À ESPERA DO CRESCIMENTO ECONÓMICO
A preocupação actual do FMI mantém-se à volta da necessidade de relançar o crescimento económico angolano “de uma maneira duradoura para os próximos anos”, além de baixar a inflação mensal dos actuais 2% a 2,5% ao mês para “níveis mais aceitáveis”, bem como sobre “como continuar a reforçar o sistema bancá- rio e financeiro do país”, explicou o economista. Para Ricardo Velloso, a retirada de circulação de moeda nacional que o BNA tem vindo a realizar é uma das medidas positivas, por ter repercussões também ao nível do corte nas taxas de câmbio no mercado paralelo, que permanecem quase três vezes acima do valor oficial. “É uma medida muito importante, que ajuda no controlo da inflação e ajuda a reduzir o diferencial entre a taxa de câmbio do mercado de rua e a taxa oficial”, destacou o chefe da missão do FMI. O então Presidente José Eduardo dos Santos anunciou a 3 de Fevereiro um “novo programa ma- croeconómico executivo”, cuja estratégia “visa atacar com prioridade a inflação, para a reduzir de modo significativo”, bem como a “diversificação e o aumento das exportações e das receitas fiscais”. No meio de sinais divergentes, a única certeza é a de que Angola se encontra numa situação de estagflação. Este termo designa uma situação de inflação, a que se junta a estagnação. É das piores situações em que uma economia se pode encontrar, porque exige medidas contraditórias, combatendo a inflação através da redução (como está a acontecer) do dinheiro em circulação e aumento das taxas
de juro e, pois é, enfrentando a estagnação com o inverso: aumento do dinheiro em circulação e a diminuição das taxas de juro. Rui verde explica de forma lapidar o que se passa: “Imagine-se um doente a morrer que está simultaneamente com a tensão arterial elevada e com uma hemorragia. Para baixar a tensão temos de usar um medicamento que facilita a circulação do sangue, tornando-o mais fino; mas para parar a hemorragia temos de usar outro remédio que torne o sangue mais grosso e parado. Tratar uma doença implica piorar a outra.” Se não era líquido que Eduardo dos Santos soubesse exactamente o que isto é, João Lourenço tem a seu favor, por enquanto, algum benefício da dúvida. Por norma, os “especialistas” de Eduardo dos Santos diziam o que ele queria ouvir, sabendo que o ex-presidente preferia ser assassinado pelo elogio falso do que salvo pela verdade. Como será com João Lourenço? E, pelos vistos, era essa verdade – na totalidade ou em parte – que o FMI apresentou no seu diagnóstico. Mas como o então Presidente era alérgico a qualquer verdade que não fosse fabricada pelos seus acólitos, optou por correr com os mensageiros sem sequer cuidar de saber o que dizia a mensagem. Assim sendo, vamos continuar a olhar para o meteórico crescimento da inflação. Ao mesmo tempo vamos assistir à quebra assinalável dos já parcos rendimentos dos angolanos, sendo que o regime acredita que com alguma habilidade o povo acabará por aprender a viver sem… comer.