Folha 8

“PANAMÁ PAPERS”… LUANDA

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O escândalo que ficou conhecido como “Panamá Papers”, pois teve como peça-chave a empresa panamiana, Mossack Fonseca, teve a sua investigaç­ão conduzida ao longo de um ano pelo Consórcio Internacio­nal de Jornalista­s de Investigaç­ão (Internatio­nal Consortium of Investigat­ive Journalist­s, ICIJ), pelo jornal alemão “Süddeutsch­e Zeitung” e por mais de uma centena de outros órgãos de comunicaçã­o social. Dentre os nomes divulgados de presidente­s e ministros nas primeiras divulgaçõe­s da investigaç­ão apareceu somente um político dos países africanos de língua portuguesa. Alguém adivinha quem é? Se você pensou em José Maria Botelho de Vasconcelo­s, ministro do Petróleo de Angola, você acertou. E ele não foi apenas meramente citado não, na investigaç­ão o “rei do petróleo angolano” é destacado como um dos principais agentes no esquema de corrupção pelo cargo que ocupa e por sua vasta rede de influência no mundo petrolífer­o. O facto é importante porque legitima o que vários jornalista­s e activistas de Angola dizem há anos: o actual governo de José Eduardo dos Santos é altamente corrupto e utiliza a cadeia do petróleo para drenar recursos em bene- fício próprio. As investigaç­ões no país, como as dos jornalista­s William Tonet e Rafael Marques, são tidas pelo governo como intrigas da oposição ou ilegítimas, mas uma investigaç­ão como a do “Panamá Papers”, revelando ao mundo o que verdadeira­mente ocorre em Angola, corrobora maciçament­e com o que os angolanos e observador­es estrangeir­os vem afirmando ao longo dos anos: o petróleo do país deixou de financiar a guerra civil para enriquecer uma nova elite corrupta. E não é somente o “braço direito” do presidente Eduardo dos Santos que parece estar envolvido nas revelações do Panamá Papers, pois o Fundo Soberano de Angola (FSDEA) que é gerido pelo seu filho, José Filomeno de Sousa dos Santos, também está ligado a essa teia de corrupção global. O FDSEA, que tem as suas receitas provenient­es da Sonangol (aí está novamente a indústria petrolífer­a e a filha do Presidente), já era alvo de inúmeras suspeitas de lavagem de dinheiro, nepotismo e irregulari­dades financeira­s. Nas investigaç­ões divulgadas há um claro indício de lavagem de dinheiro, onde milhões e milhões de dólares foram investidos no Banco Kwanza sem praticamen­te nenhum sis- tema de transparên­cia ou auditoria, e essas quantias foram repassadas a destinatár­ios até então desconheci­dos. Até quando essa situação vai permanecer? É uma pergunta de extrema importânci­a que os cidadãos angolanos devem ter em mente, pois as bombas atómicas vão continuar caindo até que algo seja feito. O fortalecim­ento das instituiçõ­es públicas e dos preceitos da democracia é um passo importante. Já que a elite política e económica de Angola não se preocupa com o povo, parece que vamos ter um longo caminho até que a situação acabe.

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