OS SELEIROS ESTÃO POR CÁ… MAS OS CELEIROS ZARPARAM
Em Malanje, durante a campanha eleitoral, João Lourenço disse que aquela província podia ser o celeiro de Angola, prometendo para isso apoio ao investimento privado, desde logo na instalação no país de uma indústria de alfaias agrícolas e montagem de tractores e defendendo a aposta na cultura local do girassol, do açúcar e do algodão. “O Huambo é o celeiro de Angola, a população é, por natureza, produtora, a produção é visível. Por que não continuar a apostar na agricultura? O planalto central tem condições para voltar a produzir com fartura e ser o celeiro nacional que foi outrora”, afirmou João Lourenço na abertura da campanha política no planalto central, em finais de Julho. Por mera curiosidade registe-se que, enquanto província ultramarina de Portugal, até 1973, Angola era auto-suficiente, face à diversificação da economia. Era o segundo produtor mundial de café Arábico; primeiro produtor mundial de bananas, através da província de Benguela, nos municípios da Ganda, Cubal, Cavaco e Tchongoroy. Só nesta região produzia-se tanta banana que alimentou, designadamente a Bélgica, Espanha e a Metrópole (Portugal) para além das colónias da época Cabo-verde, Moçambique, Guiné-bissau e São Tomé e Príncipe. Era igualmente o primeiro produtor africano de arroz através das regiões do (Luso) Moxico, Cacolo Manaquimbundo na Lunda Sul, Kanzar no Nordeste Lunda Norte e Bié. Ainda no Leste, nas localidades de Luaco, Malude e Kossa, a “Diamang” (Companhia de Diamantes de Angola) tinha mais 80 mil cabeças de gado, desde bovino, suíno, lanígero e caprino, com uma abundante produção de ovos, leite, queijo e manteiga. Na região da Baixa de Kassangue, havia a maior zona de produção de algodão, com a fábrica da Cotonang, que transformava o algodão, para além de produzir, óleo de soja, sabão e bagaço. Na região de Moçâmedes (actual Namibe), nas localidades do Tombwa, Lucira e Bentiaba, havia grandes extensões de salga de peixe onde se produzia, também enormes quantidades de “farinha de peixe”, exportada para a China e o Japão. Já este ano, o Governo da Zâmbia estava a equacionar a venda a Angola de 20.000 toneladas de milho das suas reservas, conforme pedido feito nos últimos dias de Abril pelo executivo de sua majestade José Eduardo dos Santos. Um país rico gerido por criminosos só podia, só pode, dar nisto. O assunto foi então abordado entre a embaixadora angolana na Zâmbia, Balbina Dias da Silva, e a ministra da Agricultura daquele país, Dora Siliya, com Angola a transmitir o pedido para disponibilização des-
ta quantidade de milho “no menor tempo possível”. A governante zambiana, que recebeu igual pedido da também vizinha República Democrática do Congo, neste caso para venda de 100.000 toneladas, não se comprometeu com a disponibilização das quantidades pretendidas, por a prioridade ser a exportação de farinha, para fomentar a produção local, mantendo-se a proibição de exportação de milho pelo país. “Quando a casa do seu vizinho está a arder, significa que até a sua casa é mais propensa a arder também”, disse a ministra Dora Siliya, citada pela imprensa zambiana. As necessidades angolanas em termos de milho ascendam este ano a 5,5 milhões de toneladas, para consumo humano e ração animal, mas cerca de metade desta quantidade ainda é importada. O Governo angolano lançou em Janeiro de 2016 um programa que visava dinamizar a produção nacional e diversificação além do petróleo, para travar as importações e aumentar as exportações, gerando outras fontes de divisas, sendo a agricultura a principal aposta. No dia 25 de Fevereiro foi noticiado que um empresário chinês pretendia investir, em conjunto com um grupo angolano, quase três milhões de euros para produzir milho na província de Benguela, criando 130 postos de trabalho. O contrato em causa foi aprovado por despacho do Ministério da Agricultura a 27 de Janeiro e envolveu a empresa angolana Ovaxing, que vende 49% do seu capital social ao empresário chinês Deng Xingwu, que também assegurará uma parte do novo investimento. Mais de dois milhões de famílias angolanas vivem da agricultura, sector que emprega no país 2,4 milhões de pessoas e que conta com 13.000 explorações empresariais, segundo dados governamentais.