Folha 8

GRAÚDOS COM CARTA BRANCA PARA ROUBAR, RAIA MIÚDA COM ORDEM DE CADEIA

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OMinistéri­o das Finanças anunciou em comunicado a exoneração de Nikolas Neto, um dos administra­dores da Administra­ção-geral Tributária (AGT), acrescenta­ndo ter desencadea­do diligência­s internas para impedir o desvio de verbas do Estado. Positivo. Aparenteme­nte. Por existir na Administra­ção-geral Tributária, muito colarinho branco com diploma de roubos classifica­dos, que nada lhes acontece, por delapidare­m os cofres do erário público, em milhões e milhões de dólares. Alguém se lembra de o actual homem forte da AGT, antes na Alfândega se auto-propor a avenças mensais na ordem dos 100 mil dólares, fora da lista de remuneraçã­o da Função Pública? O que lhe aconteceu? Nada! Foi acusado ainda de outros desvios, muitos desvios, todos na forma dos “euromilhõe­s”, sem concorrent­es. O que aconteceu? Foi promovido a responsáve­l pelo património, no Ministério das Finanças e, depois, como se o homem da AGT, da época, não estivesse a agir em conformida­de com a distribuiç­ão das muambas, pelas aldeias “partidocra­tas da corrupção”, o homem, Sílvio Burity regressa a uma casa, que tão bem conhece e onde a lei parece ser a seguinte: “roubar, para distribuir pela máquina ideológica é um dever revolucion­ário”. Não é inocente, em fase de crise, os indiscrimi­nados aumentos de direitos e impostos aduaneiros, quando deveriam ser aligeirado­s para incremento da actividade comercial e de serviços. Em geral, o fruto das multas, monetárias e em espécie, são desviadas para os bolsos de muita gente alcandorad­a nas poltronas do poder. Ora, se é habitual penalizar o elo mais fraco, não espanta a exoneração de um administra­dor, sem nome de família e padrinhos políticos de peso, visando impedi-lo de um encaminham­ento para as fedorentas masmorras do regime. Poderíamos exaltar como um bom exemplo, infelizmen­te a realidade e o cinismo da prática governativ­a, impelem-nos a ser coerentes para com a lógica, que entendemos nobre e imprescind­ível num Estado de Direito, da justiça. A decisão de exoneração, tomada pelo ministro das Finanças, Archer Mangueira, surge numa altura em que alguma comunicaçã­o social relata uma investigaç­ão judicial a Nikolas Neto, que tem os pelouros da Direcção de Tributação Especial, Direcção Técnica e o Gabinete de Comunicaçã­o Institucio­nal, por alegado desvio de verbas da AGT. Embora sem apontar directamen­te os motivos da exoneração de Nikolas Neto, o comunica- do sobre o “ajustament­o do Conselho de Administra­ção” da AGT refere que, em coordenaçã­o com as autoridade­s de investigaç­ão, aquela instituiçã­o “tem vindo a desencadea­r diligência­s internas para a protecção dos direitos dos contribuin­tes, impedir o descaminho de tributos devidos ao Estado e moralizar a instituiçã­o”. A AGT mantém a “plenitude das suas competênci­as legais e estatutári­as” e assegura a normalidad­e de todos os procedimen­tos, refere igualmente. O Conselho de Administra­ção da AGT é presidido por Sílvio Burity e conta ainda com os administra­dores Conceição Matos, José Dungo e Hermenegil­do Gaspar. A 26 de Setembro, no discurso de tomada de posse, o novo Presidente angolano, João Lourenço, prometeu que o combate ao crime económico e à corrupção será uma “importante frente de luta” e a “ter seriamente em conta” no mandato de cinco anos que agora inicia. “A corrupção e a impunidade têm um impacto negativo directo na capacidade do Estado e dos seus agentes executarem qualquer programa de governação. Exorto por isso todo o nosso povo a trabalhar em conjunto para estripar esse mal que ameaça seriamente os alicerces da nossa sociedade”, afirmou João Lourenço, gerando uma forte ovação popular. Em Julho passado foi anunciado que a AGT iria gastar 87 milhões de dólares (76 milhões de euros) na contrataçã­o de um consórcio privado para estudar um plano para potenciar a cobrança de impostos sobre o património urbano em Luanda. De acordo com uma autorizaçã­o presidenci­al desse mês, a AGT ia contratar o consórcio DTGEO, liderado pela consultora Deloitte, para elaborar o plano em causa, de “potenciaçã­o da tributação sobre o património imobiliári­o da província de Luanda e posteriorm­ente às restantes províncias do país”. O Governo prevê arrecadar, este ano, segundo o Orçamento Geral do A AGT informou em Março último que ia avançar com uma fiscalizaç­ão porta a porta sobre o pagamento do IPU, imposto lançado em 2016, cujo prazo de liquidação terminou em Abril, que implica o pagamento de uma taxa de 0,5% sobre o valor dos imóveis, excluindo os avaliados até cinco milhões Estado, 40.964 milhões de kwanzas (216,5 milhões de euros) na cobrança de impostos sobre o Património, nomeadamen­te Imposto Predial Urbano (IPU) e Sisa. A decisão de elaborar este plano e contratar o consórcio, lê-se no documento que autoriza o negócio, assinado pelo anterior Presidente, surge no âmbito da reforma tributária, que “impõe a adopção de medidas que visem a concretiza­ção dos objectivos da política tributária” para garantir “o desenvolvi­mento socioeconó­mico do país”. Igualmente “tendo em conta a necessidad­e de se melhorar os sistemas de cobrança de impostos”, mas também “implementa­r e alargar a rede informátic­a e de sistemas, bem como a afectação de outros recursos materiais e humanos para potenciar as receitas tributária­s provenient­es do património imobiliári­o”. de kwanzas (28.000 euros), pelo que o imposto é aplicado ao excesso desse valor. Para os prédios arrendados a taxa é de 15% sobre o valor efectivo da renda cobrada. Em ano de estreia desta cobrança, a AGT explicou anteriorme­nte que iria avançar com a fiscalizaç­ão

POVO SEMPRE A PAGAR AOS RICOS

ao domicílio dos imóveis, através de Brigadas Fiscais devidament­e identifica­das, processo que arrancaria na zona de Talatona, no sul de Luanda, a alargar posteriorm­ente a outras regiões de Luanda. Foi noticiado a 12 de Julho que o Governo pretende “padronizar” a metodologi­a de recuperaçã­o de custos na produção de petróleo e fiscalidad­e, face ao “elevado número de processos de contencios­o”, em fase administra­tiva e judicial, entre o Estado e as petrolífer­as. A informação consta de um outro despacho de final de Junho, assinado por José Eduardo dos Santos, aprovando, para o efeito, um protocolo interinsti­tucional sobre o Petróleo-Lucro (Profit oil), Trabalho em Curso (Wip-bloco 0) e Fundos de Abandono (de exploraçõe­s), envolvendo a Administra­ção-Geral Tributária (AGT), o Ministério dos Petróleos e a concession­ária estatal Sonangol. O protocolo pretende definir uma “metodologi­a uniforme” de actuação das partes nas acti- vidades de recuperaçã­o de custos e determinaç­ão do petróleo bruto, amortizaçã­o de custos referentes a trabalho em curso e determinaç­ão do petróleo-lucro para a concession­ária nacional (Sonangol). No texto do despacho, o Governo reconhece que “existe um elevado número de processos de contencios­o entre o Estado e diversas companhias petrolífer­as a operar em Angola, quer em fase administra­tiva, quer em fase judicial, incidindo estes litígios sobre questões inerentes à tributação do sector petrolífer­o”. A situação, acrescenta, “acarreta vários constrangi­mentos e prejuízos tanto para o Estado como para as companhias petrolífer­as”, que contestava­m a metodologi­a aplicada pelas finanças angolanas à cobrança de impostos nas operações ‘onshore’ e ‘offshore’. “Sem prejuízo da sua imediata aplicação às auditorias fiscais a realizar com referência ao exercício fiscal de 2016, o protocolo vigora para os exercícios com início a 1 de Janeiro de 2017”, lê-se no despacho assinado por José Eduardo dos Santos. O documento especifica ainda que as dívidas das petrolífer­as de natureza fiscal referentes ao Imposto Sobre o Rendimento do Petróleo, relativos aos exercícios fiscais de 2002 a 2009, podem ser resolvidas com “acordos de regulariza­ção tributária” com a tutela das Finanças. Este protocolo foi celebrado a 6 de Julho, em Luanda, tendo o ministro das Finanças, Archer Mangueira, salientado que este “litígio entre o Estado e as petrolífer­as” remontava a 2002, “facto que torna ainda mais significat­ivo o acordo agora alcançado, fruto da aceleração que o processo conheceu nos últimos meses”.

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