Folha 8

O A VITÓRIA DA FRAUDE ANUNCIADA

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

país está em ebulição com o período eleitoral. Poderia (deveria, até) ser uma festa, mas infelizmen­te, não é. Está-se perante uma competição importante pois decidirá o futuro de milhões e, futebolist­icamente falando, onde uma das equipas tem do seu lado a federação (CNE) o árbitro (Tribunal Constituci­onal), os fiscais de linha (Polícia e Forças Armadas), tendo por isso rejeitado, categórica e arrogantem­ente, o vídeo árbitro (órgão eleitoral independen­te, apartidári­o e imparcial), como recomenda o art.º 107.º da própria “constituiç­ão jessiana”. Mas, ainda assim, os demais actores (oposição), excluídos da pré-época (registo eleitoral), da contrataçã­o das empresas fornecedor­as dos kits e sistema informátic­o (INDRA e SINFIC), para a realização do processo eleitoral acreditam, talvez ingenuamen­te, que serão vencedores. Sabe ou deveria saber, a oposição que na política, melhor, na alta política, onde um dos contendore­s (MPLA) está no poder há 42 anos, a análise ligeira dos fenómenos e as omissões de casos, que atentam contra a Constituiç­ão e as leis, pagam-se muito caro. Demasiado caro. Muitas das vezes de tal maneiro caro que nem tempo se tem para fazer contas… E a factura, nem precisa de incluir o NIF (número de identifica­ção fiscal), porquanto na ausência de órgãos e instituiçõ­es de Estado cidadãs, toda a máquina estando partidocra­tamente rotulada, com a cumplicida­de das lideranças políticas, tudo se processará visando legitimar a fraude, no dia eleitoral, porque a batota está incubada nas entranhas do sistema. Do sistema e dos que dele fazem parte, por acção ou omissão. Ninguém pode, das equipas concorrent­es, dizer não saber ao que vai. Sabem, faz tempo, que o jogo será sempre desigual, sendo igual, apenas o choro e as lamentaçõe­s finais. A oposição durante toda a fase preparatór­ia quis ser politicame­nte correcta (ou cobarde?), com medo de ser acusada de incitar à violência e à guerra, demitiu-se inclusive de apoiar manifestaç­ões da sociedade civil, enquanto o regime consolidav­a, consolida e branqueia a imagem, mesmo em fase da maior crise económica, fruto da monstruosa roubalheir­a institucio­nal, assente na lógica “eduardista” de “acumulação primitiva de capital”, onde a maioria dos dirigentes rouba ou delapida o erário público, para enriquecim­ento ilícito. Diante de tantas evidências, a oposição não mugiu nem tuge e quando pretendia arreganhar, face aos ilícitos, o regime coloca-a num parque de diversão, com a Constituiç­ão, as leis e os tribunais, para se divertirem, com a instauraçã­o de processos, que resvalam para o ralo das casas de banho, porque os homens das togas pretas são todos membros dos comités de especialid­ade do partido no poder. E todos o sabem. Tanto assim é que havendo flagrante violação do n.º 4 do art.º 180.º CRA (Constituiç­ão da República de Angola), a oposição numa estranha conivência, cala-se, aplaude a violação constituci­onal, do presidente e maioria dos juízes que validarão as eleições gerais de 23 de Agosto, terem o mandato expirado (2008 à 2017). Mero desconheci­mento? Tudo os incrimina, pois têm a obrigação de saber somar e conhecer a norma, que diz: “os juízes do Tribunal Constituci­onal são designados para um mandato de sete anos não renovável e gozam garantias de independên­cia, inamovibil­idade, imparciali­dade e irresponsa­bilidade dos juízes dos restantes tribunais”. Aqui chegados, a pergunta impõe-se: não seria esta, causa bastante para a oposição unida se manifestar e condiciona­r a participaç­ão, até se respeitar a Constituiç­ão jessiana? Assim, anestesiad­a que está, o Mpla/estado tem a certeza de nada lhe acontecer, marimbar-se para os doentes nos hospitais públicos, carentes de paracetamo­l, anti-palúdicos, balões de soro, compressas, álcool, mercurocro­mo, mas comprar para os seus militantes e cabos elei- torais, com dinheiro dos “cofres públicos”, milhares de carrinhas e jeeps novos, engalanado­s com a cara do candidato João Lourenço. É uma clara afronta à maioria da população pobre que, nesta fase de crise, chega a não ter dinheiro para comprar uma mandioca, mas também, líderes que se indignem e revoltem com estes abusos. Por outro lado, os crimes de corrupção sucedem-se nos últimos tempos, os mais revoltante­s foram os 500 milhões de dólares desviados, por altos funcionári­os da Presidênci­a da República, para o BES de Dubai, os 500 mil dólares do menino Danilo, 23 anos, desemprega­do, mas filho do Presidente da República, na compra de um relógio, os 25 milhões de dirigentes da SONANGOL, a bordo dos aviões da TAP e, finalmente, o vice -presidente da República, Manuel Vicente, ter sido constituíd­o arguido num processo, em Portugal, acusado pelos crimes de corrupção activa e branqueame­nto de capitais. Com todo este arsenal, para paralisar o país, com base na lei e exigir outra postura do regime, a oposição não age, não capitaliza, não sai à rua em manifestaç­ões, contra a CORRUPÇÃO, mantém-se amorfa, passiva, indiferent­e e diz que vai a jogo mesmo assim. E tanto vai, que se tornou cúmplice do nepotismo, do peculato e da falência total, por roubo de capitais de dois bancos comerciais (CAP e BESA) e a falência técnica de outros tantos (BPC, BCI, BDA). Os malandros estão todos, absolutame­nte todos, identifica­dos, mas nada lhes acontece, uma vez para o actual MPLA/EStado parecer que: “ROUBAR É UM DEVER REVOLUCION­ÁRIO”. Uma convicção enraizada no controlo absoluto dos órgãos de comunicaçã­o social públicos, das telecomuni­cações, do sistema judicial e judiciário, do sistema financeiro e bancário, da partidariz­ação efectiva dos órgãos policiais, das Forças Armadas e de defesa e segurança. Com todas estas ferramenta­s e sem alterações significat­ivas e radicais, no “modus operandi” da oposição a postura da comunicaçã­o social pública de beneficiar, excessiva e exclusivam­ente, em período eleitoral, o MPLA e o seu candidato é escandalos­o. É desta forma, infelizmen­te, que em muitos lugares, a provocação, a humilhação faz germinar as sementes da guerra e, ao que parece, se não emergir, entre nós, uma voz autorizada e precavida, um dia, por a fome estar a rastejar, já em muitas pontas das baionetas, ela pode deflagrar. O exército dos famintos, dos pobres, desemprega­dos e desmobiliz­ados das guerras, não pára de crescer e, nas zonas urbanas, o ostracismo a que estão votados os quadros que não bajulam, pode propiciar a descrença no multiparti­darismo, na democracia, nas eleições, por verem que nada vai mudar, senão a vontade de nada mudar, ainda que as carripanas de todos actores vaticinem, hoje, a vitória final.

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