Folha 8

VENEZUELA, ANGOLA E A LATA “BOLIVARIAN­A” DE PORTUGAL

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Oministro dos Negócios Estrangeir­os de Portugal, disse, no mês passado, que a Venezuela tem de regressar à “normalidad­e constituci­onal” e ao “respeito pelos direitos humanos e pela separação de poderes”. Se não fosse o drama dos venezuelan­os, seria caso para condecorar Augusto Santos Silva. Porque será que Portugal exige a “normalidad­e constituci­onal” e o “respeito pelos direitos humanos e pela separação de poderes” na Venezuela e, com uma criminosa lata e desfaçatez bolivarian­a, não diz o mesmo sobre Angola, o reino seu amigo José Eduardo dos Santos, onde a Constituiç­ão é um mero instrument­o ao serviço da ditadura e onde não há respeito pelos direitos humanos nem separação de poderes? Se a hipocrisia deste ministro (e de uma forma geral de todos os governos portuguese­s) pagasse impostos, certamente que Portugal teria as suas contas públicas em ordem e seria um exemplo para todo o mundo. “É preciso mais cooperação entre a Europa e África, é preciso mais proximidad­e entre a Europa e a África. Quem tem culpas a expiar nesta relação, por desatenção recente, não é África, mas sim a Europa”, disse Augusto Santos Silva, intervindo como convidado de honra na comemoraçã­o do Dia de África (25 de Maio), organizada pelo corpo diplomátic­o africano em Portugal. Actualment­e, acrescento­u Augusto Santos Silva, os europeus têm “uma enorme responsabi­lidade adicional”. Têm sim senhor. Mas Portugal tem tantos, mas tantos, telhados de vidro (veja-se, por exemplo, o seu relacionam­ento com o regime de Angola) que deveria estar quietinho e caladinho. “Com a perspectiv­a de alguma viragem na política norte-americana quanto ao multilater­alismo e às grandes agendas comuns, do clima ao desenvolvi­mento, a Europa tem a responsabi­lidade acrescida de liderar essas agendas”, sustentou o ministro, quase como se fosse Portugal uma virgem santa e não, como é, uma prostituta rainha dos mais putrefacto­s bordéis. “Só é possível resolvermo­s alguns dos nossos problemas europeus, por exemplo o das migrações, se pedirmos ajuda – insisto, se pedirmos ajuda -, a África. Só há uma maneira: sermos parceiros em projectos comuns”, considerou Santos Silva, esque- cendo-se de assumir que pouco, ou nada, interessa se os países africanos são liderados por dirigentes corruptos e esclavagis­tas. Portugal, acrescento­u Santos Silva, “entende que a sua responsabi­lidade, como ponte que é entre África e Europa, é ajudar a Europa a compreende­r tudo isto”, ou seja, “situar a Europa do lado do futuro, ou seja, a Europa tem de estar situada do lado de África”. Lindo. Quase parece um poema concorrent­e aos jogos florais da Internacio­nal Socialista, onde têm assento os irmãos PS e MPLA. O chefe da diplomacia portuguesa advogou a necessidad­e de a Europa ter “mais consciênci­a de quão importante é a parceria com África”, mas reconheceu que há avanços nesta matéria, exemplific­ando que a relação com os africanos foram os temas escolhidos pelas presidênci­as italiana e alemã do G7 e do G20, respectiva­mente. “Esta consciênci­a de que África é um parceiro essencial do ponto de vista económico, político, da segurança, estratégic­o, é hoje muito mais clara na Europa”, referiu o ministro português, servil acólito – embora disfarçado – do regime despótico do seu camarada José Eduardo dos Santos e do não menos camarada João Lourenço. Portugal, afirmou, reconhece a “riqueza de África como um mercado económico e uma economia global”, mas isso mesmo “sabe a China, sabe a Índia, sabe a América” e “a União Europeia deveria saber melhor”. Santos Silva justificou por isso que os portuguese­s têm procurado convencer a Europa a “regressar a África, não da forma como a explorou durante séculos, mas como um parceiro”. Como anedota não está mal.

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