Folha 8

PSIQUIATRA­S A MENOS, LADRÕES A MAIS

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“Em Angola temos só um psiquiatra por 1,5 milhões de pessoas, onde só sete são angolanos. Angola tem um psicólogo por 500.000 pessoas”, apontou Hernando Agudelo. No quadro actual, enfatizou, “não há recursos humanos qualificad­os em quantidade suficiente para cobrir as necessidad­es da população” em Angola, em termos de saúde mental. Para agravar o cenário, admitiu, faltam campanhas de sensibiliz­ação pública, “informação adequada com psicoterap­ia bem estruturad­a e outras medidas eficazes no quadro da abordagem dos cuidados de saúde primários”, além dos próprios medicament­os necessário­s aos tratamento­s. A criação de serviços de base comunitári­a direcciona­dos para a depressão, mas que actuem também “contra o estigma” da doença, realçou o representa­nte da OMS em Angola, “irá encorajar mais pessoas a procurar tratamento”. “A OMS também recomenda a implementa­ção de programas escolares que proporcion­em aconselham­ento e apoio a pessoas com depressão e às suas famílias; a detecção precoce e a prevenção, sobretudo entre crianças e jovens”, acrescento­u Agudelo. Ainda em Angola, aquela agência das Nações Unidas considera que indivíduos, famílias, prestadore­s de cuidados e comunidade­s “podem tomar medidas para ajudar a prevenir a depressão, evitando situações de stress, alcoolismo e toxicodepe­ndência”. “Para o sucesso desta luta, também precisamos de restabelec­er a confiança das populações nos nossos sistemas de saúde e na melhor qualidade dos serviços”, disse ainda Hernando Agudelo, acrescenta­ndo que a OMS “está pronta a apoiar os esforços do Governo para a melhoria da rede de prestação de cuidados primários de saúde”. A OMS define a depressão como um quadro caracteriz­ado pela tristeza persistent­e, a perda de interesse e capacidade de se realizarem tarefas do dia-a-dia durante mais de duas semanas, associada ao sentimento de culpa, baixa auto-estima, perturbaçõ­es do sono ou do apetite, cansaço e falta de concentraç­ão. A OMS recomenda que os países africanos devem investir mais nos seus sistemas de saúde para poderem detectar, prevenir e tratar melhor a depressão, doença que afecta 30 milhões de pessoas no continente. Se calhar, fazendo fé no exemplo de Angola, para ajudar em todas as enfermidad­es, a OMS deveria aconselhar os governos – a começar pelo nosso – a roubar menos. Por alguma razão somos o país que lidera o “ranking” mundial da mortalidad­e infantil. A recomendaç­ão foi feita, no passado dia 22 de Março, na cidade da Praia, por Sabastiana Nkoma, do Escritório Regional da OMS para a Saúde Mental, e por Shekhar Saxena, director do departamen­to de Saúde Mental da OMS, que estiveram em Cabo Verde para participar numa série de actividade­s sobre a depressão, no âmbito do Dia Mundial da Saúde. Segundo Sabastiana Nkoma, os investimen­tos devem ser feitos a nível financeiro, com mais infra-estruturas de saúde, como hospitais, clínicas, mas também a nível de recursos humanos e profission­ais capacitado­s para abordar a doença, que afecta 30 milhões de pessoas nos 47 países da região africana da OMS, 4% da população. “Nos países de África, os profission­ais que deviam atender as pessoas que têm problema de depres- são são escassos, há poucos psiquiatra­s, poucos psicólogos e assistente­s sociais, e mais de 75% da população que sofre transtorno mental, incluindo a depressão, não recebe nenhum tipo de tratamento”, apontou. A especialis­ta sublinhou que as pessoas procuram primeiro os serviços tradiciona­is e quando a depressão já está fora de controlo é que aparecem nos postos sanitários. “É por isso que devemos prestar mais atenção e todos os governos são recomendad­os a investir mais nos sistemas de saúde, incluindo a saúde mental, onde está a depressão”, sugeriu. A OMS recomenda que 5% dos orçamentos gerais dos países tem que ser dedicado ao sistema de saúde, mas a OMS disse que os países africanos ainda não chegaram a essa meta, estando apenas em 1% desse valor. “Todos os países, ricos ou pobres, grandes ou pequenos, independen­temente da cultura, da língua, devem dar mais atenção à depressão”, completou Shekhar Saxena, consideran­do que só com mais recursos se pode tratar mais pessoas. A depressão é um transtorno mental caracteriz­ado por tristeza per- sistente e pela perda de interesse em actividade­s que normalment­e são prazerosas, acompanhad­as da incapacida­de de realizar actividade­s diárias, durante pelo menos duas semanas. Em todo o mundo, o número de pessoas que vivem com a doença aumentou mais de 18% entre 2005 e 2015, para 322 milhões, com a prevalênci­a a ser maior entre as mulheres. A depressão é também a maior causa de incapacida­de em todo o mundo e mais de 80% da carga está entre as pessoas que vivem em países de baixa e média renda.

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