PRESIDENTE, NÃO GOZEM COM A CHIPALA DO POVO FAMINTO!
OPresidente da República, João Lourenço, exortou no dia 11.10 o sector agrícola a colocar o país a “produzir a comida de que precisa”, estimulando a produção em grande escala, para acabar com a importação de alimentos e produtos agrícolas. Por outras palavras, realçou o fracasso da anterior governação do MPLA e de José Eduardo dos Santos. O chefe de Estado discursava no município do Cachiungo, na província do Huambo, na abertura da campanha agrícola 2017/2018, a primeira deslocação oficial desde que assumiu as funções, a 26 de Setembro, tendo pedido aos angolanos para regressarem aos campos. Mas como regressar se tudo é mais caro nas províncias, se não existe incentivo para o regente agrícola, que prefere ser motorista ou recepcionista em Luanda, por ganhar mais e ter mais oportunidades? Como regressar ao campo, quando não existem incentivos salariais, para todos quantos queiram ficar no campo, como no tempo colonial? Se um regente agrícola que ficar no Katchiungo ganha menos do que um motorista
em Luanda. Sendo assim e nestas condições o regresso torna-se quase uma miragem... “Vamos fazer tudo que está ao nosso alcance para não importar alimentos, porque temos capacidade de produzir comida, temos de ser nós a produzir a comida que precisamos, bem como exportar e angariar divisas com o excedente”, afirmou João Lourenço. Seria possível alcançar-se este patamar, mas a omissão voluntária ou involuntária do Presidente, quanto a uma importante ferramenta para se chegar a auto suficiência alimentar, seria o anúncio da criação de um “Seguro agrícola”, de Subvenção dos combustíveis, da criação de entrepostos agrícolas e da reabilitação dos silos, existentes, ao longo da linha dos Caminhos de Ferro de Benguela, sem estes estímulos, a par da subvenção de sementes, adubos e sistemas de rega, será muito difícil, nos próximos tempos uma inversão da actual tendência. De acordo com dados recentes do Instituto Nacional de Estatística, Angola importou só no primeiro trimestre deste ano o equivalente a 69.806 milhões de kwanzas (356 milhões de euros) em produtos agrícolas, além de 30.271 milhões de kwanzas (155 milhões de euros) em alimentos. Na sua intervenção, João Lourenço enfatizou que é chegada a hora de “semear para depois colher” (pelos vistos até agora o regime colhia antes de… semear), de forma a tirar maior proveito da terra, ao ponto de produzir bens alimentares não só para o próprio consumo, mas também para exportação. João Lourenço garantiu que o Governo vai manter a aposta na agricultura como uma das principais apostas como alternativa ao sector petrolífero no processo de diversificação da economia nacional, apesar de dificuldades como a escassez de sementes, adubo e de instrumentos de trabalho. Nesse sentido, a prioridade vai para a captação de investimento para o país, que permita a produção nacional de insumos agrícolas, mas também para o aumento da produção de cereais como milho, soja, feijão, de forma a potenciar igualmente a pecuária, com a auto-suficiência alimentar para o gado. O Presidente da República não disse, talvez não convinha, se a fórmula a aplicar, neste plano agrícola, será o mesmo que tem aplicado nas suas empresas agro-pecuárias, com recurso a mão de obra expatriada. Números governamentais recentes indicam que mais de dois milhões de famílias angolanas vivem da agricultura, sector que emprega no país 2,4 milhões de pessoas e que conta com 13.000 explorações empresariais. O país tem uma disponibilidade de 35 milhões de hectares de terras aráveis para a prática da agricultura, sobre uma superfície cultivada de cinco milhões de hectares (14%), além de uma faixa irrigável de sete milhões de hectares, metade dos quais ainda de exploração tradicional. Angola tem uma rede hidrográfica constituída por 47 bacias e com um potencial hídrico estimado em 140 mil milhões de metros cúbicos.