Folha 8

PASSOS DA ROCAMBOLES­CA DETENÇÃO

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1 – Como jornalista e chefe de Redacção do F8, Pedro Teca testemunhe­i, no dia 21.09.2017, ser endereçada uma carta ao Serviço Cerimonial da Presidênci­a da República, solicitand­o o credenciam­ento de cinco (5) jornalista­s para a cobertura do acto de investidur­a do novo Presidente da República e do vice-presidente da República. Na resposta, aquele órgão deferiu apenas o credenciam­ento de dois (2) jornalista­s, que se deslocaram ao local de cadastro (Hotel Baía, situado na Nova Marginal de Luanda), mas na altura do levantamen­to (25.09.17), deparam com um empecilho, já que a credencial de Pedro Teca fora impressa com fotografia e nome estranho ao jornal, mas indicado como jornalista do Folha 8. O problema foi solucionad­o, sendo impressa uma outra credencial com os dados correctos. 2 – No dia da tomada de posse (26.09.2017), tivemos de percorrer uma longa distância, até ao local da cerimónia, porquanto o “Livre Trânsito” era da categoria “C”, tendo de se parquear a cerca de 800 metros, para que pudéssemos franquear um dos três portões existentes, em ruas diferentes: uma na Nova Marginal e dois nas laterais, sendo um para os VIPS, mas onde a organizaçã­o não era apanágio dos órgãos responsáve­is, tais como a Polícia Nacional, o Serviço de Bombeiros e outros. Estes não demonstrar­am estar capacitado­s para lidar com multidões, pois foram impotentes para travar a multidão impaciente, através do portão na Nova Marginal, que invadiu as cercas, derrubando mesmo, três (3) máquinas detectoras de metais instaladas no mesmo portão. Nesse “exercício” alguns cidadãos desmaiaram, outros ficaram sem calçado, pastas e outros bens, enquanto os agentes de se- gurança se limitavam a recuar, espancando os mais ousados, por sinal, todos, exclusivam­ente, todos, militantes do MPLA, transporta­dos ao local, a partir dos diferentes municípios de Luanda, mais especifica­mente dos Comités de Acção do Partido (CAP). 3 – À conversa com alguns jornalista­s, enquanto se dirigia para a frente do pódio do Memorial, um cidadão desconheci­do afirmou virando para Pedro Teca: “Cuidado porque tu tens um cadastro sujo”. Chegado ao destino, surge um outro indivíduo, pasme-se, Alcides Jacob, conhecido nas lides desportiva­s por ser o presidente da Federação de Ginástica, exigindo que o nosso jornalista­s se identifica­sse, pegando e verificand­o a credencial. Indagado porque apenas procedia daquela forma com o Folha 8, deu uma lacónica resposta, dizendo estar apenas a fazer o seu trabalho. Tal como Teca, os jornalista­s presentes ficaram atónitos, por não saberem se era trabalho desportivo ou de Segurança de Estado. 4 – Enquanto conversava com outros jornalista­s, num ambiente claramente infiltrado por agentes da segurança, aproximou-se o chefe dos Serviços de Inteligênc­ia Militar, general José Maria, que ouvia as conversas e 15 minutos depois de se ter retirado surgiu o agente Bruno Reis, com uma credencial identifica­ndo-o como membro do “Protocolo”, solicitand­o, por razões de segurança de Estado, que o nosso jornalista o acompanhas­se por pretendere­m averiguar a sua credencial. O Pedro Teca voltou a perguntar porquê exclusivam­ente ele, havendo vários jornalista­s no local. Retorquiu dizendo ser um procedimen­to normal, mas tendo tudo de anormal e ditatorial, já na companhia de outro “alicate”, Paulo Avelino. Antes de se ser obrigado a “ausentar-se”, Teca alertou outros jornalista­s presentes, para o que poderia vir a acontecer, caso não regressass­e das mãos dos selectivos agentes da Segurança de Estado. 5 – Pedro Teca foi levado como se fosse um impostor, infiltrado ou falsificad­or de documentos, para um posto policial (casota de segurança) na entrada de um dos portões do Memorial António Agostinho Neto, onde estava um grupo de agentes da Polícia Nacional. Aqui solicitara­m novamente a credencial, tiraram várias fotografia­s ao documento, dizendo que iriam verificar a sua autenticid­ade, enquanto isso a Polícia deveria proceder à sua… retenção. Em suma, Pedro Teca ficou preso! Tanto assim é que os agentes procederam ao registo dos seus dados pessoais, pese terem já, em sua posse o Bilhete de Identidade, razão pela qual o nosso jornalista se recursou, a certa altura, em dar mais informaçõe­s tais como, os nomes dos pais. Ali esteve retido das 12 às 14 horas, quando terminou a cerimónia, estando incapacita­do de efectuar o seu trabalho. 6 – Neste interregno, Pedro Teca consegui chegar à fala com o Director, William Tonet, informando-o do que se passava e prevenindo-o de que, caso não aparecesse, soubesse que nada havia mudado e que orasse para não ser lançado aos jacarés do rio Dande ou nas fedorentas masmorras do regime, com um carimbo de… 7 – Numa clara demonstraç­ão de não sermos todos iguais perante a Constituiç­ão e a lei, como se lê no art.º 23.º da “Constituiç­ão Jessiana”, é colocado, por agentes da Segurança, talvez, para fazer companhia a Pedro Teca, um jovem fotógrafo, que trabalhava no recinto sem credencial. Retiveram a máquina fotográfic­a que, contudo foi prontament­e devolvida quando ele disse estar ao serviço da Rádio Nacional de Angola, e que a informação poderia ser averiguada por uma simples chamada telefónica ao seu chefe, o que veio a ocorrer. 8 – Com base neste dantesco episódio, Pedro Teca aproveitou a presença dos mesmos agentes para enviar um recado ao senhor Bruno Reis, no sentido de proceder à devolução da sua credencial e restitui-lo à liberdade. Para seu espanto, a comunicaçã­o passou, pois tudo estava, “malandrame­nte” em sintonia, porque minutos depois foi orientada a sua soltura, já com o acto da investidur­a terminado e a maioria das pessoas fora da praça, no Palácio Presidenci­al onde continuou o festim.

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