EDUCAÇÃO COMO VIOLÊNCIA
Aeducação em Angola é duma mediocridade avassaladora. Ela é reflexo do regime – ditatorial e, logo, opressora. Os professores, também vítimas dum ciclo opressivo, têm a “messiânica” tarefa de catalogar por meio dum certificado quem é menos medíocre e pode, assim, transitar de classe em classe até usufruir um título qualquer. O governo gere a educação por meio dum Ministério que elabora o programa escolar deficiente exactamente para mutilar os estudantes. Em Angola, casos de deformação de estudantes estão bem identificados. Por ex.: no ensino de base transmitia-se a ideia segundo a qual a rara planta Welwitschia Mirabilis matava quem tocasse simplesmente as suas folhas; a utilização de imagens de balas e granadas em manuais escolares para explicar operações matemáticas simples; ou a utilização de discursos do presidente como texto para análise morfológica e sintáctica em provas. Uma violência simbólica autêntica. Sobre o que realmente deve ser ensinado em escolas angolanas, o regime angolano não incentiva. Enquanto livros de escritores angolanos são co- locados em programa de leitura no Brasil e premiados pelo mundo, as autoridades angolanas apostam fortemente no combate à leitura e inclusive perseguem quem se dedica à escrita crítica, tudo isto num esforço que tem tido sucesso no sentido do aprisionamento psíquico. Os alunos preocupam-se apenas em ter notas para ter acesso aos empregos na função pública, e assim auferir salários estipulados à base do grau académico e não da competência profissional. Nessa busca desenfreada pelo dinheiro, alunos e professores se cruzam no corredor da corrupção, e têm a seguinte frase como inspiração: “o cabrito come onde está amarrado”, e assim anda o cabritismo. Da violência simbólica impingida pelo sistema educacional, chega-se facilmente à violência material, e daí ouvimos e assistimos à verborreia do embaixador-itinerante António Luavualu de Carvalho quando diz que o oxigénio que se respira em Angola é um dos ganhos da paz e, logo, é uma gentileza do presidente da República, ou ainda que a prioridade do governo na questão da seca no sul de Angola é “salvar primeiro o gado, que é o principal elemento de trabalho dessas populações e depois salvar grande parte da população que vive em Ondjiva, em Ochivarongo, Ochikango, etc., para que pudéssemos ter um equilíbrio”. Primeiro salvar os animais e só depois as pessoas. E ainda não compreendi a razão de ter citado duas localidades da Namíbia – as duas últimas – como pertencentes ao território angolano. Não há liberdade científica e académica em Angola, conforme o escritor e também meu companheiro de prisão Domingos da Cruz demonstrou num relatório onde, para além dos dados do inquérito por ele realizado e que mostra que professores temem represálias se exercerem essas liberdades, cita o índice da organização Scholars At Risk (SAR) que coloca Angola entre os países onde não tem liberdade para fazer ciência.