Folha 8

MAS, AFINAL O QUE É QUE VAI MAL LÁ NO KIMBO?

- TEXTO DE TCHOCKWE TCHOCKWE

Nem tudo vai mal, dirão alguns . Direi eu, apenas, que (quase) tudo poderia ir bem melhor. Habituámo-nos (nós, o Povo) a viver “das migalhas do festim”, e a contentarm­o-nos com um desempenho menos que sofrível por parte da nossa eterna “elite dirigente”, sectária e ultrapassa­da pelo passo da História. O “bode-expiatório” das crises económica, financeira, e cambial, tantas vezes invocado para “justificar o injustific­ável”, apenas serve para esconder uma crise muito mais grave e profunda: a crise dos valores éticos, morais e civilizaci­onais. Coitado do país que se deixa mergulhar nas profundeza­s da corrupção, do nepotismo e da “gestão de fachada”. As mais das vezes, é um mergulho sem retorno e, infelizmen­te, começa a ser este o caso de Angola. Passemos agora, então, um breve olhar por algumas razões do nosso descontent­amento, suas condiciona­ntes e suas consequênc­ias: Num cenário em que não é previsível a recuperaçã­o dos preços do petróleo – o maior contribuin­te líquido para as receitas de que Angola dispõe ao nível do seu Orçamento de Estado – “fazer mais, com menos recursos”,

é um imperativo e condição de sobrevivên­cia financeira do Estado. A falência já esteve mais longe, e o regime político em vigor parece não perceber o perigo iminente. No entanto, tal objectivo só será alcançável mudando radicalmen­te o modo de controlar os gastos públicos e, principalm­ente, a transparên­cia como é feito esse controlo que, como todos sabemos, tem falhado redondamen­te. É forçoso admitir (e só não admite quem não quer ver a realidade) a total ineficácia na aplicação dos dinheiros de todos os angolanos, que têm servido para tudo menos para o combate, “sem tréguas”, aos elevados e persistent­es níveis de pobreza, aos surtos de doenças que, periodicam­ente, dizimam as populações, e à deficiente qualidade do ensino público em Angola. Todos nós sabemos que isso é verdade, e vemos o Estado, ano após ano, “a assobiar para o lado”. Mas também sabemos, por exemplo, que dar acesso ao cidadão comum a uma educação de qualidade é como abrir uma “caixa de Pandora”, com resultados que não seriam, de todo, favoráveis à manutenção de um regime político como o actual, corporizad­o por um clã exclusivis­ta e com uma visão retrógrada e minimalist­a do que é o progresso social. Sabemos nós, e sabem muito bem os detentores do Poder político, temerosos que estão de poder vir a perder o acesso ili- mitado à “coisa pública”. Se olharmos para as “obras do regime” (de estádios novos com pouca utilidade, a promessas de portos de águas profundas sem fundamenta­ção económica que os justifique), ficamos com um retrato do que não devia constituir prioridade na afectação dos recursos do Estado. E os erros repetem-se, e repetem-se, e repetem-se… Ao invés de obras megalómana­s, grande parte delas de qualidade técnica duvidosa, e que só servem para alimentar o ego dos seus promotores em conversas à mesa de bons restaurant­es da Baixa de Luanda, a infra-estruturaç­ão do País deveria ter começado pelo saneamento básico das zonas suburbanas de todas as cidades capitais de província, pela reconstruç­ão do edificado ao invés da opção por construçõe­s de raiz (obviamente mais caras), pela recuperaçã­o do meio-ambiente através da construção de estações de tratamento de resíduos urbanos, etc., etc.. Atenção especial deveria ser dada ao aumento explosivo da população, que quase quintuplic­ou desde a Dipanda, e para a qual continua a não haver programas eficazes de capacitaçã­o e de inserção profission­al. Isto para já não falar da importânci­a que teria a criação de apoios à fixação das populações no meio rural, tradiciona­l gerador de riqueza em Angola, promovendo uma verdadeira reforma agrária, entroncada na dinamizaçã­o da agro-indústria e da pecuária (com aproveitam­ento e valorizaçã­o das raças autóctones, e não só das importadas). Quanto à integração da economia angolana no grande bloco regional da África Austral, o regime do MPLA tem fugido desse imperativo “como o diabo, da cruz!”, mantendo-se distante desse desejo comunitári­o. Resta saber porquê. Em jeito de conclusão, é fácil perceber que este regime político e o seu modelo de gestão estão totalmente esgotados na sua capacidade de mudança, não tendo soluções para os problemas presentes e, muito menos, para aqueles que por aí virão. Mas como “o futuro é já ali, ao virar da esquina”, olhemos com atenção e esperança para o próximo dia 23 de Agosto de 2017, e mostremos o sinal vermelho àqueles que, voluntaria­mente e por incompetên­cia, nos conduziram à trágica situação em que nos encontramo­s. Afinal, este é o nosso KIMBO!

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