Folha 8

“VENHA A NÓS O VOSSO VOTO” (JÁ CONTABILIZ­ADO, É CLARO!)

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Usando , como esperado, a máquina do regime/ Estado, o MPLA traçou, no arranque da campanha eleitoral, o objectivo já definido nos bastidores com a sua sucursal eleitoral (CNE), de atingir uma “vitória qualificad­a” nas eleições gerais angolanas de 23 de Agosto. Assim, aos 42 anos de poder, o MPLA quer somar mais uns anitos, e depois mais outros e outros. Aposição está expressa numa declaração oficial do Bureau Político do MPLA sobre o início da campanha eleitoral, que se vai prolongar até 21 de Agosto, e antecede o primeiro acto formal com o cabeça-delista do partido, general João Lourenço. Na mesma declaração, o partido, no poder em Angola desde 1975, afirma que “uma vez mais, o povo angolano vai mostrar a África e ao mundo a sua maturidade e responsabi­lidade política”, dando às eleições gerais que se realizam dentro de 30 dias “a real dimensão que o processo democrátic­o da República de Angola merece”. Recorde-se que, segundo o próprio José Eduardo dos Santos, a democracia em Angola foi imposta e não correspond­eu, nem correspond­e, a uma opção voluntária do regime. Aliás, na velha tradição de outros ditadores africanos, não há problemas em adoptar a democracia desde que sejam eles a continuar a mandar. Simples. “O MPLA vai fazer da sua campanha eleitoral um momento de festa, de elevado sentido patriótico e democrátic­o, alicerçada nas suas propostas para o quinquénio 2017-2022 e com respeito à diferença e ao próximo”, sublinha a declaração do Bureau Político. Sentido patriótico que passa por ter, sem rodeios e de forma oficial, a Polícia (que deveria ser Nacional) e as Forças Armadas (que deveriam ser do país) a apoiar o candidato do regime. Tal como tem o apoio da Comissão Nacional Eleitoral, bem como de todos os outros órgãos de soberania que, em teoria, deveriam ser independen­tes. Como se isso não fosse bastante, o MPLA exorta ainda os “militantes, simpatizan­tes e amigos” do MPLA a que, no dia das eleições, “compareçam massivamen­te e sejam os primeiros a marcar presença nas assembleia­s de voto”, de forma a “garantir a vitória qualificad­a” do partido e do seu candidato, João Lourenço, que, como cabeça-de-lista, concorre à eleição, por via indirecta, para o cargo de Presidente da República. Recordando tratar-se da quarta vez, na história multiparti­dária de Angola, que os eleitores são chamados a votar, o partido presidido por José Eduardo dos Santos insiste que “o voto de cada angolano é importante, constituin­do um direito inalienáve­l de cada cidadão eleitor, que deve ser exercido de forma livre e secreta, sem qualquer constrangi­mento”. Aos cidadãos eleitores e ao povo angolano em geral, “o MPLA reitera a sua disposição de continuar a trabalhar, no sentido de eliminar a fome, de reduzir substancia­lmente a pobreza e de conduzir o país para o desenvolvi­mento e o bem-estar, melhorando o que está bem e corrigindo o que está mal”. Ou seja, o MPLA reitera a (in)disposição de fazer o que promete há 42 anos e que nunca cumpriu. Alguém, no regime ou fora dele, se lembra que Agostinho Neto disse que o importante era resolver os problemas do Povo? A Constituiç­ão angolana aprovada em 2010 prevê a realização de eleições gerais a cada cinco anos, elegendo 130 deputados pelo círculo nacional e mais cinco deputados pelos círculos eleitorais de cada uma das 18 províncias do país (total de 90). O cabeça-de-lista pelo círculo nacional do partido ou coligação de partidos mais votado é automatica­mente eleito Presidente da República e Titular do Poder Executivo.

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