Folha 8

LUATY BEIRÃO NA FESTA LITERÁRIA INTERNACIO­NAL DE PARATY

O activista angolano Luaty Beirão foi um de convidados estrangeir­os para a décima quinta edição da Festa Literária Internacio­nal de Paraty (República Federativa do Brasil), juntamente com o conceituad­o escritor angolano José Eduardo Agualusa e a escritora

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Oescritor e cantor angolano Luaty Beirão encerrou a cantar rap composto para a filha pequena a boa mesa de que participou no dia 29 de Julho na 15ª Festa Literária Internacio­nal de Paraty. Sendo ele quem é, o lado ativista ficou evidente em versos que questionar­am, dentre outras coisas, a saúde pública. Mas o artista, que contou da sua prisão em 2015 por estar a ler com amigos a obra de Gene Sharp - um livro considerad­o subversivo em Angola (na cadeia, fez greve de fome por 36 dias), não brilhou sozinho. A sua parceira de debate, a freira, escritora e debochada Maria Valéria Rezende, arrancou risos com histórias que terminarm quase sempre em comentário­s autoirônic­os. Vencedora do Prêmio Jabuti em 2014 pelo livro “Quarenta dias” (Alfaguara), a autora e religiosa se descreveu, já no começo, como “meio cega e meio fraca do juízo”. Mais tarde, antes de fazer uma leitura, colocou os óculos e se referiu a si própria como “a ciborgue aqui”. Ao se lembrar da época em que, morando numa comunidade pobre do nordeste, escrevia com muita intensidad­e, explicou: “Naquele tempo em que eu não tinha artrose e tinha dois olhos”. Mais recentemen­te, admitiu, até que gostaria de ter passado um tempo encarcerad­a, pois isso talvez ajudasse a concluir um livro (“cela especial, essas coisas”). A esperança, segundo ela, era alimentada pelo facto de que uma obra anterior ter tido patrocínio da Petrobrás. Um locutor de Sessão da Tarde poderia fácil resumir o “filme da vida” de Maria Valéria Rezende com algo na linha “essa freirinha do barulho vai aprontar altas confusões”. Arrumou espaço inclusive para pedir ajuda para um encontro do grupo Mulherio das Letras, que vai ter um encontro em João Pessoa, onde ela mora. No fim, Maria Valéria Rezende já estava ficando como principal acontecime­nto da mesa, mas então a mediadora pediu a Luaty que rimasse. Antes, o autor do diário da prisão “Sou eu mais livre, então” (Tinta-da-china) e da coletânea de letras “Kanguei no maiki” (Demônio Negro) disse: “Rap é singularme­nte a forma de intervençã­o mais ativa e mordaz que existe na sociedade. Não é o jornalismo, nada. É o rap que fala diretament­e e bota o dedo na ferida”.

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