SE O RIDÍCULO FOSSE ARROZ ACABAVA A FOME EM ANGOLA
OMPLA afirmou, na habitual mensagem pelo aniversário de José Eduardo dos Santos, líder do partido, Titular do Poder Executivo e chefe de Estado, que venceu “convincentemente” as eleições gerais de 23 de Agosto em Angola. E, é claro, se o patrão (MPLA) o diz, o empregado (CNE) confirma. A posição, expressa pelo Bureau Político do MPLA surge numa altura em que os partidos da oposição, que estão a fazer um escrutínio paralelo da votação, afirmam ter resultados diferentes dos dados provisórios avançados dois dias depois pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE), com ameaças de impugnação do escrutínio. Esses resultados provisórios apontam uma vitória do MPLA com 61% dos votos e, apesar de perder 25 deputados, a manutenção da maioria qualificada no Parlamento. Na mensagem pelo 75º aniversário de José Eduardo dos Santos, o último enquanto Presidente de An- gola, ao fim de 38 anos na liderança, o MPLA aproveita também para voltar a garantir que venceu as eleições, às quais concorreu com João Lourenço como cabeça-de-lista. “Neste momento de festa, o Bureau Político expressa a sua profunda gratidão por tão excelente trabalho realizado, em que deixa como legado uma Angola totalmente pacificada e reconciliada, numa altura em que os seus filhos acabam de dar, com base nos dados provisórios, mais uma vitória decisiva ao MPLA, o partido do coração do povo angolano, que acaba de vencer, convincentemente, as eleições gerais de 2017”, lê-se na mensagem, mais uma em que as louvaminhas dos acólitos cobrem de ridículo o país. Sobre o aniversário de José Eduardo dos Santos, que já no domingo contou com um espectáculo musical de homenagem, de seis horas e que reuniu 25 dos mais populares artistas nacionais ao vivo na baía de Luanda (para além dos “festejos” de barriga vazia de 20 milhões dos nossos pobres), o MPLA sublinha as “qualidades de patriota consequente, que soube manter a soberania da pátria angolana”, enfrentando “todas as invasões militares externas e as vergonhosas ingerências políticas de todo o tipo”. “A sua entrega invulgar à nobre causa da paz, da liberdade e do desenvolvimento de Angola é uma qualidade que o camarada presidente José Eduardo dos Santos, o arquitecto da paz, tem demonstrado ao longo da sua vida de militante e de dirigente político, característica que o tornou num excepcional estadista, numa bandeira e num caminho a seguir”, enfatiza a mensagem do MPLA. Mensagem que terá sido aplaudida pelos familiares das vítimas dos massacres de muitos milhares de angolanos do MPLA, no 27 de Maio de 1977, e também dos familiares das vítimas que o MPLA massacrou em Luanda matando mais de 50 mil cidadãos Ovimbundus e Bakongos, entre os quais o vice-presidente da UNITA, Jeremias Kalandula Chitunda, o secretário-geral, Adolosi Paulo Mango Alicerces, o representante na CCPM, Elias Salupeto Pena, e o chefe dos Serviços Administrativos em Luanda, Eliseu Sapitango Chimbili. O partido, no poder em Angola desde 1975, reconhece a “complexa missão de garante do funcionamento das instituições” do partido e do Estado Democrático de Direito (que Angola nunca foi nos seus 42 anos de independência), levada a cabo por José Eduardo dos Santos, “ressaltando os seus atributos de diplomata hábil, que tem sabido granjear prestígio para o país, no concerto das nações”. José Eduardo dos Santos foi reconduzido em 2016 na liderança do MPLA, mas nas eleições do dia 23 de Agosto não integrou qualquer lista do partido (do qual continuará a ser presidente), pelo que deverá deixar as funções no próximo mês, com a tomada de posse, prevista para 21 de Setembro, do novo Presidente angolano. Em Março de 2016, José Eduardo dos Santos anunciou que se retiraria da vida política em 2018.