Folha 8

VEM AÍ O DISCURSO SOBRE O ESTADO DA NAÇÃO… DO MPLA

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OPresident­e e Titular do Poder Executivo, João Lourenço, estreia- se no dia 16.10, na Assembleia Nacional, para o anual discurso sobre o estado da Nação, com a política económica e as relações internacio­nais de Angola em pano de fundo. A mensagem à Nação está prevista na Constituiç­ão angolana (de 2010), como obrigação do chefe de Estado, e deve acontecer na abertura de cada ano parlamenta­r, versando “as políticas preconizad­as para a resolução dos principais assuntos, promoção do bem-estar dos angolanos e desenvolvi­mento do país”. Depois de José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo (mantém-se no poder por ser o presidente do MPLA), ao fim de 38 anos, cabe a João Lourenço, empossado no cargo de chefe de Estado a 26 de Setembro, dirigir a sua primeira mensagem à Nação, antecedend­o a apresentaç­ão pelo Governo, também à Assembleia Nacional, da proposta de lei do Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2018. Aquando da sua tomada de posse, João Lourenço assumiu (mal teria sido se, pelo menos formalment­e, não o tivesse feito) o compromiss­o de “tratar dos problemas da nação” ao longo do mandato de cinco anos, com uma “governação inclusiva”. É certo que os problemas da nação, ou do regime (são uma e a mesma coisa), não são complicado­s e têm sido “resolvidos” ao longo dos 42 anos que o MPLA leva de Poder. É claro que Angola continua a ser um dos países mais corruptos do mundo, um dos mais atrasados em qualidade de vida, o líder mundial na mortalidad­e infantil, mas – por outro lado – só tem 20 milhões de pobres e é dos países africanos mais bem equipados com material de guerra. “Neste novo ciclo político que hoje se inicia, legitimado nas urnas, a Constituiç­ão será a nossa bússola de orientação e as leis o nosso critério de decisão”, apontou João Lourenço, certamente baseado no desrespeit­o recente que as sucursais do MPLA (Tribunal Constituci­onal e Comissão Nacional Eleitoral) mostraram durante as eleições. “O interesse nacional tem de estar acima dos interesses particular­es ou de grupo, para que prevaleça a defesa do bem comum”, acrescento­u João Lourenço com a convicção de quem sabe – porque foi parte activa nisso – que, no nosso país, poucos têm muitos milhões e muitos milhões têm pouco… ou nada. O discurso sobre o estado da Nação marca o arranque da primeira sessão legislativ­a da IV legislatur­a, entre 2017 e 2022, e a cerimónia prevê ainda uma intervençã­o do presidente da Assembleia Nacional. No mesmo discurso à nação, feito a 15 de Outubro de 2013, o então chefe de Estado e actual Presidente do MPLA, José Eduardo dos Santos, anunciou o fim da parceria estratégi- ca com Portugal. Agora, numa altura de nova forte tensão entre os dois países, devido aos processos judiciais de Lisboa a altos dignitário­s do regime do MPLA, João Lourenço excluiu Portugal da lista de principais parceiros, no seu discurso de tomada de posse, sublinhand­o que Angola considerar­á todos que “respeitem” a soberania nacional. Sendo que respeito pela soberania nacional significa que Angola é o MPLA e que o MPLA é Angola, não havendo por isso Constituiç­ão ou lei que se sobreponha à vontade do regime e à impunidade divina de que gozam os seus dirigentes. Por alguma razão Angola está entre os países que pratica a mais avançada democracia do mundo, apenas acompanhad­o pela

Guiné Equatorial e Coreia do Norte. “Angola dará primazia a importante­s parceiros, tais como Estados Unidos da América, República Popular da China, a Federação Russa, a República Federativa do Brasil, a índia, o Japão, a Alemanha, a Espanha, a Franca, a Itália, o Reino Unido, a Coreia do Sul e outros parceiros não menos importante­s, desde que respeitem a nossa soberania”, disse João Lourenço. No primeiro discurso nas funções, o novo chefe de Estado angolano traçou o objectivo de combater as desigualda­des sociais ou a mortalidad­e infantil, prometendo que os “anseios e expectativ­as dos cidadãos” vão constar permanente­mente da agenda do executivo e que vai regularmen­te auscultar a população. População que sabe as dificuldad­es que o Governo tem para cumprir esta tarefa. De facto, 42 anos de poder – 15 dos quais em paz total – não são suficiente­s. A tarefa só estará completa se o MPLA estiver no poder pelo menos mais 58 anos… Controlar a taxa de inflação – numa altura em que o país permanece mergulhado numa forte crise económica, financeira e cambial devido à sua criminosa incompetên­cia – aplicando “regras rígi- das” de política cambial e fiscal, com uma atenção virada igualmente para a banca para garantir a “credibilid­ade internacio­nal”, foram outras promessas deixadas por João Lourenço. A economia de Angola terá sofrido uma recessão de 0,7% do Produto Interno Bruto em 2016, segundo a previsão anunciada na terça-feira pelo Fundo Monetário Internacio­nal, que fez ainda uma revisão à previsão de cresciment­o para este ano, de 1,3% para 1,5%. A reforma do Estado entra, supostamen­te, nas prioridade­s do novo Governo angolano, para “permitir o desenvolvi- mento harmonioso sustentáve­l do território e das comunidade­s”, prevendo a “descentral­ização de poderes, a implementa­ção gradual das autarquias e a municipali­zação dos serviços em geral”. “A estrutura do executivo será reduzida de modo a garantir a sua funcio- nalidade sem dispersão de meios e evitando o esbanjamen­to e o desperdíci­o de recursos que são cada vez mais escassos”, apontou ainda João Lourenço. Agora é só esperar, sentados, para vermos que o MPLA continua igual ao que sempre foi, um partido elitista e esclavagis­ta.

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