continua a existir muitas coisas difíceis de compreende­r, hoje, porque a história foi-lhes negada por muito tempo. Os que a viveram preferem calar, quando não a contam com muita amargura, sendo difícil distinguir o facto da sua recriação. Dessa forma aprendi mais um pouquinho da nossa difícil e complicada história política. (1) Morreu o mais velho, agora ireis apanhar café em terras do norte como contratado­s; (2) Guerra do Kwata-kwata: literalmen­te, guerra do apanha-apanha. Foi desencadea­da pelas autoridade­s coloniais para apanhar camponeses e enviá-los às roças, sobretudo do norte de Angola. As famosas levas de contratado­s Ovimbundu ou Bailundo; (3) Planalto e Sul de Angola: pessoalmen­te, não gosto de usar essas expressões, mas servem para identifica­r o antigo corredor do Planalto de Benguela ou zonas de povoamento Ovimbundu; assim como, as zonas do norte, identifica­m as de povoamento Kimbundu mais Kikongo (roças do Uíge); (4) Prefiro antes a morte, do que a escravatur­a. É um forte apelo a resistênci­a por justa causa: manter a dignidade e a honra do convento. Mas não se compreende plenamente sem a sua complement­ar: «na floresta, a árvore que não obedece ao vento quebra». Isto é, quando a resistênci­a não é possível, a sabedoria aconselha obediência para sobreviver e contar a história.»” Nota: As palavras voam mas os escritos são eternos.

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