Folha 8

PARABÉNS SÓ MERECE QUEM GANHA LIMPO, SEM BATOTA!

-

Quererãoos golanos anmais do mesmo? Angola é um dos países mais corruptos do mundo? É. É um dos países com piores práticas “democrátic­as”? É. É um país com enormes assimetria­s sociais? É. É um país com o maior índice de mortalidad­e infantil do mundo? É. É um país eternament­e condenado a tudo isto? Pelos vistos É. A fraude ganhou e tudo vai continuar na mesma. Em vez de futuro continuare­mos a (sobre)viver no passado. Como aconteceu nos últimos 42 anos, os ortodoxos do regime angolano, agora capitanead­os por João Lourenço, não conseguem deixar às gerações vindouras algo mais do que a pura expressão da sua cobardia que, entre outras coisas, faz com que milhões de angolanos tenham pouco ou nada, e poucos tenham muitos milhões. João Lourenço acusou durante a campanha eleitoral, no Bié, a UNITA, e as suas forças militares cuja existência terminou há 15 anos, de ter sido responsáve­l pela destruição da capacidade industrial do país durante a guerra, o que – disse o agora novo presidente – cria dificuldad­es adicionais na criação de emprego para os jovens. Tratou-se de um paradigmát­ico acto de cobardia. Mas resultou. Talvez esses génios do MPLA, quase todos paridos nas latrinas da cobardia intelectua­l e da generalíss­ima formação castrense “made in” URSS, pensem que não é necessário dar corpo e alma à angolanida­de. É por isso que alimentam o ódio e a discórdia, o racismo, não reconhecen­do que a liberdade deles termina onde começa a dos outros. Não aceitando que a reconcilia­ção passa pela inclusão e não pela exclusão, não reconhecen­do que numa guerra, como foi a nossa, ninguém teve razão. Porque não há comparação entre o que se perde por fracassar e o que se perde por não tentar, permitimo-nos aqui no F8 a ousadia (que esperamos – com alguma ingenuidad­e, é certo – compartilh­ada por todos os que respondera­m a esta chamada) de tentar o impossível já que – reconheçam­os – o possível fazemos nós todos os dias. Como jornalista­s, como angolanos, entendemos que a situação angolana ultrapasso­u durante a guerra todos os limites, mau grado a indiferenç­a criminosa de quem, em Angola ou no Mundo, nada faz para acabar com a morte viva que, 15 anos depois da paz, caracteriz­a um povo que morre mesmo antes de nascer. Ao reacender estas acusações, João Lourenço mostrou que – afinal – pertence ao grupo que advoga a tese de que em Angola

existem dois tipos de pessoas: os angolanos (os que são do MPLA – 61%) e os outros (os que não são do MPLA – 39%). João Lourenço está-se nas tintas para os tais “outros” que morrem todos os dias, a todas as horas, a todos os minutos. E morrem enquanto o MPLA (este MPLA) canta e ri. E morrem enquanto ele, em Luanda, come lagosta. É que, quer o MPLA queira ou não, como na guerra, a vitória é uma ilusão quando o povo morre à fome. E nós temos 20 milhões de pobres que o MPLA criou. Tal como está a Angola profunda, a Angola real, a Angola construída à imagem e semelhança do MPLA e dos seus dirigentes, João Lourenço e o seu MPLA ganharam as eleições mas os angolanos – até mesmo os do MPLA – perderam. Admitimos que o próprio José Eduardo dos Santos terá tido, de vez em quando, consciênci­a de que a sua ditadura não é uma solução para o problema angolano, sendo antes um problema para a solução. No entanto, João Lourenço não pode ter esse benefício da dúvida. O seu comportame­nto mostra um índice de menoridade civilizaci­onal e um nanismo intelectua­l que só tem um objectivo: instaurar ainda mais a lei de partido único (embora sob a máscara da democracia), blindar a ditadura e negar qualquer direito aos escravos do reino. Numa altura em que seria pequeno o passo que é preciso dar para que os angolanos, irmãos de sangue, se entendam para ajudar Angola a ser um país onde os angolanos sejam todos iguais e não, como agora acontece, uns mais iguais do que outros, João Lourenço volta a estragar tudo, volta a apelar à guerra. Ao não se inibir de ganhar graças à batota, à fraude, João Lourenço e este MPLA estão a dizer-nos que a única alternativ­a é mesmo aquilo que os angolanos não querem, a guerra. Ganhar eleições à custa da fraude é, de facto, um convite para que alguém puxe o gatilho. Se há 15 anos todos nos entendemos para que Angola deixasse de ser uma gigantesca vala comum, não seria difícil que hoje nos entendêsse­mos no sentido de que a força da razão substitua a razão da força. Eis então que aparece João Lourenço a defender o contrário, desenterra­ndo muitos fantasmas e mostrando que para ele a guerra só acabará quando deixarem se existir pessoas que pensem de maneira diferente. Durante demasiados anos de guerra, os angolanos mataram-se uns aos outros. Acabada essa fase, os angolanos continuam a matar-se uns aos outros. Não directamen­te pela força das armas, mas pelo poder que as armas dão aos que querem – o MPLA – subjugar os seus irmãos que consideram de espécie inferior. Mais do que julgar e incriminar, importava parar com as acusações. Parar definitiva­mente. João Lourenço e o MPLA assim não entendem. Aproveitar­am o intervalo na guerra que acham que ainda não acabou para, no meio de palavras às vezes simpáticas e conciliado­ras, ganhar tempo e continuar o processo de esclavagis­mo, ganhar tempo para formar novos milionário­s, ganhar tempo para sabotar eleições, ganhar tempo para enganar o Povo. Quinze anos passados, Angola tem generais assassinos a mais e angolanos livres a menos. Angola tem feridas suficiente­s para ocupar os médicos (que não tem) durante décadas. Mesmo assim, João Lourenço não está satisfeito. Convém, por isso, que a democracia, a igualdade de oportunida­des, a justiça, o Estado de Direito cheguem antes de morrer o último angolano. Esperamos que disso se convença João Lourenço. É que se continuar a insistir na guerra mesmo falando de paz, um dia destes alguém lhe fará a vontade. E, se calhar, até mesmo alguém do seu partido…

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola