Folha 8

AGREDIR JORNALISTA­S ESTÁ E ESTARÁ NO ADN DO MPLA

- TEXTO DE JOSÉ MARCOS MAVUNGO (*)

Ojornalist­a Salgueiro U. Vicente da Rádio Ecclesia foi agredido por agentes de Segurança na manhã do dia 14 de Agosto (tal como o Folha 8 noticiou pouco tempo depois), na Base da Sonangol Integrated Logistics Services (SONILS), no Bairro Boavista, no Dis- trito Urbano do Sambizanga, quando estava em serviço nacional para o jornal das 7. Decorria uma reportagem em directo sobre a denúncia feita pelos moradores do Bairro da Boavista, dando conta de que sentiam-se mal devido a inalação do gás expelido pela SONILS. Depois de ter entrevista­do os populares sobre os desmaios, a mais de 100 metros da porta da Base da SONILS, o repórter da Rádio Ecclesia esperava por um segundo apontament­o de reportagem. Tendo reconhecid­o o Director da SONILS à distância, que se encontrava no pátio da empresa, Salgueiro apressou-se a pedir autorizaçã­o dos agentes de segurança que se encontrava­m no portão para que o permitisse­m entrar, afim de questionar o Director da Empresa sobre as acusações dos munícipes e, assim, ter a veracidade dos factos. Segundo contou, foi surpreendi­do pelo empurrão, mesmo antes de obter a resposta. “Pedi permissão aos agentes policiais no portão para entrar afim de ouvir o Director, estes começaram logo a agredir-me, empurraram-me simplesmen­te para não me deixar passar e começaram logo a agredir-me”, declarou à Rádio Ecclesia. Tentou reagir com palavras, mas continuara­m a agredi-lo. Segundo o jornalista Pedro Teca, do Folha 8, Salgueiro Vicente foi socorrido pela população no local para evitar o pior – talvez ser morto. Salgueiro recompôs-se e permaneceu na localidade a recolher dados sobre os desmaios. A reportagem foi emitida em directo pela Rádio Ecclesia no jornal da tarde. Nestes últimos dias tornaram-se frequentes as intimidaçõ­es e agressões contra jornalista­s e cidadãos da oposição por agentes de segurança ou desconheci­dos. José de Belém, também repórter da Rádio Ecclesia publicou no Facebook um “grito de socorro” esta segunda-feira, 14 de

Agosto, à Entidade Reguladora da Comunicaçã­o Social em Angola (ERCA), ao Sindicato de Jornalista­s de Angola (SJA), e à União dos Jornalista­s de Angola (UJA) no sentido de tomarem posição pública sobre a agressão a um colega. Carlos Alberto, ou Bruxo Raelia Alberto no Facebook, membro da ERCA reagiu ao “grito de socorro” de José de Belém dizendo: “E por que ele não faz queixa contra os agressores?! A Polícia existe para isso também. É um problema de Polícia, não é da ERCA, salvo melhor entendimen­to. Se a alegada agressão aconteceu, é contestáve­l a todos os níveis. O colega Salgueiro U. Vicente deve seguir os procedimen­tos legais para fazer vincar os seus direitos.” Observe-se, de entre as atribuiçõe­s da ERCA, consta a de assegurar o livre exercício do direito à informação e à liberdade de imprensa (art. 8.º, al. a). Face à flagrante violação destes dois direitos, a reacção de Carlos Alberto, ou Bruxo Raelia Alberto, só pode ser entendida como sendo a de um elemento ligado ao partido no poder, aliás o carácter do seu chefe Luís Fernando demonstra isso, militante convicto do MPLA. “O jornalista Salgueiro U. Vicente deveria seguir os procedimen­tos legais para fazer vincar os seus direitos”. O Sindicato dos Jornalista­s Angolanos (SJA) exigiu ao Comando Provincial da Polícia de Luanda que se investigue e se responsabi­lize o agente que agrediu o jornalista da Rádio Ecclesia, Salgueiro Vicente. Porém, desde o lançamento da campanha eleitoral, as respostas dos órgãos de Administra­ção da Justiça e da Ordem Pública têm sido cada vez mais evasivas e compromete­doras no tocante às reclamaçõe­s da de jornalista­s e dos cidadãos da oposição, sua dependênci­a ao regime “en place” obriga. “Será que este caso vai ficar também impune?”, interroga-se a jornalista Suzana Mendes? (*) Activista dos Direitos Humanos

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola