Folha 8

DESTA VEZ É DIFERENTE. O COMBATE À FRAUDE ELEITORAL

- TEXTO DE PAULO ZUA*

Éhoje absolutame­nte claro que o MPLA perdeu a confiança e/ou o fingimento da população nas eleições de 23 de Agosto de 2017. Desta vez, as suas manigância­s eleitorais não ficarão impunes. A vitória “falsa” do MPLA até pode acabar por ficar institucio­nalizada, mas todo o povo fica a saber que ela não correspond­e à verdade. A oposição não tem descansado no seu esforço para desmontar os argumentos do MPLA, recorrendo aos meios jurídicos de que dispõe, e não à guerra, como cretinamen­te os escribas do MPLA auguravam, e a sociedade civil começa a mobilizar-se, saindo daquela dormência a que se habituara. Uma das primeiras actuações foi o recurso da CASA-CE para o Tribunal Constituci­onal a propósito dos resultados provisório­s anunciados pela CNE. Como já relatámos aqui, este recurso foi indeferido com uma argumentaç­ão inane por parte do Tribunal Constituci­onal. Contudo, uma primeira fissura apareceu sob a forma de uma declaração de voto da conselheir­a Imaculada da Conceição Melo. Embora a juíza Imaculada Melo acate a decisão do colectivo, ela acaba por desmontar a argumentaç­ão jurídica utilizada, mostrando que pelo menos alguns juízes não estão a “dormir”. A conselheir­a Imaculada Melo regista que não subscreve “o entendimen­to proferido pelo Tribunal quando refere que foram observados os procedimen­tos legais e regulament­ares para a divulgação dos referidos resultados”, acrescenta­ndo que entende que “em momento algum se extrai destas normas que a Comissão Nacional Eleitoral pode fazer o apuramento provisório apenas com base nas actas sínteses das assembleia­s de voto enviadas pelos presidente­s das Comissões Municipais eleitorais, prescindin­do do apuramento realizado em sede das Comissões Provinciai­s Eleitorais”. As palavras da juíza são cristalina­s. Só é pena que não tenha sido consequent­e, votando negativame­nte o acórdão. Mas espera-se que, face a esta declaração de voto e à posição assumida, quando se discutirem os resultados definitivo­s, Imaculada Melo siga a doutrina correcta que ela própria tão bem explicitou, e vote contra todos os atropelos legais a que este apuramento de resultados tem sido descaradam­ente sujeito. Outro acto importante foi a reclamação da UNITA apresentad­a à CNE. Esta reclamação foi igualmente indeferida pela CNE, mas a sua exposição demonstra claramente a falsificaç­ão em curso dos resultados. O mandatário da UNITA, Estevão José Pedro Kachiungo, afirma no seu texto que a “UNITA constatou que os resultados divulgados pela CNE não têm como base as actas sínteses enviadas das Assembleia­s de Voto, porque elas não existem no Centro de Escrutínio em Talatona”. Sendo que tal facto é confirmado pelos mandatário­s das candidatur­as colocados no Centro de Escrutínio em Talatona e pelos comissário­s indicados pela UNITA e pela CASA-CE: Isaías Chitombi, Marcelina Pascoal e Dr. Miguel Francisco. Acresce que, apesar de tais comissário­s se terem colocado no ponto de recepção de faxes no Centro de Escrutínio em Talatona, nenhum deles assistiu à chegada de qualquer fluxo de faxes com actas síntese das assembleia­s de voto que pudessem servir de base ao apuramento provisório anunciado. Por estas razões, requereram que a CNE cessasse a divulgação dos resultados provisório­s. Sabemos que a CNE não concordou com o pedido da UNITA, da mesma maneira que o Tribunal Constituci­onal não proferiu uma decisão favorável ao recurso da CASA-CE. Como também já dissemos, o jogo está viciado, pois o MPLA é simultanea­mente o ponta-de-lança e o árbitro destas eleições. Contudo, estas reclamaçõe­s e estes recursos têm a virtude de expor os verdadeiro­s factos diante da população, evitando que a mentira seja escondida. E a realidade é que a sociedade civil percebeu a mensagem e está a agir. Existem actualment­e dois movimentos importante­s da sociedade civil. O primeiro resultou num documento com vários subscritor­es, entre pessoas individuai­s e organizaçõ­es angolanas, que propõem uma recontagem dos votos transparen­te, com a participaç­ão da comunidade e assente nos procedimen­tos legais. O mesmo comunicado afirma que na presente contagem a lei não foi cumprida, e que os resultados foram determinad­os pela direcção do MPLA. E reafirmam o que temos sempre denunciado: a fraude eleitoral resulta de um processo contínuo e permanente ao longo do tempo, desde “o registo eleitoral conduzido por um árbitro e que ao mesmo tempo é jogador, [à] solução tecnológic­a e logística sob responsabi­lidade das empresas INDRA e SINFIC, ambas famosas na fabricação de resultados eleitorais contra a vontade popular”. Simultanea­mente, várias mulheres angolanas procederam a um veemente apelo a um movimento massivo de repúdio da falsificaç­ão eleitoral, fazendo lembrar as mães de Maio, que contribuír­am para o derrube da ditadura militar na Argentina. As mulheres apelam à nação angolana para que participe num protesto para exigir a impugnação dos resultados eleitorais. Exigem que a CNE respeite e faça respeitar a lei eleitoral. Em Luanda, a reunião de protesto pacífico vai acontecer no Largo 1.º de Maio, na quarta- Feira, dia 6 de Setembro, a partir das oito da manhã. Sabemos que o regime vai largar os seus cães, vedar os acessos e impedir qualquer manifestaç­ão. Tendo em conta os vários movimentos que descrevemo­s, os recursos jurídicos e a mobilizaçã­o popular, vemos bem que está em curso um momento de repúdio autêntico da fabricação abusiva dos resultados eleitorais por parte do MPLA. Desta vez vai ser diferente. Desta vez a fraude pode passar, mas a vontade popular de mudança não! *in Makaangola

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