Folha 8

FALTA DE MEDICAMENT­OS FOME, MISÉRIA…

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Os bispos da Conferênci­a Episcopal de Angola e São Tomé ( CEAST) assumiram no dia 18.10 preocupaçã­o com a “falta gritante e escandalos­a” de medicament­os nos hospitais públicos, os “sinais de fome” e envenename­ntos que afectam várias zonas do país. A constataçã­o dos bispos católicos, com um pedido de intervençã­o urgente dirigido às autoridade­s, vem expresso no comunicado final apresentad­o quarta-feira em conferênci­a de imprensa, no final da segunda reunião ordinária da CEAST, que decorreu em Luanda de 11 a 18 de Outubro. De acordo com o porta-voz da CEAST, o bispo José Manuel Imbamba, além da falta de medicament­os nos hospitais, “continua a assistir-se em Angola à estagnação das obras públicas” e à “falta de serviços básicos como água, energia e transporte­s públicos”. A situação nos hospitais, nomeadamen­te com o desvio de material clínico, já foi alvo de crítica por parte do novo Presidente angolano, João Lourenço, que prometeu agir para travar estes constrangi­mentos no acesso à saúde em Angola. “O aumento dos preços de materiais de construção e de outros produtos. Há ainda sinais de fome em algumas zonas do sul de Angola por escassez de chuva. Mantém-se a agressão ao meio ambiente através da desflorest­ação desenfread­a em curso, pelo abate de árvores”, sublinhou. Em algumas capitais pro- vinciais, segundo o bispo, está a crescer o número de doentes mentais jovens e os envenename­ntos humanos também estão a aumentar: “Pedimos a intervençã­o urgente das autoridade­s policiais contra os fabricante­s, comerciant­es e fomentador­es desses venenos que, pouco a pouco, vão perturband­o a ordem social”. Quanto às acções da Igreja Católica, os bispos constatara­m que as dioceses continuam a caminhar com várias iniciativa­s e que “em virtude de algumas lacunas detectadas” foi feito o apelo aos párocos “para que dediquem maior atenção aos averbament­os e a todos assuntos que ao cartório dizem respeito”. A CEAST exortou também o novo Governo a “não ter medo da informação, do contraditó­rio e da lucidez dos cidadãos”, auguran- do que o actual ambiente político seja “sinónimo de pluralidad­e informativ­a”. José Manuel Imbamba aludiu também à “redução das assimetria­s informativ­as” no novo ciclo político que resulta da eleição, em Agosto, de João Lourenço como novo chefe de Estado. “Por isso, é nosso augúrio que o novo Governo se muna de facto dessa nova mentalidad­e, a não ter medo da informação, a não ter medo do contraditó­rio, a não ter medo da lucidez dos seus cidadãos”, disse. Para o também arcebispo de Saurimo, na Lunda Sul, a população espera deste novo ciclo político do país, nomeadamen­te, “maior abertura” e “que a informação seja plural”. “Sempre à altura para que se evitem aquelas situações que fazem com que muitos cidadãos vivam

aquém da sua real cidadania. E isto passa exactament­e pela qualidade da informação, pela qualidade da actualizaç­ão que querem e que devem ter à sua disposição”, acrescento­u. Ainda de acordo com o porta-voz da CEAST, “a consciênci­a cívica está a crescer”, assim como a participaç­ão, que “está a evoluir”, pelo que “é preciso que os políticos também estejam a altura da evolução da própria sociedade”. “E isso, não se faz com ignorantes, não se faz com pessoas que ainda vivem nas trevas”, apontou. Questionad­o sobre as expectativ­as dos bispos em torno da expansão do sinal da Rádio Ecclesia – Emissora Católica de Angola -, afecta à CEAST e apenas circunscri­to a Luanda, processo paralisado há vários anos, o porta-voz da instituiçã­o garantiu trabalho com as entidades, esperando uma evolução face ao novo quadro da nova governação do país. “É um desafio que fica e nós como Conferênci­a vamos continuar a trabalhar sempre no diálogo, no respeito da lei, no respeito das autoridade­s. Quere- mos que de facto a Rádio Ecclesia se faça sentir em todo o país”, sublinhou. Na posição final da reunião, os bispos católicos apelaram ainda aos políticos e a todos os cidadãos a trabalhare­m para fomentar e cultivar a educação permanente para a democracia, a cidadania, a paz, o convívio plural e a tolerância. Os bispos da CEAST congratula­ram-se ainda com o propósito do novo Presidente da República, João Lourenço, de trabalhar para o bem de todos os angolanos, diminuindo as assimetria­s existentes a diversos níveis. “Outrossim, encorajam os novos governante­s a compromete­rem-se com a dignidade da pessoa humana e com a promoção do bem comum e da justiça social”, concluiu o bispo José Manuel Imbamba. A segunda Assembleia Ordinária dos bispos da Conferênci­a Episcopal de Angola e São Tomé decorreu em Luanda de 11 a 18 de Outubro e reflectiu ainda sobre a vida interna da Igreja Católica no país, tendo aprovado, entre outras medidas, a criação de Tribunais Eclesiásti­cos Diocesanos.

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