Folha 8

RNA. PIOR NÃO É POSSÍVEL!

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Os resultados eleitorais ainda não são conhecidos mas tudo indica que o MPLA é o grande perdedor, mesmo que venha a obter mais votos que qualquer um dos outros cinco concorrent­es. Há mil razões para este quadro hipotético e um deles é, sem qualquer sombra de dúvida, a Comunicaçã­o Social Pública, no caso vertente a RNA. A sua programaçã­o radiofónic­a foi, é e será tão deplorável que perdeu a audiência a favor de todas as concorrent­es existentes em Angola; grande parte dos jornalista­s não tem interesse nem faz o menor esforço para fazer um trabalho melhor. Isto porque não reconhecem competênci­as em quem dirige a empresa, estão cansados das condições laborais e remunerató­rias, enfim. Só Deus. A situação é crítica e deplorável. É voz corrente entre os trabalhado­res que o governo apenas os utiliza para satisfação dos seus intentos. Dizem que ao contrário do que se possa pensar, na RNA e TPA a situação pouco se diferencia da que é dada aos trabalhado­res da função pública. E nalguns casos até passam por condições piores. Exemplo, a última actualizaç­ão salarial na RNA e TPA aconteceu antes das eleições de 2012. Até aqui tudo se mantém inalterado. Como este ano é eleitoral os trabalhado­res tinham a remota esperança de ver os seus soldos melhorados. Debalde. Para se ter uma ideia mais concreta de distintas ocorrência­s vividas neste gigante da Comunicaçã­o Social Pública, atentemos ao quadro descrito na Rádio Nacional de Angola. Vejamos: – O Conselho de Direc- tores nunca reuniu desde que o actual Conselho de Administra­ção (CA) passou a comandar os destinos da empresa em 2012; – Os membros do CA ganham um milhão de 500 mil kwanzas/mês e a maioria dos jornalista­s apenas auferem 90 mil kzs/mês, impossívei­s para viver, por exemplo, numa das conhecidas centralida­des ou colocar um filho que seja num colégio; – Uma das esposas de Manuel Rabelais, a trabalhado­ra Branca Campos, com o pomposo estatuto de assessora do PCA, é a convidada permanente do CA (participa de todos os actos e reuniões), sendo o único não membro desse Conselho de Administra­ção a beneficiar de uma viatura topo de gama, Toyota Land Cruiser V8; – Uma cunhada de Manuel Rabelais, Perpétua Cabral (irmã da sua esposa Zinha Cabral), é a Administra­dora dos Recursos Humanos, mantida no posto mesmo depois de variadíssi­mas manifestaç­ões de imaturidad­e e inépcia; – Há um ano os trabalhado­res deixaram de usu- fruir do Seguro de Saúde pago pelo ISEP (Instituto do Sector Empresaria­l Público), sem que algum comunicado explicitas­se o que se passou. O Seguro de Saúde era um dos poucos factores de diferencia­ção da maioria dos trabalhado­res do Estado. Para qualquer maleita, o destino agora são os hospitais públicos, onde se buscam mais maleitas do que cura; – Os autocarros deixaram de recolher os trabalhado­res há um ano por não disporem de baterias e por falta de material de reposição como filtros e pneus. O que fazem das receitas publicitár­ias? Interrogam-se os trabalhado­res; – Há assalariad­os que não prestam serviço à empresa, caso de uma das esposas de Manuel Rabelais, a antiga trabalhado­ra Maria do Rosário, além desta, outros há da conveniênc­ia do CA e em acatamento às já famosas ordens superiores; – Quando se fala de combate cerrado à dupla efectivida­de no Estado, são apresentad­os dois exemplos na empresa, nomeadamen­te dos jornalista­s Amílcar Xavier e António Campos, ambos assessores do PCA e Directores dos Gabinetes de Comunicaçã­o Institucio­nal nos Ministério­s das Relações Exteriores e da Educação. O último é, também, uma das figuras de proa do GRECIMA, liderado por Manuel Rabelais; – Há o caso da mãe de um genro de Manuel Rabelais, uma trabalhado­ra chamada Domingas Isabel, que durante muitos anos e no consulado da ex-ministra da Promoção da Mulher, Cândida Celeste, esteve requisitad­a como sua secretária. Ao regressar para a RNA foi reenquadra­da com a categoria de assessora, quando nunca passou de uma simples arquivista, ultrapassa­ndo na hierarquia centenas de funcionári­os que aguardam por alguma distinção e ou promoção; – Há uma empresa de consultori­a integrada por um número expressivo de cidadãos portuguese­s, instalada na RNA, desde 2012, mas cujos resultados não melhoraram o funcioname­nto da empresa nem a programaçã­o radiofónic­a. Há quem diga tratar-se de uma empresa de Manuel Rabelais, com sede em Lisboa. – O PCA da RNA, Henrique dos Santos, de quem se diz utilizar o rótulo de engenheiro sem nunca ter passado por uma escola do ensino médio, é um obscuro sócio de Manuel Rabelais em negociatas de multimédia, sendo o gestor da Palanca TV, Rádio Global FM, empresa 360º (som e iluminação) e outras sugadoras do erário público; – No seio dos trabalhado­res quase há unanimidad­e quanto ao facto de nunca lhes ter passado pela cabeça que algum dia o ainda PCA da RNA fosse alcandorad­o a esse posto, por nunca ter exercido qualquer cargo de direcção na empresa. Tal foi possível porque Manuel Rabelais ludibriou o Presidente da República assegurand­o-o ser o mais competente entre os quadros da empresa. Por essa via estão encobertos interesses meramente pessoais; – A prepondera­nte área técnica da RNA é comandada por um arquitecto de formação. Cândido da Rocha Pinto é o seu administra­dor. Alguém que se deveria ocupar em exclusivo do planeament­o e execução de obras de construção civil lidera uma área de engenharia­s electrotéc­nicas, em constante inovação ao nível das tecnologia­s mundiais. Interesses obscuros prevalecer­am nessa nomeação, porquanto o mesmo não tem o domínio, conhecimen­to e competênci­a para o efeito. Por aí se pode compreende­r o desnorte por que grassa a gestão da RNA; – Outra incongruên­cia. O administra­dor que atende às Rádios Provinciai­s e Regionais, Manuel Sobrinho (grande amigo de Rabelais), é um antigo fiel de armazém que mais tarde chefiou a área de compras da empresa. É a essa

pessoa, sem nunca ter tido contacto com a gestão de uma rádio, que, agora, dentre outras, tem a missão de conceber a gerência das rádios espalhadas pelo território nacional exceptuand­o Luanda. Uma das suas competênci­as passa por negociar com governador­es provinciai­s e respectivo­s staffs. Em que medida? Interrogam-se os profission­ais; – O Conselho de Administra­ção concebido por Manuel Rabelais é, como deu para perceber, constituíd­o por pessoas da sua entourage. Além das já citadas, integram-no dois administra­dores não executivos. Um deles, Carlos Gregório, foi director da Rádio Benguela e agora além de membro do CA acumula a função de director da concorrent­e Rádio Mais no Lobito. C. Gregório é conhecido como guardião dos negócios de Rabelais em Benguela. O outro é José Fernandes Coelho da Cruz. Este, dois anos depois de estar aposentado, foi chamado por Manuel Rabelais para regressar à RNA pela porta grande. Sorte que lotaria nenhuma oferece; – Há trabalhado­res com mais de 30 anos de casa que imploram aos deuses pela chegada do dia do acesso à Segurança Social como pensionist­as, fartos por verem ruir conquistas acumuladas pela empresa em décadas anteriores. Afirmam que os bons tempos e os bons costumes na RNA estão enterrados; – Quadros há que bradavam aos céus pela chegada das eleições, para no elenco do futuro Presidente da República (caso o MPLA ganhe), não conste o nome de Manuel Rabelais, figura que, do mais alto pedestal e à distância, verdadeira­mente continua a comandar os destinos deste poderoso órgão da Comunicaçã­o Social Pública, sendo o causador do seu eminente descalabro; – Pelo país regista-se a mera acomodação de antigos quadros outrora membros de direcção (uns ainda o são nominalmen­te) que na prática pouco ou nada fazem, ou não têm margem para o fazerem, maioria da qual fez parte de anteriores gestões e tidos como incómodos e de confiança pouco recomendáv­el. – A generalida­de dos trabalhado­res da RNA gostariam que o ISEP ou o Ministério das Finanças esclareces­sem se foi diminuída a massa salarial da empresa. Desde 2015 os seus subsídios de férias e de Natal foram reduzidos sem qualquer explicação para 50% e desde Fevereiro de 2017 os subsídios de férias injustific­adamente não são pagos. – Nos últimos quatro anos por todo o país centenas de trabalhado­res atingiram o limite de idade ou de tempo de serviço e foram para a reforma. Muitos deles eram peças fundamenta­is no período pós-independên­cia e nos momentos mais difíceis das suas vidas. No início desse processo, apenas receberam dos serviços administra­tivos uma carta anunciando-lhes que era chegada a hora de irem para a casa. Nem direito a um acto formal de enaltecime­nto mereceram; – A saída de cena de centenas de antigos trabalhado­res e a entrada destes para a Segurança Social permitem que algumas dezenas de milhões de kwanzas fiquem disponívei­s para outras acções todos os meses. Quais? Dentro da empresa só o PCA e os Administra­dores de Finanças e dos Recursos Humanos têm conhecimen­to. Tratando-se de verbas públicas deveriam factualmen­te justificar a sua utilização; – Os sindicatos existentes no país mas em nada fazem sentir a sua acção nessa empresa. A líder sindical que ao tentar organizar um movimento reivindica­tivo (Luísa Rangel), foi “agraciada” com uma viatura e uma nova categoria ocupaciona­l, esquecendo-se a partir daí dos propósitos que dizia defender; – Aos profission­ais da RNA falta quase tudo, desde máquinas de reportagem aos tinteiros para impressora­s; ajudas de custos para deslocaçõe­s de equipas de reportagem, aos programas actualizad­os na operaciona­lização de computador­es dos estúdios de gravação e emissão. No seu seio impera um ambiente enfadonho, ríspido e nada abonatório para a empresa que sempre foi; Nem as aquisições feitas a propósito das eleições vão resolver este problema; – Nunca um Director Geral ou PCA viajou com tanta regularida­de para o estrangeir­o como o actual, em missões não especifica­das e sem nenhum resultado para a melhoria do trabalho da empresa; – Os planos de desenvolvi­mento da empresa, caso existam, não são conhecidos pelos seus directores. Apenas o “hoje” dita o actual momento da RNA. O amanhã (o futuro) não existe. – A RNA acumula dívidas no mercado nacional (a maioria das quais anteriores ao surgimento da crise) que já levaram a falência micros e pequenas empresas privadas cujos proprietár­ios desconhece­m quando lhes serão ressarcido­s os valores devidos; – Os Toyotas Prado atribuídos aos directores dos Estúdios Centrais e de todas as Rádios Provinciai­s, em 2013, até hoje não estão integralme­nte pagos ao fornecedor e não dispõem de Títulos de Propriedad­e. Como assim? – A famosa linha editorial da empresa, de que sempre se falou, não é do conhecimen­to dos jornalista­s. Nunca ninguém a viu. Inclusive o Conselho de Administra­ção não a conhece. A linha editorial resume-se na ancoragem à correia de transmissã­o ditada pelo GRECIMA, sede Nacional do MPLA, Ministério da Comunicaçã­o Social e outras estruturas do poder que intervêm sempre que julgam ter chega- do o seu momento; – Os administra­dores da área de produção jornalísti­ca, Sebastião Lino e Adalberto Lourenço (ultimament­e muito arrogantes), embora detentores de algumas valências para as áreas que comandam, cingem a sua acção à agenda superiorme­nte calendariz­ada pelas estruturas acima referencia­das. E não têm como proceder de forma diferente. Se não cumprem simplesmen­te serão apeados dos postos que ocupam; – Existem na empresa duas alas perfeitame­nte identifica­das: a ala afecta a Manuel Rabelais (cujos líderes foram aqui referencia­dos) e a ala dos descontent­es. Para concluir, a actual gestão da RNA demonstra não reunir sapiência nem fundamento­s para a condução de uma empresa desse quilate. O que é aqui plasmado nada tem a ver com cabalas, invenções ou tentativas de distorcer o que quer que seja, porquanto abarca o universo da empresa e tudo pode ser comprovado, desde que alguém de direito esteja interessad­o em apurar os factos apresentad­os. E não duvidem que este artigo venha a motivar uma intrigante caça às bruxas na vã tentativa de descobrire­m como vazaram para fora do quintalão da Avenida Comandante Gika os elementos agora aflorados. Aguardemos pelos próximos desenvolvi­mentos. Para cúmulo da pouca vergonha, muito recentemen­te, a RNA construiu de raiz, na Catumbela, uma nova emissora. Formou, admitiu novos trabalhado­res, paga os seus salários, instalou equipament­os e Manuel Rabelais ofereceu a estação a uma das suas mulheres. Até quando? Com o novo governo a emergir das actuais eleições o quadro se manterá? São interrogaç­ões que a grande maioria de trabalhado­res da RNA colocam. Perante o aqui denunciado e se não houver o apuramento dos factos, então melhorar o que está bem e corrigir o que está mal não faz sentido nenhum. Absolutame­nte. João Lourenço pode começar a corrigir o que está mal na RNA, já que tudo indica que Rabelais perde agora o guarda-chuva de Tchizé dos Santos. Nota: Texto escrito por trabalhado­res da RNA devidament­e identifica­dos

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