ESTAMOS A SOFRER MUITO, MUITO
No mesmo tom de desalento fala Marcelina Adão, de 55 anos, também portadora de deficiência que há seis anos pede esmolas na mesma zona de Luanda, onde ‘vive’ de segunda a sexta-feira. “Sou viúva, vivo com os meus três filhos que também não têm emprego e para me ajudar apenas fazem alguns biscates. Sou católica, rezo e durmo aqui na igreja da Sagrada Família durante 4 dias e depois regresso a casa”, revelou. Marcelina Adão diz ser costureira de “blusas e sacos de pão” e confessa que “gostava apenas” de ter uma máquina de costura “para remediar a vida”, por estar cansada de pedir esmolas. “Estamos a sofrer, o nosso dia aqui na rua é muito difícil, outros nos dão más respostas e dizem coisas muito chocantes”, desabafou, numa pausa entre os pedidos que vai fazendo aos automobilistas sempre que o sinal vermelho do semáforo está ligado. Ali próximo, no emblemático largo do 1.º de Maio, o cenário é idêntico. É lá que Gaspar Pedro, de 28 anos e também portador de deficiência, tenta “fazer pela vida”, queixando-se igualmente da falta de apoio das associações do sector. “Dizem que dão apoios aos deficientes, mas nós aqui nunca vimos nada. Daí precisamos de uma associação séria, aqui várias vezes aparecem pessoas a nos criticar por estarmos aqui a pedir esmolas”, confessa. Há um ano a pedir ajuda nas ruas de Luanda, afirma que atravessa várias dificuldades e que pouco que recebe das “pessoas de bom senso” não chega para pagar as despesas. “Muitos aqui até manifestam vontade de ajudar, mas também se queixam da crise e então nada conseguem nos dar. Uma crise que apenas afectou a nós, que somos pobres e estamos a sofrer”, atirou. Com o sexto ano de escolaridade e sem possibilidades para dar sequência aos estudos, Gaspar Pedro queixa-se ainda que a discriminação geral à pessoa portadora de deficiência em Angola. “Apenas estou aqui devido as dificuldades que atravessamos. Aquelas pessoas que acham que podem ajudar ajudam e outras apenas olham e nada dizem”, lamentou. A Lusa noticiou em Abril que mais de 50 pessoas portadoras de deficiência procuravam diariamente por ajuda nas instalações de Luanda da Associação Nacional dos Deficientes Angolanos (ANDA), com o seu presidente a assumir estar “preocupado” com a situação. Silva Lopes Etiambulo apontou a “incapacidade da instituição” em responder à demanda e fez saber que a busca por uma residência e um emprego lideram a lista as preocupações dos deficientes em Luanda. De acordo com o responsável, a instituição que dirige controla mais de 49.000 pessoas com deficiência cuja situação “continua ser preocupante”, com grande parte destes transformados em “mendigos”, pelas ruas da capital angolana.