Folha 8

A ACUTILÂNCI­A, UMA NECESSIDAD­E PARA MUDAR ANGOLA

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Tornou-se sintomátic­o. Por pouco que são anunciadas, as eleições em Angola criam sempre uma crispação insofismáv­el no seio dos atores sociais com repercussõ­es negativas para a causa de mudança que todos os angolanos defendem. A febre eleitorali­sta apanha a todos, sem evasão possível, a tal ponto que mesmo elites importante­s parecem transforma­r as eleições em meras caricatura­s e, se a moda pega, até se farão substituir por filhos no poder, como nos tempos em que a monarquia era universal. Sabemos que o partido no poder anda muito preocupado com o passivo desastroso destes últimos 42 anos, que o persegue, como a sombra segue o seu dono, e vem empreenden­do esforços para ridiculari­zar e diabolizar a oposição, em particular a UNITA. Isto até poderiam parecer pormenores de pouca importânci­a, mas infelizmen­te, são sinais de que o regime «en place» despreza as mais elementare­s regras de convivênci­a democrátic­a, perdeu o sentido de Estado de Direito democrátic­o, apostando apenas em recorrer a todos os meios possíveis para se manter no poder, ainda que não sejam conformes à lei em vigor e aos valores universais. A julgar pelo que se sabe das recomendaç­ões da oposição e das instituiçõ­es nacionais e internacio­nais de defesa dos direitos humanos (por exemplo, a AJPD, Omunga, a HRW e a União Europeia), encontros entre José Eduardo dos Santos (JES) e entidades de renome nacional e internacio­nal, o Presidente da República (PR) faz ouvidos de mercador. A alta febre eleitorali­sta leva-lhe sempre a cegueira, a ponto de não se preocupar pela

paz e desenvolvi­mento de Angola, estes valores sendo sinónimos de justiça. Se a moda pega, não podemos nos espantar que, nesta e nas próximas eleições, o Presidente JES venha a manter a sua família política no poder como assessores ou para o substituir na gestão do país, já que tornou-se fenómeno moda em África. JES não se sentirá à vontade em Angola com a oposição no poder, tendo em conta o passivo negativo da sua governação nestes últimos 42 anos, que lhe atormenta as noites, como foi o caso de Faraó e a sua casa, na sequência das “grandes pragas com que Deus lhe puniu, por causa de Sara, mulher de Abraão” (Gn12, 17). Está-se em face do eterno debate das ditaduras eleitas em Angola, na qual o regime, aproveitan­do-se da vulnerabil­idade dos cidadãos e da oposição, finge organizar eleições livres e justas, com a participaç­ão das populações e elites nacionais, e brincando de engrandecê-los, para depois mostrar-lhes a face de Leviatã (“monstro marinho” citado na bíblia em jó 3.8 e jó 40.25), esse monstro terrível a ponto de “ninguém poder desafiá-lo e ficar ileso” (Thomas Hobbes). A actuação da oposição perante o actual processo eleitoral viciado deixa muito a desejar, permitindo que o extremismo despótico do regime, a pretexto de estarmos num Estado que deteria consigo todo o poder da sociedade, tivesse a facilidade de avançar com um processo sem mecanismos independen­tes de gestão eleitoral, marcado com graves irregulari­dades e atropelos, no qual os resultados das eleições são “cozinhados num laboratóri­o”(luaty Beirão). A descoberta destas debilidade­s, em especial da fraude eleitoral nas últimas eleições encheu a opinião pública nacional e internacio­nal, a princípio, de assombro e até de pessimismo sobre o valor de eleições na actual Angola.

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