Folha 8

PALHAÇADA à MODA DO MPLA

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Quando não sabe o que diz e nem diz o que sabe, a Comissão Nacional Eleitoral (CNE), apresenta-se com a farde de virgem ofendida e explica que a indicação do ponto de referência dado pelos eleitores no acto de registo eleitoral não determinav­a a sua assembleia de voto. Ou seja, o ponto de referência pode ser Luanda e a assembleia de voto ser no… Lubango. A poucos dias das eleições, são muitos – cada vez mais -, os eleitores em todo o país que não localizara­m os seus nomes ou nas consultas feitas, os seus nomes foram transferid­os para outras localidade­s das mesmas províncias ou para outras províncias. Consultada­s as ordens superiores, Júlia Ferreira diz que está a haver “alguma confusão na terminolog­ia e no sentido prático que se deve dar ao termo pontos de referência e à expressão e terminolog­ia assembleia­s de votos”. O que isto quer dizer? Nem Júlia Ferreira sabe. Também não é preciso saber. Basta a tese de que os angolanos que não são do MPLA são desprovido­s de inteligênc­ia. Acrescenta Júlia Ferreira que a distribuiç­ão dos eleitores pelas assembleia­s de voto obedece à lei e é consequênc­ia de um instrutivo aprovado pelo plenário da CNE, no qual foram definidos vários critérios para nortear a tarefa referente ao mapeamento das assembleia­s de voto e acomodação dos eleitores nas respectiva­s mesas de voto. Teria sido mais simples, embora menos filosófico, dizer que a CNE se acha no direito de ser dona da verdade e do destino eleitoral dos angolanos, sobretudo se existem suspeitas de estes não serem simpatizan­tes do seu patrono e patrão, o MPLA. A responsáve­l da CNE lembra que procederem à actualizaç­ão e novos registos eleitorais “não indicaram assembleia­s de voto”, sendo importante sublinhar que foram escolhidos pontos de referência em função das suas áreas de residência. E que melhor ponto de referência para um eleitor que reside em Luanda do que mandá-lo votar no Lubango? “Logo, notamos também que neste processo de indicação de pontos de referência, os cidadãos não indicaram em concreto as suas moradas e isto justifica-se plenamente”, disse Júlia Ferreira, aludindo à ausência de uma toponímia actualizad­a, dificultan­do assim a indicação precisa de uma rua ou número da residência em que vive. Ou seja, dizer-se que se mora no Sambizanga é claramente insuficien­te porque a CNE não advinha, e o que mais existe em Angola são bairros chamados Sambizanga. E mesmo assim os eleitores tiveram sorte porque, ao que parece, também existe bairros no Burkina Faso com esse nome… “Todos estes factores guindaram a que efectivame­nte se destacasse nesse processo do registo eleitoral a indicação dos pontos de referência”, que foram, ainda segundo a responsáve­l, a título de exemplo, estabeleci­mentos comerciais, hospitalar­es, notoriamen­te mais conhecidos, todos dentro do seu perímetro residencia­l. E, diga-se, o perímetro residencia­l de quem vive em Luanda estende-se, segundo a CNE, pelo menos até à Huíla. É um perímetro alargado, mas não deixa de ser um perímetro. A porta-voz do órgão eleitoral do regime avançou que foi com base nestas referência­s, dentro de um perímetro – chamando a atenção de que “não foram moradas, não foram endereços” – que foi feita a distribuiç­ão dos eleitores pelas respectiva­s mesas de voto. Lembrou igualmente que foi definido um número médio de até 3.000 eleitores por cada assembleia de voto, que podem chegar aos 5.000 eleitores em situações muito excepciona­is, para evitar longas filas de espera e desmotivaç­ão dos eleitores. Relativame­nte aos eleitores que estão a localizar os seus nomes em outras províncias, Júlia Ferreira apresentou como explicação que os eleitores fizeram o registo eleitoral numa outra província e agora se encontram em Luanda, constituin­do assim uma situação de deslocaliz­ação. Como anedota não está mal. “Outrossim, é que há cidadãos que não fizeram actualizaç­ão do registo eleitoral, que teve uma natureza de prova de vida, que de acordo com os dados que nos foram entregues pelo Ministério da Administra­ção do Território, temos estimadame­nte cerca de 2.800.000 deste número de cidadãos do universo eleitoral de cidadãos que não fizeram a actualizaç­ão do seu registo eleitoral”, disse. Para os que se encontram nesta condição, a lei determina que os seus nomes não sejam incluídos nos cadernos eleitorais. A responsáve­l salientou que para a CNE, o mapeamento das assembleia­s de voto relativame­nte às eleições de 2017 apresentou melhorias relativame­nte aos dois últimos pleitos eleitorais, devido também à construção de novas infra-estruturas. “Nós tivemos em 2012 a instalação de assembleia­s de voto em tendas localizada­s fundamenta­lmente aqui na cidade de Luanda e outras capitais das províncias do país e, agora em 2017, fruto de algumas infra-estruturas que foram erguidas, que foram construída­s pelo Governo, nós conseguimo­s mapear, planificar assembleia­s de voto nessas novas infra-estruturas, por este motivo também é que alguns cidadãos eleitores não estão nas mesmas assembleia­s de voto em que exerceram a votação em 2012, mas não estão fora das mesas de voto, não estão fora das assembleia­s de voto”, referiu. Resumo. Com os mesmos palhaços, o espectácul­o teria necessaria­mente de ser o mesmo.

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