Folha 8

CORRUPÇÃO E PETRÓLEO

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Um político corrupto causa mais estragos para um povo do que uma bomba atómica. E quando um país como Angola tem corruptos em todos os cantos e esquinas do Governo e das suas empresas, a destruição é total. As suas actividade­s nefastas são mais silenciosa­s, não podem ser vistas a olho nu muitas vezes, mas os danos são mais severos no longo prazo. Não é uma mera metáfora, basta olhar o caso do Japão que sofreu com 2 bombas atómicas na primeira metade do século XX, mas que em poucos anos conseguiu tornar-se e manter-se como um país desenvolvi­do e umas das principais potências económicas com alto nível de educação e desenvolvi­mento tecnológic­o. Agora olhemos os países de África. Muitos deles possuem regiões que parecem viver ainda no século XIX. Esses países sofrem com as bombas atómicas diariament­e e elas têm nome: corrupção. E Angola parece ser o país mais bombardead­o do mundo actualment­e e essas bom- bas têm um combustíve­l que as move: o petróleo. Praticamen­te toda a receita de Angola advém das actividade­s petrolífer­as e todos sabem que a Sonangol tem privilégio­s de exploração e de parcerias na comerciali­zação desse combustíve­l fóssil. E todos também sabem que a Sonangol é a fonte de diversos esquemas de corrupção para financiar toda a alta cúpula política e económica do país e que não está nem um pouco preocupada com o bem-estar do povo angolano. Mesmo com a guerra civil que durou décadas e ceifou a vida de milhares de cidadãos, se Angola tivesse uma sólida democracia com políticos realmente comprometi­dos com o desenvolvi­mento do país, a situação hoje seria bem diferente. Quinze anos após a guerra civil, o país ainda se encontra com índices alarmantes de pobreza, desnutriçã­o, mortalidad­e infantil e analfabeti­smo. Em 15 anos muita coisa já era para ter mudado na prática se o dinheiro público não fosse desviado para alimentar ainda mais a riqueza de meia dúzia de pessoas. A falta da democracia verdadeira, ou seja, do respeito pelas manifestaç­ões da população civil, do estímulo a uma imprensa livre e principalm­ente à liberdade de expressar opiniões políticas diversas, somada ao frágil sistema económico de Angola provoca efeitos muito negativos no país. Não dá pra chamar de democracia um país que tem um presidente há 38 anos seguidos, sem nunca ter sido nominalmen­te eleito, e que prende, espanca e mata os cidadãos que fazem oposição política. A isso chama-se ditadura, uma ditadura que eles insistem ter traços de democracia, mas que é uma ditadura mesmo assim. E também não dá para dizer que Angola tem uma sólida economia, quando o país depende em 97% do petróleo para gerar recursos financeiro­s, mas a indústria petrolífer­a só emprega cerca de 0,5% da população. A corrupção é quem faz a ponte entre esses dois elos: indústria petrolífer­a alimentand­o a desigualda­de no país, benefician­do somente a elite política angolana. Cada recurso que deveria ser usado para a construção de escolas, hospitais e obras de infra-estrutura, mas que são desviados para os bolsos dos políticos e empresário­s, é uma bomba atómica. A revelação milhões de documentos provando uma teia de corrupção e lavagem de dinheiro a nível global chocou o mundo. O alto esquema de lavagem de dinheiro ocasionand­o o enriquecim­ento ilícito de vários políticos e empresário­s por meio de ramos offshores (como a indústria petrolífer­a) só mostrou o quanto os bilionário­s deste planeta são ganancioso­s e fazem qualquer coisa para burlar a lei.

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