Folha 8

A CRIMINOSA HIPOCRISIA DA ONU

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Angola (mais concretame­nte o regime) segunda-feira eleita para o Conselho de Direitos Humanos da ONU, no período entre 2018 e 2020. O Conselho de Direitos Humanos é, apenas formalment­e, o órgão criado pelos Estados-membros, tendo em vista reforçar a promoção e a protecção dos direitos humanos no mundo inteiro e substitui a Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas. A Comissão de Direitos Humanos podia orgulhar-se de muitas realizaçõe­s, em particular do estabeleci­mento de normas em matéria de direitos humanos. Mas muitas das caracterís­ticas do Conselho fazem dele um órgão (supostamen­te) ainda mais forte. Por exemplo, os membros da Comissão eram realmente escolhidos longe dos olhares do público e, depois, “eleitos” por aclamação. Pelo contrário, os membros do Conselho têm (isto é como quem diz!) de competir por assentos e os candidatos bem sucedidos precisaram de conseguir o apoio da maioria dos Estados-membros, numa votação (supostamen­te) secreta. A resolução que criou o Conselho também salienta a importânci­a de acabar com a prática de dois pesos e duas medidas, um problema que muito prejudicou a Comissão. Assim, o Conselho tem (supostamen­te) um mecanismo periódico de análise que lhe dará – e também ao mundo – a oportunida­de de examinar a actuação de todos os 191 Estados-membros das Nações Unidas. Ao contrário do que acontecia antes, nenhum país poderá escapar a esse exame. Isto promete – se fosse para levar a sério – ser um instrument­o muito forte para os defensores dos direitos humanos, a nível mundial. O Conselho de Direitos Humanos é um órgão subsidiári­o da Assembleia Geral. Isto faz com que tenha de (mais uma vez… supostamen­te) prestar contas directamen­te a todos os membros da Assembleia Geral. Não se trata, contudo, de uma estreia: Angola já integrou o Conselho de Direitos Humanos (CDH) entre 2007 e 2010 e fez também parte do órgão que o antecedeu, a Comissão de Direitos Humanos. Desta vez, obteve 187 em 193 votos (o número total de Estados membros da Assembleia-geral da ONU), tendo a Nigéria (185 votos), o Senegal (188 votos) e a República Democrátic­a do Congo (151 votos) sido eleitos para os outros três lugares reservados ao continente africano, sendo a maioria exigida de 97 votos. Ao todo, a Assembleia-geral da ONU preencheu 15 lugares do CDH, que tem um total de 47 membros e sede em Genebra. Esses lugares, para os quais os países foram “eleitos” por três anos, a partir de Janeiro de 2018, estão geografica­mente distribuíd­os da seguinte forma: quatro para África, quatro para a Ásia-pacífico, dois para a Europa Oriental, três para a América Latina e dois para outros Estados. Além dos quatro países africanos, os outros membros da Assembleia-geral eleitos foram: Afeganistã­o, Austrália, Chile, Eslováquia, Espanha, México, Nepal, Paquistão, Peru, Qatar e Ucrânia. A eleição da República Democrátic­a do Congo (RDCongo) para o órgão da ONU, suscitou forte oposição dos Estados Unidos da América e de organizaçõ­es não-governamen­tais (ONG) que criticam os números do país nessa matéria. Mas como a ONU é cada vez mais um bordel… vale tudo. “É um insulto às muitas vítimas de abusos cometidos pelo Governo congolês em todo o país”, condenou, em comunicado, a ONG Human Rights Watch. “As forças de segurança governamen­tais são acusadas de serem responsáve­is pela maior parte da violência na região do Kasai, e perto de 90 valas comuns foram encontrada­s, mostrando que a RDCON- go não merece um lugar” neste Conselho, defendeu o director do HRW em Nova Iorque, Louis Charbonnea­u. Hillel Neuer, director executivo do observatór­io da ONU sediado em Genebra, disse que quando a ONU elege três países como a Rdcongo, o Qatar e o Paquistão “como juízes mundiais dos direitos humanos é como fazer de um pirómano o chefe dos bombeiros municipais”. Angola não anda muito longe desta definição. Em Julho, os EUA tinham criticado fortemente os países africanos que apoiaram a candidatur­a da Rdcongo àquele órgão, afirmando que tal inflamaria mais ainda o conflito no país. “Quando países do grupo de África apresentam a candidatur­a de um país como a República Democrátic­a do Congo para que se torne membro do Conselho de Direitos Humanos, isso não enfraquece só esta instituiçã­o, mas alimenta também o conflito que provoca tanto sofrimento nesse continente”, sustentou, na altura, a embaixador­a dos EUA na ONU, Nikki Haley, instando a que fossem propostos “candidatos credíveis”. O CDH está a investigar as atrocidade­s cometidas na Rdcongo pelas Forças Armadas e por milícias na região do Kasai. Nikki Haley, que regressará em breve a Kinshasa, considerou o apoio à candidatur­a da Rdcongo “uma falha imperdoáve­l” na promoção dos direitos humanos nos países africanos e alertou que os EUA poderão abandonar o CDH se este continuar a eleger países violadores. No ano passado, a eleição da Arábia Saudita e da China para o CDH, apesar das provas de violações dos direitos humanos, suscitou igualmente fortes críticas.

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