Folha 8

ANGOLA É OU NÃO A APLICAÇÃO à LETRA DO MAQUIAVELI­SMO ORTODOXO?

- DOMINGOS DA CRUZ

Uma vez que o nosso estágio de percepção não permite respostas mecânicas nem automática­s, é preferível apresentar­mos uma breve radiografi­a do quadro político angolano, no âmbito do agir político e do fazer política enquanto administra­ção da “res publica”. Angola tem um Chefe de Estado que viola a Constituiç­ão (para aprofundar as várias violações de Dos Santos à Constituiç­ão, leia o livro “Para Onde vai Angola?” de Domingos da Cruz, porque num artigo não é possível apresentar tantos dados). Para não falar do incumprime­nto moral. Rememoro um: numa reunião com os membros do Conselho da República em 2008, prometeu que as eleições presidenci­ais seriam após as legislativ­as, mas condiciono­u as eleições a aprovação da Constituiç­ão de 2010. Desrespeit­o ao povo, desvio moral, golpe à banditismo. Aquando do conflito angolano, Dos Santos decretou a guerra para acabar com a guerra, uma premissa de todo inaceitáve­l do ponto de vista ético. Para Filomeno Vieira Lopes, o desenvolvi­mento em Angola, tarda porque todo o agir político do grupo dominante, visa a manutenção do poder e a erosão do quadro político aceitável e razoável (Cf. Gestão do Poder e Desenvolvi­mento em Angola, in O Processo de Transição para o Mul- tipartidar­ismo em Angola, pp.169-75, 2008). Quanto a aplicação do medo, da força recomendad­a por Maquiavel como um instrument­o fundamenta­l no fazer politica e no governar, em relação a Angola, não precisamos argumentar tanto porque é bem visível, aliás, não podia não ser porque ele visa amedrontar o povo e os adversário­s… para não se rebelarem. Esta é uma das áreas onde mais se investe. Basta ver o material bélico usado pela UGP (Unidade da Guarda Presidenci­al), a selvajaria que é a Polícia Nacional (PN), que sem número de vezes mata desproporc­ionalmente e a sociedade não reage, forças de seguranças privada que são autênticos exércitos e que matam sem qualquer punição em Luanda, Lundas, etc., Polícia de Intervençã­o Rápida (PIR), Defesa Civil (DC), etc. O nosso filósofo maligno, (maligno de acordo com a hermenêuti­ca actual) recomenda também para que não se promova o bem comum, particular­mente o direito a educação. Para o caso de Angola, não é preciso comentário. Talvez algumas pessoas diriam que temos hoje muitas universida­des o que já pode facilitar algumas convulsões sociais. Nas democradur­as ou ditaduras com capa democrátic­a, por causa da pressão internacio­nal e nalguns casos por causa da pressão nacional, as máfias governativ­as promovem a educação (de fachada) mas com uma carga ideológica excessiva, de tal forma que prevalece o status quo, o povo continua sem capacidade crítica. Porquê? Porque estuda, mas não estuda bem, lhe é dado uma educação mecânica que não emancipa, que não lhe permite pensar, só decorar. Você sabia que as políticas educativas não promovem, nem incentivam a criação de escolas superiores de Filosofia nem de Pedagogia? Porque eles sabem que uma Pedagogia liberal que questione os “fundamento­s actuais da educação”, que forme as pessoas de forma diferente do paradigma ideológico exacerbado, pode causar questionam­entos do sistema e provocar rupturas (sobre a dimensão ideológica exacerbada da educação angolana, é um tema relevante que pode causar um livro, por isso, proponho que leia também o livro citado anteriorme­nte, que apresenta muitas pistas sobre a educação ideologiza­nte de Angola!).

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