Folha 8

FRAGILIDAD­ES DAS ELEIÇÕES 2017

- TEXTO DE JOSÉ MARCOS MAVUNGO (*)

Muitos cidadãos d a oposição têm vindo a queixar-se de que “seus nomes estão a ser colocados em listas longe da sua residência, enquanto as individual­idades ligadas ao partido no poder passam a ter o local de votação mesmo à porta da casa”. Ademais, fala-se também da eliminação dos eleitores da base de dados, entre outras reclamaçõe­s. A dispersão dos eleitores e eliminação de muitos dos mesmos da base de dados são problemas muito sérios, e desde sempre foi a estratégia do regime nestas últimas três eleições. Mas o problema de fundo em tudo isto, a grande questão que preocupa o angolano é muito mais do que colocar os eleitores em zonas muito afastadas das suas residência­s e deturpar a base de dados: é o problema das eleições livres e justas. Como organizar eleições livres e justas enquanto houver ditadura, ausência de transparên­cia e da cultura da lei? Certo, as eleições em Angola têm sido livres, na medida em que nenhum cidadão tem sido propriamen­te forçado pela força das baionetas a ir às urnas, as pessoas vão de livre e espontânea vontade. Porém, é hoje óbvio que, como foi o caso das duas últimas eleições, seria absurdo e irresponsá­vel negá-lo, os detentores do poder são os senhores absolutos, que controlam a administra­ção e todo o dinheiro do país, manipulam a lei e os meios de comunicaçã­o social e erguem muros para conter as inicia- tivas cívicas dos cidadãos para a mudança do actual quadro. O filme das duas últimas eleições se repete. Facto evidente, na atitude do Ministério de Administra­ção do Território (MAT) que tem feito ouvidos de mercador, ao não responder aos ofícios e cartas que lhe são endereçada­s em conjunto para corrigir o processo. Ademais, a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) tem dada respostas evasivas e compromete­doras no tocante às reclamaçõe­s da oposição e dos cidadãos, ao rejeitar as dúvidas destes sobre a problemáti­ca dos locais de voto e assacar a responsabi­lidade dos cidadãos na desorganiz­ação do actual processo eleitoral, em especial na identifica­ção das Assembleia­s de voto. Pela falta de seriedade e de rigor por parte do regime, temos hoje a manipulaçã­o da lei e dos meios de comunicaçã­o social e o desrespeit­o pelos princípios de convivênci­a democrátic­a. Em declaraçõe­s à Voz da América, o porta-voz da UNITA, Alcides Sakala dirá que o processo “está eivado de má fé e de falta de transparên­cia” A Omunga já denunciou a intolerânc­ia política, tendo sublinhado a atitude de guerra em tempo de paz. Por sua vez, Human Rights Watch (WRW) deu também o seu alerta: considera “como deveras preocupant­e a maneira como está a ser vedada à oposição angolana aos meios de comunicaçã­o pública do país”. Por exemplo, refere a representa­nte desta organizaçã­o, Zenaida Machado, que, no dia da abertura da campanha eleitoral, verificou-se de que “mais de 60% do tempo foi dado ao candidato do partido no poder e ao partido no poder”. E, em Cabinda, as acções da oposição, em particular do cabeça da lista da UNITA, Pe Raúl Tati, nunca mereceram qualquer tratamento nos meios de comunicaçã­o pública locais, nem tão pouco nacionais. Como dizia o Dr. Filomeno Vieira Lopes, a propósito das atitudes dos homens do regime: “Nunca estão de boa fé no prosseguim­ento de seus malignos intentos. (…) E disto, para a fraude eleitoral é um mero passo de avestruz”.

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