SIPAIO UMA VEZ, SIPAIO SEMPRE
Certamente por viverem exilados em Angola, os partidos da oposição angolana reagiram com indignação às declarações de um destacado membro do partido no poder desde 1975, o MPLA, de que Angola é um país democrático. Se o pessoal da oposição vivesse mesmo em Angola e tivesse direito às mesmas mordomias e benesses que só o poder absoluto permite, certamente que estaria de acordo com o que o secretário do Bureau Político do MPLA para as questões eleitorais, como se fosse um simples sipaio Jú Martins, diz. Como bom militante do MPLA, Ju “que não é Sipaio” Martins disse numa entrevista à rádio estatal angolana (ou seja, à voz do dono) o que lhe mandam dizer, única forma que eles conhecem para manter privilégios que são negados à maioria doa angolanos. Não admira, por isso, que ele tenha dito que Angola “é sim um país livre e democrático onde todos se podem manifestar”. E o que ele diz é, aliás, a mais pura das verdades. “Todos se podem manifestar”. Só falta saber quem são esses “todos”. E se concluirmos que esses “todos” são todos os que são do MPLA, então Ju “que não é Sipaio” Martins tem razão. “A nossa sociedade é democrática, as pessoas podem manifestar-se à vontade desde que cumpram a Constituição e as leis vigentes”, disse Ju “Sipaio” Martins. Segundo ele, a Constituição é clara e inequívoca ao dizer que todos podem manifestar-se… a favor do MPLA. “Se 100, 200, 500 ou 20.000 pessoas se manifestam contra o poder instituído mas seis milhões ou cinco milhões acham que esse poder deve continuar a exercer funções e a implementar o seu programa claro que as instituições não se devem abalar com isso”, afirmou. Ora aí está. Se meia dúzia de angolanos dizem que o MPLA ganhou novamente as eleições graças à fraude, a maioria só tem que – provavelmente de acordo com a Constituição – mandá-los para a cadeia… alimentar dos jacarés.