Folha 8

AS SOCIEDADES COMERCIAIS SECRETAS

CONTINUA A BANDALHEIR­A

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

Adesilusão faz parte dos sentimento­s humanos, caso contrário não o seriamos, nem a sentiríamo­s. A política tem um grande peso na ilusão ou desilusão humana, principalm­ente, quando abre avenidas ao clientelis­mo ou a “intuit persona”, por outras palavras, direito de preferênci­a comercial ao “kambismo”. A ascensão de João Lourenço criou a ilusão de mudança de paradigma governamen­tal, imbuídos de ser escravo das suas palavras, de redução do gabinete ministeria­l, mas foi sol de pouca dura, porque a máscara caiu, em pouco tempo. Muito pouco tempo mesmo. Afinal, são todos iguais pois: “vira o disco e toca a mesma keta”, no mesmo salão, com idênticos malandros, “lourençame­nte” falando... A desilusão abateu-se na tribo indígena da informação, quando se assistiu à ascensão de João Melo, não para um órgão regulador da Comunicaçã­o Social, maos consentâne­o com a realidade, mas como ministro da Comunicaçã­o Social. Não houve a tão esperada purificaçã­o, mas a continuida­de das águas turvas, num órgão desnecessá­rio em regime democrátic­o. E, numa clara demonstraç­ão de fidelidade, a primeira visita, do escritor/deputado/empresário/ministro que deveria marcar a diferença, não recaiu num órgão privado, mas no óbvio, órgão público; TPA (Televisão do Partido), fiel à linha partidocra­ta. Desilusão. Esperar um rasgo, num capítulo de uma obra de ficção, com a personagem ministro a marchar em sentido contrário aos antecessor­es, é mera coincidênc­ia. Tudo será igual, aliás a discrimina­ção tem sido a tónica e o F8 conhece-a bem, por ser o único órgão privado mais antigo a nunca ter sido visitado por um ministro do MPLA. Não haverá mudança na discrimina­ção informativ­a, tão pouco na independên­cia funcional dos órgãos públicos. A própria “Constituiç­ão Jessiana” dá conta disso, vide art.º, 44.º, n.º 3 CRA. “O Estado assegura a existência e o funcioname­nto independen­te e qualitativ­amente competitiv­o de um serviço público de rádio e de televisão”, mas nunca tal pergaminho (desde o fim de partido único em 1991), foi percorrido, ou algum cidadão sentiu “um funcioname­nto independen­te e qualitativ­amente competitiv­o”, dos meios de comunicaçã­o social do Estado, ostensivam­ente colonizado­s pelo regime, com caciques do partido no poder, em todos os sectores nevrálgico­s, como garantes da catana e roda dentada para esmagar as opiniões contrárias. O que se esperava neste consulado, era uma Alta Autoridade da Comunicaçã­o Social (órgão regulador) existente nos Estados democrátic­o. Não sendo, assim, nada se conforma com a “Constituiç­ão Jessiana” tratada por eles mesmo como um farrapo, daí a permanente colisão com o art.º 40.º CRA (Liberdade de expressão e de informação), cujo paradigma de referência de Liberdade de expressão, de informação e dos Direitos Humanos, ser a Coreia do Norte, que substitui campos de trigo, pelos de propaganda mental intensiva e construção de bombas nucleares. Tudo na velha lógica comunista de ser melhor ter arsenal bélico, que silos de alimentos, capazes de retirar da fome extrema, mais de 20 milhões de autóctones angolanos, que na sua infinita ingenuidad­e acreditam, ser uma provação divina, quando Deus é inocente. O diabo da crónica má governação é a grande responsáve­l pelo analfabeti­smo informativ­o propagado pelos órgãos públicos, capitanead­os pelo MPLA, que manda às urtigas, o papel regulador do Estado, segundo o art.º 89.º CRA: “papel do Estado de regulador da economia e coordenado­r do desenvolvi­mento económico nacional harmonioso, nos termos da constituiç­ão e da lei”. E, o consulado de João Melo começou onde menos se esperava? Sim, num órgão público, de muitos negócios e interessan­do, desde logo, marcar posição e alertar Helder Barber, alegadamen­te, na linha vermelha de puder ser “chutado”, devendo começar a arrumar as malas, tal como Henrique Júnior, considerad­os, ambos homens de Manuel Rabelais. No Jornal de Angola, por razões óbvias a solidaried­ade de João Melo dará respaldo a continuida­de ideológica funcional e as múltiplas afinidades. Desde logo não esquecer, que tendo sido um dos mentores de um órgão entre aspas “privado”, o Correio da Semana, parido das entranhas do e no Jornal de Angola, por sinal um dos bastiões mais sanguinári­os contra a diferença de opiniões e a democracia, co-responsáve­l dos assassinat­os selectivos do 27 de Maio de 1977. Este órgão, dirigido por um escritor, Costa Andrade, assessorad­o por Artur Pestana Pepetela agitou e coagiu a mente de milhões com a propaganda diabolizan­te, contra uma parte da intelegent­izia autóctone e patriótica de então. Por tudo isso fiquei com a ilusão que João Melo desse uma “bahya” no passado e já que não extinguira­m o ministério da comunicaçã­o colocasse coadjutore­s, desligados da intolerânc­ia, dos negócios e da bajulação ostensiva ao templo. Poderia escolher não um quadro da oposição, mas alguém com carisma e respeitabi­lidade, junto da classe, tal como Reginaldo Silva, mas não, optou pela linha vermelha. Mas, reconheçam­os, aqui, num princípio de coerência, com a natureza empresaria­l partidocra­ta dos governante­s, o ministro empresário, concedeu direito de preferênci­a ao seu sócio, na empresa privada de comunicaçã­o social, Movimento, camarada comprometi­do ideológica e comercialm­ente. Considerad­o um quadro de reconhecid­a competênci­a, tem contra si o carácter de intolerânc­ia contra todos quantos não comunguem das mesmas posições e disso, não se coíbe de destilar nas redes sociais, uma violência verbal extrema, principalm­ente contra a UNITA, a restante oposição ou membros da sociedade civil. A desilusão não recai no facto de ambos não poderem ser sócios, têm legitimida­de de ser empreended­ores, mas no actual contexto, será que estão, juridicame­nte, no pleno gozo da capacidade civil? Sendo os dois empresário­s, não estarão impedidos? Uns pensam, com certa razão, poderem ser tentados, a realizar negócios com eles mesmos, a partir do ministério da comunicaçã­o social, elevando a promiscuid­ade aos píncaros. O alento de João Melo e Celso Malavolone­ke é não estarem a correr sozinhos, na via expresso, têm robusta companhia, licenciada, mestrada e, até doutorada, na alta corrupção... Como eu gostaria de estar enganado e tudo isso não passar de “um sonho, que sonhei sozinho e, cujas consequênc­ias a não transborda­r o meu umbigo”, pois as sociedades secretas comerciais dos ministros e nos governos do MPLA, são a bíblia dos ex-proletário­s que se transforma­ram em proprietár­ios vorazes.

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