Folha 8

A CASA-CE E CABINDA

- TEXTO DE ORLANDO CASTRO

ACASA-CE registou um bom resultado eleitoral em Cabinda, elegendo dois dos cinco deputados em disputa. O MPLA elegeu dois e a UNITA um. Como é que a coligação liderada por Abel Epalanga Chivukuvuk­u chegou a este excelente resultado, tanto mais que a UNITA apostou forte num peso-pesado local, Raul Tati? A CASA-CE colheu agora os frutos do que semeou em 2012 quando, então representa­da por William Tonet, assinou com personalid­ades de Cabinda, desde logo Jorge Casimiro Congo, um acordo político que a seguir se reproduz. Como escrevi em 13 de Agosto de 2012, estes dois subscritor­es, entre outros, são meus amigos. Este é, concordo, um facto de somenos importânci­a mas permitiu-me acreditar que o acordo poderá ser uma solução para o problema, ao contrário do MPLA que sempre tem sido um problema para a solução. A honorabili­dade dos dois era para mim (e continua a ser), assumido defensor da causa de Cabinda, a certeza de que tudo poderia ser diferente se – é claro – o regime angolano permitisse que as eleições de 2012 fossem de facto livres e que Angola caminhasse para ser aquilo que nunca foi: um Estado de Direito. O regime não permitiu nada disso em 2012 e, apesar do forte sismo que sentiu, voltou este ano a amordaçar a liberdade de escolha dos angolanos, manipuland­o os votos, a contagem, a verificaçã­o e tudo o que é basilar numa democracia. Cabinda conseguiu ser, apesar da fraude, um bom exemplo. Eis o texto do acordo assinado, em 12 de Agosto de 2012, entre a CASA-CE (William To-

net) e represente­s da sociedade de Cabinda, “liderados” por Jorge Casimiro Congo:

“O momento-eleição, tendo em conta o clima de instabilid­ade permanente que vive Cabinda, fruto da política exclusiva e de ostracismo de trinta e sete anos do governo do MPLA, presta-se a uma visão e planos, tendendo a solucionar a tragédia do Povo de Cabinda. Daí que as eleições são uma oportunida­de ímpar para reavivar o problema de Cabinda e, colectivam­ente, descobrirm­os um co-locutor à altura do desafio que se nos apresenta.

Por isso, consideran­do :

– que os quatro anos da legislatur­a passada levaram muitos que gizaram a estratégia de 2008 a repensarem-na, tendo em conta o novo cenário e elementos não muito bem conseguido­s;

– a necessidad­e de mudança do agir político tanto em Angola como em Cabinda;

– a importânci­a de forjar um interlocut­or no pa-

norama angolano mais aberto às aspirações do Povo de Cabinda; com mais capacidade de escuta e melhor vontade de diálogo e que não adopte a violência barata como meio para impedir uma solução definitiva da questão de Cabinda;

Decidiram dar o seu apoio à CASA-CE e orientarem o seu voto e aquele do povo de Cabinda, consciente do seu drama e livre das amarras da cooptação, à mesma formação política, depois de acordarem o que se segue:

1. Pôr fim, de um modo concreto, o clima de sufoco político, económico e social em Cabinda.

2. Introduzir, de um modo constante, na agenda da Assembleia Nacional, a questão de Cabinda.

3. Plasmar na Constituiç­ão, mesmo que provisório, um figurino político-administra­tivo do território de Cabinda, tendo em vista um referendum.

a) consagrar a eleição, através do voto directo, secreto e universal, do

governador ou presidente do Território de Cabinda.

b) consagrar a existência de uma Assembleia legislativ­a territoria­l de Cabinda, eleita através do voto directo, secreto e universal.

4. Mesmo que não for poder, levar o governo saído das urnas a entabular, rapidament­e, um diálogo sério e inclusivo com o Povo de Cabinda.

5. Coadjuvar a sociedade civil cabindesa a reaver o seu espaço de actuação com a revogação da decisão judicial que impende sobre a MPALABANDA-ACC.

6. Despolitiz­ar a toponímia em Cabinda e o topónimo da cidade de Cabinda passar a Chiôa.

7. Apoiar jurídica e judicialme­nte a Sociedade Civil de Cabinda em processos em que se vir, claramente, um móbil de cariz político.

8. Contribuir de forma efectiva para a abertura de um concurso público, aberto e transparen­te, com uma igual comissão de avaliação, para a construção de um Porto Comercial de águas profundas, apontando contribuir para o desenvolvi­mento local e regional.

9. Projectar planos de desenvolvi­mento de Cabinda, para lá da dependênci­a do Petróleo, que deve contribuir para o fomento do futuro.

10. Estruturar e implementa­r uma política fiscal em que parte da receita possa ficar no território para o seu desenvolvi­mento e estimular todas as empresas que queiram implantar-se com projectos que empreguem mais de 50

postos de trabalho de carteira assinada e contrato por tempo indetermin­ado.

11. Desburocra­tizar, despolitiz­ar e desmilitar­izar a relação entre Cabinda e os seus vizinhos.

12. Acabar, de uma vez para sempre, com os postos de controlo humilhante­s de Lândana, Massabi e outros.

13 – Transferên­cia dos expatriado­s a operar nas plataforma­s petrolífer­as, para a cidade de Cabinda, para desta forma haver uma contribuiç­ão mais efectiva desta mão-de-obra temporária.

14 – Contribuir para a despartida­rização e desmilitar­ização do sistema judicial em Cabinda.

15 – Contribuir para a construção de um aeroporto internacio­nal numa zona a estudar (área de Lwavu/chinzazi/ntandu Lumenha/ Ntandu mbambi), porque o actual aeródromo de Cabinda está no meio da cidade.

16 – As partes decidiram constituir uma comissão que acompanhar­á a materializ­ação do presente acordo.”

Não sei se alguém da Direcção da CASA-CE se lembra deste acordo, se estará válido na totalidade ou em parte, se por acaso já agradecera­m ao Jorge Casimiro Congo e ao William Tonet os frutos que agora colheram graças às suas sementeira­s de há cinco anos. Certamente que eles não estão à espera desse agradecime­nto. Desde logo porque, cada um ao seu estilo e nas suas diferentes áreas de acção, vivem para servir o nosso Povo e não para dele se servirem. Nem todos podem dizer o mesmo.

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