“FRAUDE ELEITORAL DE UMA PONTA À OUTRA”
JOÃO SOARES, EX-MINISTRO DA CULTURA DE PORTUGAL, NÃO TEM DÚVIDAS
Oantigo dirigente socialista português, João Soares, considera que as eleições gerais angolanas de 23 de Agosto serão uma “fraude de uma ponta à outra”, acusando o governo do MPLA (no poder há 42 anos) de não querer um escrutínio limpo. “Em Angola, (as eleições) nunca foram limpas e decentes. E estas (as eleições gerais de 23 de Agosto) continuam no mesmo modelo, não há observação eleitoral internacional, não há cadernos eleitorais decentes, não há presença dos partidos de oposição nas estruturas da direcção do processo eleitoral”, acusou João Soares, que participou em várias missões internacionais, inclusivamente em África, para acompanhar votações. No dia 23, “não vai haver controlo dos votos, em lado nenhum, nunca houve e vai continuar a não haver”, acusa João Soares, que foi próximo da UNITA, segundo partido mais votado e uma das partes na guerra civil que dividiu o país durante mais de 20 anos. Desde o processo de democratização, na dé- cada de 1990, “as eleições no país são sempre uma fraude, uma fraude equivalente à ladroagem de que aquela nomenclatura é responsável em Angola”, afirmou o antigo ministro da cultura português, que critica a falta de atenção dada pelos ‘media’ portugueses. “Uma campanha eleitoral que vai ter lugar no dia 23 deste mês em toda a Angola, não saiu notícias praticamente nenhumas nem lá (Angola) e nem cá (em Portugal)”, acusou, justificando logo de seguida: “É possível que uma campanha daquela importância num país como Angola mereça a indiferença que tem tido aqui? Aquilo é uma fraude montada de uma ponta a outra”. O regime liderado por José Eduardo dos Santos, que deixa a Presidência a 23 de Agosto, “nunca foi democrático, nunca foi legitimado por eleições decentes”. “Durante muitos anos foi um poder de partido único, num regime comunista como do leste da Europa e depois passou a ser um regime pluripartidário, com a presença de vários partidos políticos, mas nunca houve eleições legítimas e sérias”, salientou João Soares, que critica a perpetuação do poder de José Eduardo dos Santos e do MPLA. “O MPLA está no poder desde a independência de Angola e José Eduardo dos Santos está à frente do Governo angolano há quase 40 anos, só ficando atrás do Presidente da Guiné Equatorial” (Teodoro Obiang, que subiu ao poder em agosto de 1979 e o Presidente angolano assumiu o posto em Setembro de 1979), concluiu.