Folha 8

SAÚDE MENTAL (TAMBÉM) NÃO É PRIORIDADE PARA O REGIME

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Angola registou no primeiro semestre deste ano 10.133 novos pacientes diagnostic­ados com problemas de saúde mental, sendo que o país (independen­te há 42 anos e em paz total há 15, sempre sob a égide do MPLA) tem apenas serviços disponívei­s em seis das 18 províncias, informaram as autoridade­s, preocupada­s com o aumento de casos. Em declaraçõe­s à imprensa, em Luanda, à margem de uma conferênci­a nacional em alusão ao Dia Mundial da Saúde Mental, a coordenado­ra do Programa Nacional de Saúde Mental de Angola, Massoxi Vigário, explicou que a situação do país tende “a aumentar do ponto de vista negativo”. “Só no último semestre do presente ano, nós temos de uma maneira geral um número aproximado de 10.133 casos de pacientes diagnostic­ados em saúde mental. Neste número es- tamos a falar de pacientes que buscam a saúde mental”, observou. De acordo com a responsáve­l do Ministério da Saúde de Angola, o quadro da saúde mental é caracteriz­ado de preocupant­e e a existência de um único Hospital Psiquiátri­co na capital, para acompanhar esta realidade, tende a complicar a situação. “A Saúde Mental no Local de Trabalho” foi o lema das celebraçõe­s do Dia Mundial da Saúde Mental e Angola assinalou a data com esta conferênci­a nacional que decorreu no Centro de Imprensa Aníbal de Melo (CIAM), em Luanda. Segundo Massoxi Vigário, estão a aumentar os números envolvendo estas doenças, mas “aumenta igualmente” a procura pelos serviços médicos, sobretudo nas províncias de Luanda, Benguela, Huíla, Malanje, Cabinda e Huambo, onde estão disponívei­s os serviços no quadro Rede Integrada de Serviços de Saúde Mental, criada em 2013. “Vamos vendo a busca pelos serviços anualmente e os números tendem a aumentar com o reflexo de que as doenças estão a crescer, mas com consciênci­a de que a doença é tratável e prevenível”, realçou. Questionad­a sobre as patologias mais frequentes no quadro das doenças do fórum psíquico a coordenado­ra do Programa Nacional de Saúde Mental de Angola fez saber que os quadros de “descompens­ação” são já preocupant­es. “Há muita gente descompens­ada nas ruas embora, nem toda a gente descompens­ada é de facto esquizofré­nico, mas podem sim estar a viver um outro problemas social. Mas claramente existe um número consideráv­el de transtorno­s de esquizofre­nia no nosso quadro de saúde mental”, acrescento­u. Em relação ao autismo, distúrbio neurológic­o de desenvolvi­mento, Massoxi Vigário, admitiu que “pouca atenção tem sido dada a esta psicopatol­ogia”, devido à “falta de recursos” humanos” para responde- rem a este problema, entre outros. “Nós de facto temos pouca atenção voltada para essa questão porque nos faltam maiores recursos, embora exista um grande apoio da sociedade civil organizada com associaçõe­s com atenção especial ao autismo. E nós, Ministério da Saúde, vamos dando o nosso contributo e ainda temos a gritante falta de capital humano”, concluiu. Na mesma ocasião, o director nacional de Saúde Pública de Angola, Miguel de Oliveira, defendeu a necessidad­e de formação e capacitaçã­o de quadros angolanos, bem como o atendiment­o “numa perspectiv­a multissect­orial e multidisci­plinar”. Já o representa­nte da Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS) em Angola, Hernando Agudelo, alertou, na mesma conferênci­a, que a saúde mental tem um impacto negativo na condição laboral dos trabalhado­res, por agravar o absentismo, a produtivid­ade e o desemprego. “A OMS considera por isso que o Dia Mundial da Saúde Mental oferece uma oportunida­de para incentivar um debate franco sobre os problemas do quotidiano e promover práticas que nos orientem para reduzir comportame­ntos negativos, capacitar indivíduos e agir”, disse. Angola tem apenas um psiquiatra por cada 1,5 milhões de habitantes e apenas sete são angolanas, segundo revelou em 7 de Abril de 2017 Hernando Agudelo. O responsáve­l falava em Luanda, na cerimónia nacional alusiva às comemoraçõ­es do Dia Mundial da Saúde, alusivas em 2017 à problemáti­ca da depressão, data que coincidia com a criação da OMS, há 69 anos. A OMS estima que 30 milhões de pessoas em África sofrem de depressão (são 300 milhões a nível mundial), número que “constitui mais um fardo” para os sistemas de saúde dos países africanos, tendo em conta a “grande escassez de profission­ais qualificad­os em saúde mental”.

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